sábado, 28 de agosto de 2021

ACADÊMICA LISE MARY ALVES DE LIMA: sensibilidade no corpo e na alma

 

Filha primogênita de Nilo Alves de Lima e Gesumira Gurgel Alves de Lima, Lise Mary Alves de Lima nasceu no município de Senador Pompeu-Ceará, em 9/06/1938. Possuía, apenas, um ano de idade quando teve poliomielite e, logo depois, seu pai fora transferido para Sobral, residindo na Princesa do Norte até os 14 anos, tendo cursado o primário e o ginasial no Ginásio Sant’Ana. Mudou-se para Fortaleza em 1953, terminando o curso científico no Colégio da Imaculada Conceição.

Em 1956, ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), graduando-se em 1961, recebendo medalha de ouro ao término ao Curso Médico, por seu rendimento acadêmico. Em conjunto com alguns colegas, inaugurou a residência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina.

Sua primeira fase de formação profissional, incluiu a referida residência em Clínica Médica, uma residência em Banco de Sangue no Hospital dos Servidores do Estado (HSE – 1964-1965) e uma Pós-Graduação em Imunologia na Faculdade de Ciências Biológicas (1965), sendo as duas últimas no Rio de Janeiro.

Regressando à Fortaleza, para assumir as chefias dos bancos de sangue do Hospital das Clínicas e da Maternidade Escola Assis Chateaubriand da UFC, pós-graduou-se, nesse meio tempo, obtendo o título de especialista em Hemoterapia.

Posteriormente, uma antiga professora, Maria da Piedade C. Vergne, a convidou a ingressar na Universidade de Brasília (UnB). Aceitando o convite, fora admitida em maio de 1968. Além das atribuições de ensino e pesquisa, dirigiu também o Banco de Sangue da Unidade Integrada de Saúde de Sobradinho (UISS), a qual era à época, o hospital universitário.

Em 1971, foi aceita pelo Professor Robert Waitz, para uma residência em Imuno-hemoterapia, no Centre de Transfusion Sanguine da Universidade de Estrasburgo, França. Nesse ínterim, desligou-se da Universidade de Brasília em 1973, sendo posteriormente reintegrada, em dezembro de 1994, por meio da concessão de anistia, a qual fora confirmada pela Constituição Federal de 1988.

No mesmo ano, em 1973, através de concurso público, foi admitida no Hospital dos Servidores da União – HSU (IPASE), como hemoterapeuta, ressaltando-se ter exercido o cargo de chefia junto ao referido hospital, até o ano de 1981.

No Brasil, começava-se a realizar transplantes, porém, apenas em Curitiba existia laboratório de tipagem leucocitária. Assim, ainda em 1973, fora solicitado à Dra. Lise Mary, através da diretoria do HSE — Hospital dos Servidores do Estado no Rio de Janeiro —, que procedesse a construção de um laboratório igual. Desta feita, passou um mês, no referido hospital, viabilizando tal pedido e, ainda, realizando o que seria o primeiro transplante medular, em conjunto e sob supervisão, do Professor Stastny da Universidade de Dallas (EUA).

Nesse período de espera, — enquanto era construído o laboratório — aproveitou de maio a julho de 1974, para realizar um estágio em Imunologia de Leucócitos e Plaquetas no Institut des Recherches sur les Maladies du Sang, Hôpital Saint Louis, Paris-França. Esse instituto, conhecido também, como France Tansplants, era dirigido pelo Professor Jean Dausset que em 1980 foi aquinhoado com o Prêmio Nobel de Medicina. Dra. Lise Mary detinha a honra de ter sido a primeira estagiária brasileira do Dr. Dausset, assim como de ser sua amiga. Fato este que, ao retornar à Brasília, resultou na realização de vários feitos, e.g. 80 tipagens leucocitária de indivíduos da região, as quais possibilitaram que fossem realizados transplantes, utilizando-se, quase sempre, os antissoros detectados em serviço. Conquistas estas que a permitiram compartilhar experiências junto a diversos laboratórios, de diferentes estados.

Entre 1980 e 1989, foram solicitados seus serviços em vários órgãos governamentais, como Comissão Nacional de Residência Médica; Grupo Técnico de Coordenação e Implantação do PROSANGUE, como representante do MPAS; Gerência de Sistemas Integrados de Alta Tecnologia do INAMPS etc. Esse período era considerado por Dra. Lise Mary como o melhor de sua vida profissional.

Em 1976, mediante aprovação em concurso público, trabalhou junto à Fundação Hospitalar do Distrito Federal, lotada no Banco de Sangue do Hospital de Base, perdurando até 1997, quando aposentou-se por invalidez.

Em 1990, fora convidada pelo Prof. Dr. Paulo Eduardo de Abreu Machado a fazer o doutorado na Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), em Botucatu-SP, e auxiliá-lo na melhoria do serviço de imuno-hemoterapia. Em dezembro de 1992, foi habilitada Doutora em Medicina, defendendo a tese: “Contribuição ao conhecimento das lesões de estocagem: estudo do sistema de óxido-redução glutationa dependente em eritrócitos coletados em CPDA-1”.

De volta à Brasília, trabalhou até o ano de 1997, quando decidiu aposentar-se oficialmente, retornando à Fortaleza em dezembro do mesmo ano.

Em Fortaleza, dedicou-se à organização e à tradução de livros, inclusive, tendo publicado uma biografia de um grande amigo e colega gastroenterologista sobralense, intitulado “Doutor Pessoa, Sacerdote da Medicina”, publicado pela Secretaria de Cultura de Sobral-CE.

A partir de sua aposentadoria até os dias fatídicos, beneficiada por um vasto conhecimento e contemplada com dons artísticos e musicais — em sua juventude tocou acordeom —, dedicou-se, também ao piano, ao trabalho com argila —transformando-a através do fogo em belas peças de cerâmica. Como costumava dizer: “na arte, como na vida...” —, leitura e, principalmente, ao cultivo de boas amizades e do imenso amor de sua filha e de sua neta Mariana.

A Dra. Lise Mary foi admitida na Cadeira de Nº 8 da Academia Cearense de Medicina (ACM) em 26/01/2007, sendo recepcionada por seu estimado amigo-irmão Acad. João Evangelista Bezerra Filho, conservando-se como membro titular até 13/09/2019, quando passou para o quadro de membro honorável desse sodalício, ensejando a posse da Acad. Sara Lúcia Ferreira Cavalcante, como sucessora de sua cadeira.

Faleceu aos 82 anos de idade, em Fortaleza em 5/06/2021, no ano em que completaria as seis décadas de formada em Medicina, deixando um lastro de imensas saudades, entre tantas pessoas que tiveram o prazer de conviver com ela.

Acad. Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Membro titular da ACM – Cadeira 18

*Publicado In: Jornal do médico digital, 2(16): 36-38, agosto de 2021. (Revista Médica Independente do Ceará).

RD-16-Agosto21-Cardiologia-UPA-app.pdf (jornaldomedico.com.br)

**Postado no Blog do Marcelo Gurgel em 28 de agosto de 2021.


2 comentários:

Anônimo disse...

Te amo mãe. Saudades..

Anônimo disse...

Te amo mãe! Saudades...

 

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