Por
Prof. Felipe Aquino (*)
A
Igreja não tem dúvida em afirmar que a Ressurreição de Jesus foi um evento
histórico e transcendente. No §639 o Catecismo afirma: “O mistério da
Ressurreição de Cristo é um acontecimento real que teve manifestações historicamente
constatadas, como atesta o Novo Testamento. Já S. Paulo escrevia aos Coríntios
pelo ano de 56: “Eu vos transmiti… o que eu mesmo recebi: Cristo morreu por
nossos pecados, segundo as Escrituras. Foi sepultado, ressuscitado ao terceiro
dia, segundo as Escrituras. Apareceu a Cefas, e depois aos Doze” (1Cor 15,3-4).
O apóstolo fala aqui da viva tradição da Ressurreição, que ficou conhecendo
após sua conversão às portas de Damasco.
A
primeira experiência dos Apóstolos com Jesus ressuscitado, foi marcante e
inesquecível: “Jesus se apresentou no meio dos Apóstolos e disse: “A paz esteja
convosco!” Tomados de espanto e temor, imaginavam ver um espírito. Mas ele
disse: “Por que estais perturbados e por que surgem tais dúvidas em
vossos corações? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu! “Apalpai-me e entendei
que um espírito não tem carne nem ossos, como estais vendo que eu tenho”.
Dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E, como, por causa da alegria, não
podiam acreditar ainda e permaneciam surpresos, disse-lhes: “Tendes o que
comer?” Apresentaram-lhe um pedaço de peixe assado. Tomou-o então e comeu-o
diante deles” (Lc 24, 34s).
Os
Apóstolos não acreditavam a principio na Ressurreição do Mestre. Amedrontados,
julgavam ver um fantasma, Jesus pede que o apalpem e verifiquem que tem carne e
ossos. Nada disto foi uma alucinação, nem miragem, nem delírio, nem mentira, e
nem fraude dos Apóstolos, pessoas muito realistas que duvidaram a principio da
Ressurreição do Mestre. A custo se convenceram. O próprio Cristo teve que falar
a Tomé: “Apalpai e vede: os fantasmas não têm carne e osso como me vedes
possuir” (Lc 24,39). Os discípulos de Emaús estavam decepcionados porque “nós
esperávamos que fosse Ele quem restaurasse Israel” (Lc 24, 21).
Com
os Apóstolos aconteceu o processo exatamente inverso do que se dá com os
visionários. Estes, no começo, ficam muito convencidos e são entusiastas, e pouco
a pouco começam a duvidar da visão. Já com os discípulos de Jesus, ao
contrário, no princípio duvidam. Não creem em seguida na Ressurreição. Tomé
duvida de tudo e de todos e quer tocar o corpo de Cristo ressuscitado. Assim
eram aqueles homens: simples, concretos, realistas. A maioria era pescador, não
eram nem visionários nem místicos. Um grupo de pessoas abatidas, aterrorizadas
após a morte de Jesus. Nunca chegariam por eles mesmos a um auto-convencimento
da Ressurreição de Jesus. Na verdade, renderam-se a uma experiência concreta e
inequívoca.
Impressiona
também o fato de que os Evangelhos narram que as primeiras pessoas que viram
Cristo ressuscitado são as mulheres que correram ao sepulcro. Isto é uma mostra
clara da historicidade da Ressurreição de Jesus; pois as mulheres, na sociedade
judaica da época, eram consideradas testemunhas sem credibilidade já que não
podiam apresentar-se ante um tribunal. Ora, se os Apóstolos, como afirmam
alguns, queriam inventar uma nova religião, por que, então, teriam escolhido
testemunhas tão pouco confiáveis pelos judeus? Se os evangelistas estivessem
preocupados em “provar” ao mundo a Ressurreição de Jesus, jamais teriam
colocado mulheres como testemunhas.
Os
chefes dos judeus tomaram consciência do significado da Ressurreição de Jesus,
e, por isso, resolveram apaga-la: “Deram aos soldados uma vultosa quantia
de dinheiro, recomendando: “Dizei que os seus discípulos vieram de noite,
enquanto dormíeis, e roubaram o cadáver de Jesus. Se isto chegar aos ouvidos do
Governador, nós o convenceremos, e vos deixaremos sem complicação”. Eles
tomaram o dinheiro e agiram de acordo com as instruções recebidas. E
espalhou-se esta história entre os judeus até o dia de hoje” (Mt 28, 12-15). A
ressurreição corporal de Jesus era professada tranquilamente pela Igreja
nascente, sem que os judeus ou outros adversários a pudessem apontar como
fraude ou alucinação.
Jesus
morreu de verdade, inclusive com o lado perfurado pela lança do soldado. É
ridícula a teoria de que Jesus estivesse apenas adormecido na Cruz.
Os
vinte longos séculos do Cristianismo, repletos de êxito e de glória, foram
baseados na verdade da Ressurreição de Jesus. Afirmar que o Cristianismo nasceu
e cresceu em cima de uma mentira e fraude seria supor um milagre ainda maior do
que a própria Ressurreição do Senhor.
(*) O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia
Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da
FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História
da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção
Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa
Bento XVI, em 6/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na
TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e
Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos
finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no
exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas,
Loyola e Canção Nova.
Nenhum comentário:
Postar um comentário