Por Sânzio de Azevedo (*)
Luís Tibúrcio de Freitas nasceu no Ceará,
não se sabe se em Cascavel ou em Baturité, em data ignorada
Tendo
visto, no Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro (1952), de Andrade
Muricy, alusão ao romance Fretana, de Carlos D. Fernandes (1875-1942), poeta e
jornalista paraibano que viveu no Rio, e sabendo haver nele dados sobre o
Simbolismo, procurei-o pelos sebos da ex-Capital, até encontrá-lo. Publicado em
1936, é curioso observar que esse livro, que fala entre outras coisas da morte
de Cruz e Sousa, apresenta o autor-narrador como Frederico Pestana (daí o nome
Fretana), mas todos os demais personagens, todos reais, surgem com seus nomes
verdadeiros, como Felinto de Almeida, Júlio César da Silva, José do Patrocínio
e, naturalmente, Cruz e Sousa e outros.
O
narrador é apresentado ao poeta dos Broquéis por um colega dos Correios,
Tibúrcio de Freitas. O quarto onde moram três amigos é chamado de “O Antro”, e
esses amigos eram o desenhista Maurício Jubim (que ilustrou livros
simbolistas), Carlos D. Fernandes e Tibúrcio de Freitas, o cearense que, na
Padaria Espiritual, em 1892, tinha o “nome de Guerra” Lúcio Jaguar.
Cruz e
Sousa encontra-se com os amigos na rua do Ouvidor, em frente ao Jornal do
Comércio, mas sempre vai ao quarto aludido, onde lê seus poemas recentes. Diz o
narrador que todos o ouviam silenciosamente, mas acrescenta: “Apenas o Tibúrcio
se permitia a liberdade de sugerir substituições no emaranhado daqueles
lavores. Tendo em grande conta e maior estima a sutileza crítica do seu
confidencial amigo, Cruz aceitava e cumpria os reparos, com a mais agradecida
naturalidade.”
É
curioso esse depoimento pelo fato de Tibúrcio de Freitas, que não deixou livro
e pouco escreveu n’O Pão, órgão da Padaria Espiritual, não ser dos “padeiros”
mais destacados.
Luís
Tibúrcio de Freitas nasceu no Ceará, não se sabe se em Cascavel ou em Baturité,
em data ignorada, e veio a falecer no Rio de Janeiro, no dia 8 de abril de
1918.
Para que
fique aqui ao menos um trecho da prosa de Tibúrcio de Freitas, abro o nº 3 d’O
Pão, de 30 de outubro de 1892 (numerado como 2), e reproduzo trecho de seu
artigo “O Parque da Liberdade”:
“A sensação que
se tem indo ao Parque não é lá muito aperitiva e refrigerante, não. Seria o
mesmo que sentiríamos se atravessássemos um pedaço de floresta devastada por um
incêndio. Vivem ali apenas os capins entouceirados, uma ou outra árvore de
decoração, as boas noutes solitárias, as parasitas e ervas maninhas de todos os
gêneros.”
E só...
(*) Doutor em Letras pela UFRJ. Professor aposentado da UFC. Membro da
Academia Cearense de Letras (ACL)
Fonte: Publicado In: O Povo, de 26/12/2017. Opinião. p.11.
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