Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
-
Nasrudin e a Peste -
A
Peste ia a caminho de Bagdá quando encontrou Nasrudin. Este perguntou-lhe: Aonde
vais?
A
Peste respondeu-lhe: Bagdá, matar dez mil pessoas.
Depois
de um tempo, a Peste voltou a encontrar-se com Nasrudin.
Muito
zangado, o mullah disse-lhe: Mentiste. Disseste que matarias dez mil pessoas e
mataste cem mil.
E
a Peste respondeu-lhe: Eu não menti, matei dez mil. O resto morreu de medo.
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Pandemídia é um
neologismo que criei há pouco para nomear o surto midiático/terrorista que hoje
assola a vida da maioria dos humanos. Há necessidade urgente de uma revisão da
maneira como a mídia e os políticos abordam o surto virótico, tornando-o
malévolo e assustador quando são distorcidas as ocorrências de contexto médico
ou sobre doenças infecciosas, medicina alternativa e curas milagrosas.
Esse efeito iatrogênico (iatrogenia [de iatro- + -genia],
substantivo feminino que exprime as alterações patológicas provocadas no
paciente por tratamento de (qualquer tipo) em certos momentos passa do
informativo para o aterrorizante.
Sei que os jornalistas gostam de dar notícias ruins por seu impacto
midiático. No caso, exageram as consequências de um surto gripal anual e normal
para torná-lo numa peste sempre fatal e sem cura. Ao mesmo tempo, a mídia
entrevista médicos e pesquisadores que são apresentados como “experts”. Um expert
é um homem que parou de pensar. Para quê pensar, se ele é um expert?
Tais experts fazem os maiores buchichos opinativos, com graves
consequências. Ademais, as estrelas jornalísticas pertencentes às “grandes mídias”
frequentemente distorcem os fatos e exibem uma visão assustadora, atendendo à
orientação dos proprietários da empresa midiática.
O temor produzido por essa maneira de inflacionar os riscos poderia ser
amainado por um diálogo apropriado entre o gerador da notícia (médico,
cientista ou pesquisador) e um exímio questionador. No entanto, um e outro
exageram os fatos, ressalvadas as exceções de praxe. Mas, vamos aos fatos.
Grande amigo meu, médico, foi convidado para dar uma entrevista à TV. Foi
à sala de espera, aguardar a hora de “entrar no ar” a ser indicada por seu
anfitrião-midiático. O assunto seria o uso ou não uso das máscaras, se o médico
era favor ou contra. Foi possível perceber de imediato que o entrevistador não
queria uma opinião médica, mas sim qual seriam as preferências políticas do
entrevistado.
A ignorância do entrevistador sobre o assunto era tão grande que ele
confundia a palavra Epidemia (doença geralmente infecciosa que ataca
simultaneamente um grande número de pessoas de determinada localidade e que tem
caráter transitório) com a palavra Pandemia, que significa doença vastamente
difundida pelo Planeta.
Em tempo, creio ser muito necessária a divulgação de informação honesta e
correta para que a população perca o medo de uma gripe grave, mas que não irá
destruir a humanidade nem é tão aterrorizante que possa paralisar as atividades
cotidianas dos indivíduos.
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES) e da
Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford
(Grã-Bretanha).
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