Brendan Coleman Mc Donald (*)
No dia 26 de novembro, próximo
passado, o Papa Francisco entregou à Igreja sua primeira Exortação Apostólica
que ele intitulou Evangelii Gaudium - A Alegria do Evangelho. Exortação
Apostólica é uma Carta Pastoral dirigida pelo Papa a toda a Igreja, tratando,
no caso presente, sobre o anúncio do evangelho no mundo atual. Este documento
como os demais documentos Pontifícios sempre tomam o título a partir das
primeiras palavras do seu texto em latim, assim esta Exortação Apostólica será
conhecida pelas palavras “Evangelii Gaudium”. O tema principal é o anúncio
missionário do Evangelho e sua relação com a alegria cristã, mas fala também
sobre a paz, a homilética, a justiça social, a família, a ecologia, o
ecumenismo, o diálogo inter-religioso, e o papel das mulheres na Igreja.
O Documento é dividido em cinco
capítulos: Capítulo l - A transformação Missionária da Igreja (Uma Igreja “em
saída”); Capítulo ll – Na crise do compromisso comunitário (Alguns desafios do
mundo atual); Capítulo lll – O Anúncio do Evangelho (Todo o povo de Deus
anuncia o Evangelho); Capítulo lV – A dimensão social da Evangelização (As
repercussões comunitárias do querigma); e Capítulo V – Evangelizadores com
Espírito Novo (Motivações para um renovado impulso missionário).
Após uma introdução, vem logo o
tema da “transformação missionária da Igreja onde o Papa fala da “conversão missionária” urgindo os fiéis
para que se coloquem “em saída” e “em estado permanente de missão”. Neste
primeiro capítulo, O Papa Francisco destaca a importância dos bispos de cada
diocese para fortalecer o anúncio cristão por novos caminhos. No segundo
capítulo dividido em duas partes, trata de alguns desafios do mundo atual e
aborda a atual crise de compromisso comunitário e das tentações que os
evangelizadores precisam evitar. O terceiro capítulo trata da evangelização
como missão de todo o povo de Deus e dá um destaque à homilia e ao anúncio
querigmático (isto é, a primeira proclamação de Jesus como Senhor e Salvador).
É neste trecho que o Pontífice considera um pregador que não prepara a homilia,
um irresponsável. Quase 10% do Documento tratam de homilias! O capítulo lV fala
da dimensão social da evangelização e dos pobres, dos excluídos, dos
toxicodependentes, dos povos indígenas como primeiros destinatários do
Evangelho. Trata também do diálogo entre fé e razão e do diálogo ecumênico e
inter-religioso. O último capítulo trata dos “novos evangelizadores” que
precisam ser animados de espírito novo. O encerramento da Exortação Apostólica
retoma o encontro das pessoas com Cristo e coloca para nossa imitação a Virgem
Maria como um ícone e um exemplo da atitude do anúncio missionário
O texto destes cinco capítulos
reúne as contribuições geradas pelos trabalhos realizados no Sínodo dos Bispos
de 2012. “As moções vieram do Sínodo para a Nova Evangelização e Transmissão da
Fé, presidido por Bento XVl, com outra ênfase e em outro momento da Igreja”. É
interessante e feliz a referência à Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi de
Paulo Vl que marcou o período pós-conciliar (cf. p. 107). Porém, o Papa
Francisco ressalta que a evangelização não se dá apenas no anúncio, mas também
no encontro. O encontro missionário é sair de si e ir para o outro.
Há uma grande expectativa em
torno do pontificado do Papa Francisco, em relação a temas delicados da fé
católica, como a obrigatoriedade do celibato do clero, a situação do divorciado
recasado, problemas na área moral da concepção, problemas relacionados à
homossexualidade etc. Porém, para o Papa Francisco, o Bispo de Roma é aquele
que confirma seus irmãos na fé. É um bispo que tem o primado de Pedro para
servir a Igreja, especialmente os fracos, os
abandonados e os excluídos e enfatizar a comunhão. Talvez não seja a reforma
que se está imaginando, mas o Papa está chamando para mudanças de atitudes e
posturas, de convicções e iniciativas, para que a Igreja, entendida como a
inteira comunidade dos batizados, recobre a alegria da fé e do empenho
missionário.
O lançamento de Evangelii
Gaudium com suas 167 páginas (cf. Edições CNBB, 1ª. Edição, Brasília, 2013) foi
bastante noticiado causando grande repercussão na mídia secular. Os bispos e
padres já receberam as 38 perguntas para o Sínodo da Família. Eles e os leigos
que vão preencher este comprido questionário terão que pensar muito bem antes
de responder. Evangelii Gaudium é escrita em linguagem acessível com grande
clareza e deve ser leitura obrigatória para católicos comprometidos com sua fé.
(*) Brendan Coleman Mc Donald é
padre redentorista e assessor da CNBB Reg. NE1.
Fonte: O Povo,
Espiritualidade, de 11/01/2014
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