Revendo meus artigos publicados neste jornal, desde 1981 (32 anos) no longo e proveitoso passado de minha vida, tive também momentos de muitas saudades. Ao reler os escritos durante meus anos vividos na Venezuela, com minha família, como consultor da Organização Mundial da Saúde, lembrei da beleza do país e de sua situação econômica, social e política daquela época. Vivendo uma “era de ouro” ocasionada pelo “boom” do petróleo, sua população até exagerava em alguns aspectos. País lindo, tranquilo e gostoso de se viver naquele tempo.
Lá , trabalhei assessorando universidades e serviços de
saúde, todos satisfeitos com a presença e participação da nossa Organização. E
ai encontrei o meu artigo publicado neste jornal em 30.10.87, falando de
Demócrito Rocha na Venezuela, para o qual solicito, a meus “eternos leitores”,
principalmente os poetas, a oportunidade de reproduzir parte do mesmo. “Há
poucos dias, aqui na Venezuela, prestou-se uma homenagem ao poeta Guillermo de
León Calles. Para o evento, o Dr. Manuel Adrianza Hernandez proferiu um
discurso, verdadeira obra literária, posteriormente publicado e divulgado. Seu
título é O Poeta e Seus Rios e nele citou vários poetas internacionais e seus
poemas destacando a importância dos rios para os povos e para os homens.
E lá, entre Neruda, Hegel, Jorge Manrique, Andrés Elloy
Blanco, Walt Whitman e outros, está o nosso Demócrito Rocha com o, também
nosso, Rio Jaguaribe. Creio que o mais correto será transcrever o próprio
Adrianza, quando diz: “A Edição de 1976 de Literatura Cearense, da Academia
Cearense de Letras, nos traz o belo poema O Rio Jaguaribe, do poeta brasileiro
Demócrito Rocha. O poeta chora o sangue da sua região que se esvai uma vez ao
ano, durante as chuvas, para o mar e compara o rio com uma artéria aberta por
onde sua região sangra periodicamente. E faz, também, uma excelente tradução
para o espanhol do conhecido poema, que aproveito para mandar para o amigo
Demócrito Dummar”.
Interessante é comprovar a importância das identidades
geográficas e dos sentimentos humanos. De um lado, a união entre os homens que
convivem em áreas semelhantes, com as mesmas vicissitudes e problemas. Do
outro, a igualdade universal dos sentimentos maiores dos homens, o que nos
aproxima numa enorme e poderosa corrente ou rede de pensamentos e sofrimentos
semelhantes. Venezuela dos meus tempos e rios. Quanta alegria e quanta saudade
de ti, mas também de tristeza, ao lembrar que também convivemos com a baixa
brusca do preço do petróleo, naquela época, e as trágicas consequências
advindas, como a grande revolta, em 1989.
E agora, novamente convulsionada pela política, “dita”
esquerdista, desse presidente Maduro. Maduro que já está mais do que “fruta
passada”... e que necessita de um rio para sua vida. Rio para, pelo menos,
levá-lo para o mar... enfim. Como, talvez diria, Demócrito Rocha se ainda
estivesse vivo. (*) Médico, professor e ex-presidente da Academia Cearense de Medicina.
Fonte: O Povo, Opinião, de 23/4/2014. p.8.
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