O Ceará passou quase 10 anos de jejum até ter um
novo hospital público estadual
A saúde cearense
ganhou corpo, pegou carona na megalomania positiva do governador Cid Gomes e
sua equipe. Talvez a vaidade que lhe é própria, aliada a um bom senso e a bom
julgamento político, tenha-lhe feito impulsionar área esquecida nos últimos
governos. O Ceará passou quase 10 anos de jejum até ter um novo hospital
público estadual. Quebrado o jejum, Cid foi responsável pela construção de três
novos hospitais no interior do estado, na tentativa de não tardar o atendimento
e acalmar os leitos da capital. No entanto, a baixa capacidade de ouvir
estagnou, por exemplo, um movimento popular autêntico, tecnicamente bem
embasado, da Universidade Estadual do Ceará, que tentou atrair para seu campus
o prometido Hospital Metropolitano, que aguarda até hoje autorização para ser
construído. Se fosse nas terras do Itaperi, certamente já estaria sendo útil à
população do estado.
As policlínicas
foram fruto da incontestável falta de especialistas para drenar a demanda da
atenção básica, evitando as esperas de meses. Apesar do modelo de contração dos
profissionais não oferecer estabilidade, e oferecer baixos salários, as
policlínicas dão vazão a um dos principais obstáculos dos postos de saúde; mas
ainda falta integração, contra-referência, suporte hospitalar e descentralização.
As UPAs, pegando
carona em um modelo de atenção em urgências e emergências do Governo Federal,
já têm mais de 2 milhões de atendimentos, poupando unidades complexas de
receberem pacientes com agravos simples. O grande problema, no entanto, é o
ímpeto pelo número de atendimentos, retirando da responsabilidade da atenção
básica boa parte do perfil de atendimento. Além disso, não houve expansão
suficiente do Samu e de leitos hospitalares, tidos como indispensáveis a boa
parte dos que precisam das UPAs.
Por fim, de
concreto no prontuário do governador, constam as idas ao Hospital Geral de
Fortaleza, aclamando-o como a maior e mais complexa unidade da rede. No
entanto, ao que parece, faz-se vista grossa às dimensões e necessidades do
hospital, dilapidando orçamentos, coibindo expansões, tangendo obras a passos
pétreos; em nome de um banho de loja que, ainda assim, não aparece nos
noticiários da tarde. De herança, é que o próximo governador ouça, veja e sinta
melhor; que se inspire nos bons sinais vitais, que tema as efemeridades; que
bem evolua, conduza e prescreva as conquistas de Cid.
(*) Médico residente de Neurologia – Hospital Geral de Fortaleza.
Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 18/12/2014. p.11.
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