terça-feira, 11 de agosto de 2020

PANDEMÍDIA


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
- Nasrudin e a Peste -
A Peste ia a caminho de Bagdá quando encontrou Nasrudin. Este perguntou-lhe: Aonde vais?
A Peste respondeu-lhe: Bagdá, matar dez mil pessoas.
Depois de um tempo, a Peste voltou a encontrar-se com Nasrudin.
Muito zangado, o mullah disse-lhe: Mentiste. Disseste que matarias dez mil pessoas e mataste cem mil.
E a Peste respondeu-lhe: Eu não menti, matei dez mil. O resto morreu de medo.
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Pandemídia é um neologismo que criei há pouco para nomear o surto midiático/terrorista que hoje assola a vida da maioria dos humanos. Há necessidade urgente de uma revisão da maneira como a mídia e os políticos abordam o surto virótico, tornando-o malévolo e assustador quando são distorcidas as ocorrências de contexto médico ou sobre doenças infecciosas, medicina alternativa e curas milagrosas.
Esse efeito iatrogênico (iatrogenia [de iatro- + -genia], substantivo feminino que exprime as alterações patológicas provocadas no paciente por tratamento de (qualquer tipo) em certos momentos passa do informativo para o aterrorizante.
Sei que os jornalistas gostam de dar notícias ruins por seu impacto midiático. No caso, exageram as consequências de um surto gripal anual e normal para torná-lo numa peste sempre fatal e sem cura. Ao mesmo tempo, a mídia entrevista médicos e pesquisadores que são apresentados como “experts”. Um expert é um homem que parou de pensar. Para quê pensar, se ele é um expert?
Tais experts fazem os maiores buchichos opinativos, com graves consequências. Ademais, as estrelas jornalísticas pertencentes às “grandes mídias” frequentemente distorcem os fatos e exibem uma visão assustadora, atendendo à orientação dos proprietários da empresa midiática.
O temor produzido por essa maneira de inflacionar os riscos poderia ser amainado por um diálogo apropriado entre o gerador da notícia (médico, cientista ou pesquisador) e um exímio questionador. No entanto, um e outro exageram os fatos, ressalvadas as exceções de praxe. Mas, vamos aos fatos.
Grande amigo meu, médico, foi convidado para dar uma entrevista à TV. Foi à sala de espera, aguardar a hora de “entrar no ar” a ser indicada por seu anfitrião-midiático. O assunto seria o uso ou não uso das máscaras, se o médico era favor ou contra. Foi possível perceber de imediato que o entrevistador não queria uma opinião médica, mas sim qual seriam as preferências políticas do entrevistado.
A ignorância do entrevistador sobre o assunto era tão grande que ele confundia a palavra Epidemia (doença geralmente infecciosa que ataca simultaneamente um grande número de pessoas de determinada localidade e que tem caráter transitório) com a palavra Pandemia, que significa doença vastamente difundida pelo Planeta.
Em tempo, creio ser muito necessária a divulgação de informação honesta e correta para que a população perca o medo de uma gripe grave, mas que não irá destruir a humanidade nem é tão aterrorizante que possa paralisar as atividades cotidianas dos indivíduos.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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