Por Arnaldo Jabot (*)
Imagine um automóvel quebrado; em vez de chamar um mecânico,
chamam um marceneiro. É isso que estão fazendo. Esta é a causa do desastre
atual de economia.
É necessária uma cartilha bem clara para a população que se
perde nesse sarapatel de mentiras e manipulações da candidata a presidenta. Por
exemplo, o povo não entende frases como: “Nosso produto interno bruto é mínimo
por falta de corte nos gastos fiscais”. Ninguém sabe o que é isso,
principalmente no Nordeste-Norte. Ao contrário do que diz Dilma, os pobres que
não puderam estudar são, sim, absolutamente ignorantes sobre os reais problemas
brasileiros. Vamos ao diálogo da cartilha:
— Dilma viu a uva. Dilma viu o vovô. Dilma diz que viu o
povo, mas não viu. Dilma viu Maduro, Dilma viu Chávez... Dilma viu o ovo. Mas
não viu o novo.
— Por que ela gosta de governos como Cuba, Venezuela,
Argentina?
— Porque para ela, no duro, a sociedade é composta de imbecis
e de empresários imperialistas. Dilma pensa igual a eles. Ela e a “Cristina
botox”.
— Por que ela pensa igual a eles?
— Porque é possuída por uma loucura antiga chamada “revolução
socialista”, que fracassou no mundo todo. Imagine um automóvel quebrado; em vez
de chamar um mecânico, chamam um marceneiro. É isso que estão fazendo. Esta é a
causa do desastre atual de economia e da crise política. Para eles, quanto
pior, melhor. O problema é que eles é que estão no governo, e essas ideias são
tiros no pé. Mais uma vez, repito o filósofo Baudrillard: “O comunismo hoje
desintegrado tornou-se viral, capaz de contaminar o mundo inteiro, não através
da ideologia nem do seu modelo de funcionamento, mas através do seu modelo de desfuncionamento
e da desestruturação brutal”. Por isso, erram tudo, por incompetência. O
governo ataca e quer mudar o Estado para possuí-lo.
— Por quê?
— Para o PT, as instituições não valem nada (burguesas) e têm
de ser usadas para o projeto do PT.
— Qual é o projeto do PT?
— Fundar uma espécie de bolivarianismo tropical e obrigar o
povo a obedecer o Estado dominado por eles.
— Que é bolivarianismo?
— É um tipo de governo na Venezuela que controla tudo, que
controla até o papel higiênico e carimba o braço dos fregueses nos
supermercados para que eles só comprem uma vez e não voltem, porque há muito
pouca mercadoria.
— Por que os petistas não fazem reforma alguma?
— Porque não querem. A reforma da Previdência não existirá,
pois, segundo o PT, “ela não é necessária”, pois “exageram muito sobre sua
crise”, não havendo nenhum “rombo” no orçamento. Só de 52 bilhões. Por isso, a
inflação vai continuar crescendo, pois eles não ligam para a “inflação
neoliberal”.
— O que é inflação?
— Ahhh... é sinônimo de “carestia”.
— Por que o PT ataca tanto os adversários?
— Porque eles têm medo de perder as 100 mil “boquinhas” que
conquistaram no Estado. Essa gente não larga o osso. Para isso, topam tudo:
calúnias, números mentirosos. Eles também têm medo que suas roubalheiras sejam
investigadas. Vejam o caso do “Petrolão.” Perto dele, o “mensalão” é um troco.
— Por quê?
— A Petrobras foi predada e destruída pela metade porque essa
empresa sempre foi vista como propriedade de uma esquerda psicótica.
— Este roubo foi feito por vagabundos sem moral?
— Não. A Petrobras foi assaltada pelos próprios diretores
para que o dinheiro fosse dividido entre o PT, PP e PMDB, para seus políticos
apoiarem o governo Dilma e para novos malfeitos.
— Por que Dilma diz que não viu nada?
— Para negar que viu. Claro que viu. É necessário mentir para
o “bem” do povo. Sim. Eles acham que são “mentiras revolucionárias.” Aliás,
você sabe o que é Pasadena?
— Não...
— É o nome da refinaria da qual Dilma autorizou a compra.
— Por que Dilma assinou a compra da refinaria?
— Ela afirma que não sabia… Mas como é possível que, sendo a
presidente do Conselho da Petrobras, tenha autorizado (apenas informada por
duas folhas de papel) a compra de uma refinaria por um preço 300 vezes mais
caro do que vale?
— Não sei.
— Você compraria uma casa que vale 100 mil reais pelo
preço de 1 bilhão e duzentos mil?
— Só eu fosse louco ou mal-intencionado.
— Ela comprou. Comprou também pelo desprezo que os comunas
têm por “administração”, coisa de empresários burgueses… Ou por pura incompetência…
— Por que a Dilma e PT não mudam de ideia, vendo tantos
erros?
— Ó, ingênuo eleitor! Porque a Dilma e PT são sacramentados
por Deus e não erram nunca. Quem erra somos nós. Quem discordar é inimigo. E
querem se eternizar no poder.
— E por que nós do povo acreditamos nisso?
— Porque acham que Dilma “ama” o povo. Precisam ver como
Dilma trata os garçons do Palácio...
— Por que, então, tantos intelectuais informados vão
votar na Dilma mesmo assim?
— Porque acham que o PT ainda tem um grãozinho de romantismo
social e também porque temem ser chamados de reacionários, neoliberais. O nome
“esquerda” ainda é o ópio dos intelectuais.
— Por que não mudam de ideia?
— Porque essa ideologia é um tumor inoperável em suas
cabeças. É espantoso que não vejam o óbvio: a desconstrução do país.
— Por que Dilma e Lula aparecem juntinhos do Collor?
— Porque o Collor pode trazer votos de Alagoas... o estado
mais rico de pobres.
— Por que eles querem tanto os votos dos pobres?
— Porque, em geral, têm Bolsa Família. Mas o que não sabem é
que com a volta da carestia..
— Inflação...
— Isso. Com a volta da inflação, a graninha do Bolsa Família
vai mirrar, sumir, perder o valor. Isso eles não explicam.
— E por que eles dizem que a luta eleitoral é entre ricos
e pobres? Pobres do Norte-Nordeste contra os riquinhos do Sudeste e Sul?
— Porque eles falam assim para esconder que a luta é entre
pobres analfabetos x pessoas mais sensatas e informadas. Quem sabe disso, não
vota nela.
— Mas, afinal, o que é o projeto do PT?
— O
programa do PT é um plano de guerra. Eles odeiam a democracia (eles sempre
usaram a democracia para negá-la depois). Eu me lembro do Partidão. Eles
diziam: “Apoiaremos a democracia como tática. Depois a gente vê”. Dilma também
pensa assim: a democracia é um meio, não um fim. Por isso, tem de haver uma
cartilha para explicar o programa do PT: Dilma diz que viu o povo, mas não viu.
Dilma viu o
ovo. Mas não viu o novo.
(*) Arnaldo Jabot é
jornalista e comentarista político.
Fonte: Publicado no jornal O Globo.
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