Por Ricardo
Alcântara (*)
PSDB e PT são como aqueles irmãos que, mesmo criados na
mesma família (a resistência democrática, no caso), não se bicam, mas se
toleram porque dividem participação nos negócios da família (a hegemonia da
disputa política).
Em quase nada se entendem, a não ser na defesa dos
interesses comuns no lucrativo empreendimento familiar (o monopólio das
oportunidades de governo mediante a polarização eleitoral). Sim, porque aí, não
mexa: eles se unirão.
Quem, no Brasil, ouse fazer o que Marina Silva tentou já
por duas vezes, receberá o que ela recebeu quando demonstrou condições de
vitória: pancadaria sem fim dos irmãos, sócios e desafetos, ameaçados em seu
status de partidos preferenciais.
Agora, a candidata se prepara para receber, sem que seu
nome mais esteja em disputa, outra saraivada de críticas e cobranças, quando
deverá anunciar sua posição e da sua frente partidária diante do quadro
objetivo do segundo turno.
Qualquer posição que aquela tessitura partidária venha a
adotar, ela será alvo de severas reprovações de alguma parte, e todas recairão
com maior força sobre a pessoa que personificou o projeto da via alternativa:
Marina Silva – ela, de novo!
Se Marina e sua aliança mais uma vez se abstiver –
considerando que o desgaste ético e doutrinário dos percursos de ambos gera uma
impossibilidade de conciliação pragmática – será tingida pelo traço desonroso,
e cômodo, da omissão.
Mas se a escolha recaísse em um apoio a Dilma, seria
ignorar no limite do cinismo a rasteira e desonesta campanha de difamação
movida contra ela. Aí, provavelmente, Marina se arriscaria a perder o maior dos
apreços: o de seus mais fieis eleitores.
Pois faça ela o que já se aguarda (apoiar Aécio Neves) e
a virulência vista até agora terá sido um breve ensaio: o que antes fora
desconstrução, será então sucedida por uma demolição, pois de limites o petismo
nada entende quando se desespera.
Não há nada definido, ainda. Percebe-se uma maior
inclinação pelo apoio ao candidato tucano mediante compromissos programáticos
bem definidos. Mas, seja lá qual for a decisão, Marina estará novamente na
berlinda. Já está acostumada.
Enfim, o pau vai cantar. Afinal, como ousa ela se meter
no meio de uma briga entre irmãos que não se entendem sobre quase nada, mas
defendem com o mesmo ímpeto seus interesses como bloco acionista majoritário da
democracia brasileira?
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta
Livre.
Pauta Livre
é cão
sem dono. Se gostou, passe adiante.
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