Outubro Amarelo Queimado
É
muita categoria associar uma cor a um mês nas iniciativas de cuidados com a
saúde. Congratulações a quem pensou no Fevereiro Roxo do Alzheimer, no Abril
Azul do Autismo, no Junho Vermelho de incentivo à doação de sangue, no Agosto
Dourado da amamentação, no Setembro Verde da doação de órgãos, no Outubro Rosa
do câncer de mama, no Novembro Azul do Câncer de próstata.
Parabéns,
especialmente, ao genial Jota Crocodilo pelo discernimento de conceber a
campanha que dá título a estas mal traçadas: o Outubro Amarelo Queimado, dos
cuidados com a sovaqueira (pelo uso do limão galego, por mais desodorantes à
base de vinagre com areia grossa, pelo recurso da fé de que um dia a inhaca
passará). Algo referencial em qualquer certame científico.
Somado
ao Novembro Marrom (de defesa dos traídos) e ao Dezembro Cardão (de defesa do
jumento nosso irmão solto nas capoeiras da vida), temos aí um arco-íris de
possibilidades para a redenção da humanidade. Sobre o Março Alvinegro (de
combate ao pano branco e ao pano preto, ao cuspe grosso e ao cuspe fino, à
impingem em pescoço de doido e ao bicho de pé na mão), creio seja também uma
ideia que a OMS acolherá sem reservas.
Senão
desaparecerem os sintomas...
Moquinha
vivia acabrunhada, despombalizada. Perdera o marido ainda jovem e nunca mais um
homem na vida. Tentou combater a melancolia entranhada na alma com companhias
agradáveis, como a tia por parte de mãe, dona Ceiça, senhora de 90 anos e de
astral de quem está nos 20 e poucos anos - altíssimo astral. Por osmose, sabe
lá, tomaria emprestada a alegria que lhe faltava. Mas, nem tanto. O contato com
a feliz da vida dona Ceiça não foi a solução.
Certo
dia, na farmácia da esquina, Moquinha encontra uma amiga de longas datas, tipo
esculhambada, que ouviu os queixumes da viúva e, desvendando os mistérios por
trás de tanta tristeza, passou receita, segundo ela, milagreira, infalível para
esses casos de desânimo lascativo grave. Pediu que tomasse "bilau".
- Bilau? É pastilha? Comprimido ou supositório? É de chupar ou beber? - indagou Moquinha
cheia de dúvidas.
- Procure, e basta tomar uma vez
por semana!
- reiterou a colega presepeira.
A
mulher se animou. Na farmácia onde estava, pergunta da coisa, mas nada do
remédio nas prateleiras. Desiludida, já em casa, pede a uma sobrinha que
procure no Google o tal bilau. Nada de notícia do medicamento de nome estranho.
"Pois bota aí bilausina,
bilaulex, bilautiazida..."
Nada! Finda, Moquinha, por perguntar à nonagenária tia Ceiça onde achar o diabo
do bilau. Escolada...
- Enganchado na zona do agrião do macharal!
- É pra tomar diariamente? - indaga Moquinha ingênua.
- Aí tu te lasca. É efeito colateral pra mais de
metro!
Reconhecimento
Mostrei
a um primo - grande ledor da alma humana - foto minha em pose demais invocada
ao lado do dentista Dr. José, e ele asseverou sem rodeios:
- Pelo franzido da testa e o lepo-lepo da orelha, liberaste uma bufinha
na hora do clique.
- Como sabes?
- Pela bolota dos olhos do padre. E foi peido ariado! O pecado é ainda
maior!
Fonte: O POVO, de 4/10/2019.
Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos.
p.2.
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