Por Ricardo
Alcântara (*)
Em política,
nada é fortuito e nenhum gesto é gratuito. Tudo tem significado, mesmo
irrelevante, mas tem. Tem, portanto, significado, o perfil da equipe indicada
pelo governador eleito Camilo Santana para compor sua equipe de transição.
São, todas
elas, pessoas de fortes vínculos com o governo atual, à exceção de Eudoro
Santana, posto ali por sua condição excepcional de pai e, político experiente,
também o conselheiro mais próximo do eleito. Mas há algo de anormal nisso?
Governo de
continuidade, a composição não carece de defesa: Danilo (chefia de Gabinete),
Mauro (Fazenda) e Eduardo (Planejamento) têm intimidade com a máquina. Izolda
Cela é sua vice e será membro ativo da nova gestão. Até aí, tudo bem.
Porém – e o
significado deste “porém” não se sabe ainda com toda clareza – é digno de nota
a ausência de um membro, unzinho só, do partido de filiação do eleito. Se for
recado, foi bem dado. E os destinatários assinaram o protocolo de recebimento.
Pode haver, no
recado, menos política e mais pragmatismo: Camilo é, de fato, como Izolda o é,
identificado com o estilo de gestão do atual governador. Trata-se de algo que
atravessa sem cerimônia os parâmetros partidários: trata-se de afinidade.
Não existe
substância alguma na expressão “jeito petista de governar”. Talvez o slogan
queira dizer algo sobre participação popular, mas isso nem sempre ocorre e as
alianças cada vez mais amplas também diluíram a identidade partidária.
O partido de
Camilo, PT, não tem, para a ele oferecer, um parâmetro diferenciado,
programático ou de método, que possa prevalecer sobre as afinidades de
perspectiva, a visão comum do conjunto, entre os dois governadores, efetivo e
eleito.
Em oito anos
de hospedagem governista, o PT em nenhum momento acentuou um traço diferencial
ou expressou qualquer ressalva à condução dada. Agiu como se houvesse integral
comunhão de propósitos. Logo, não tem agora do que se queixar.
Sem nunca ter
pontuado suas prováveis, a reivindicação de assento manifesta mais desejo de
aproveitar a festa do que de participar do espetáculo. É este, o PT que se tem
aí: novo porque recente, mas velho na sua adaptação aos costumes de sempre.
Contudo, uma
indicação do partido era previsível, mesmo se motivada apenas por cuidados
reverenciais. O gesto, ou a ausência dele, demarca uma autonomia do eleito.
Difícil acreditar no contrário: desprestigia-se intencionalmente.
O PT ocupará
cargos. Será ouvido (uns mais, outros menos, como sempre). Mas terá de conviver
com um arranjo incomum: ter, no governador, filiado seu, alguém mais
identificado com o campo de composição e menos com sua própria sigla.
Normal.
Ninguém esperava mesmo que fosse muito diferente.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In:
Pauta Livre.
Pauta Livre
é cão
sem dono. Se gostou, passe adiante.
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