quinta-feira, 30 de abril de 2015

O BRASIL ANEDÓTICO LXVIX


O ESPÍRITO DE PADRE ANSELMO
A. Cerqueira Mendes - "Figuras Antigas", vol. I.
O arcipreste da Sé de São Paulo, Joaquim Anselmo de Oliveira, era não só desabusado como espirituoso. Após uma vida acidentada, já na velhice, embarcou para o Rio de Janeiro afim de ser operado da catarata que lhe ia empanando a vista.
No dia seguinte ao da operação, Hilário de Gouveia, o operador, aproximou-se dele, que se achava de olhos vendados.
- Sente-se feliz? - perguntou.
- Muito! - retrucou o sacerdote. - E compreende bem que há razão para isso.
E prevendo o insucesso da intervenção cirúrgica:
- Vazam-me o olho por dois contos de réis! É barato!
 
O EMPREGO IDEAL
Moreira de Azevedo - "Mosaico Brasileiro", pág. 156.
Este episódio é dado, também, como ocorrido com Floriano Peixoto. Domingos Barbosa ("Silhuetas", pág. 46), e atribui, por sua vez, ao Conselheiro Gomes de Castro.
Era Álvares Machado presidente do Rio Grande do Sul em 1840, quando se apresentou em palácio um indivíduo de boas maneiras que lhe ia dar parabéns pela investidura e, ao mesmo tempo, pedir-lhe um emprego. Desejava, porém, que o lugar fosse de representação, bem remunerado e de pouco trabalho.
- Pois, não, meu caro senhor; pois, não, - prometeu o presidente. - O segundo que eu descobrir nessas condições será seu.
- O segundo? e por que não o primeiro?
E Álvares Machado:
- Porque, andando eu há muito tempo atrás de um emprego desses, o primeiro, naturalmente, será meu!

A ÚNICA REPÚBLICA: O IMPÉRIO
Múcio Teixeira - "O Imperador visto de perto", pág. 192.
Era Múcio Teixeira cônsul geral do Brasil na Venezuela, quando ali chegou a notícia da proclamação da República. Ao penetrar no palácio do governo, onde fora pedir o seu "exequatur", o presidente da Venezuela, dr. Rojas Paul, encaminhou-se para ele, dizendo:
- "Señor Consul Geral do Brasil, pida a Dios que su Patria, que ha sido gobernada durante medio siglo por un sabio, no sea de hoy por delante llevada por el tacón del primero tirannelo que el ejercito le presente".
E abraçando-o, comovido:
- "Se ha acabado la unica Republíc; que existia en America: el Imperio del Brasil!"

O MARIDO MINEIRO
Presenciado pelo colecionador.
Na sala de espera da Academia Brasileira de Letras, no "Petit Trianon", um visitante falava mal dos mineiros, em geral, e acentuava:
- Eu tenho tanta prevenção com mineiro, que, havendo uma sobrinha minha, a quem muito estimo, contraído casamento recentemente com um rapaz de Juiz de Fora, cortei inteiramente relações com ela. O mineiro tem todos os defeitos e o principal é furtar nos negócios em que se mete.
O general Lauro Müller, que se achava próximo, e que, como se sabe, era catarinense, não se conteve:
- Pois olhe, meu caro amigo, - interveio, mesmo sem conhecer o sujeito; - sabe de uma cousa? O senhor ainda vai ser muito amigo desse mineiro, porque fique certo que ele vai tratar muito bem a sua sobrinha.
- Eu, amigo de um homem que furta?
- Sim, senhor, - tornou Lauro Müller. Porque, o brasileiro, em geral, furta da família para lançar fora; ao passo que o mineiro, se furta, como o senhor diz...
E com entusiasmo:
- Furta para a família!
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).

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