quinta-feira, 9 de abril de 2015

HABILIDADES E ATITUDES NO EXERCÍCIO DA MEDICINA



João Brainer Clares de Andrade (*)
Não há dúvidas de que ser médico exige maturidade. Habilidades e atitudes que dizem respeito à capacidade muito além de ser bom aluno. No vestibular, o crivo é severo em selecionar aqueles de melhor capacidade de organização e afinidade com o perfil de prova. A despeito da tentativa inconteste do Enem de selecionar alunos de perfil mais crítico, e menos expositivos, ainda não há no Brasil a melhor forma de seleção ao curso de Medicina.
Medicina requer alunos aplicados, dedicados e responsáveis. No entanto, se apenas isso bastasse, é provável que teríamos unicamente técnicos ou médicos habilitados a tratar doenças, com ampla capacidade de seguir fluxogramas ou protocolos. Seria, pois, uma imersão meramente na doença, e não no lidar com o doente e seu contexto social.
O curso de Medicina deve capacitar muito além da leitura ou da memorização de sinais e sintomas. O contato com o doente, sua compreensão social, cultural e política perfaz roteiro que não consta nos livros. Assim, aqui, o apenas bom aluno não se torna útil. É preciso saber se comunicar, dar boas e más notícias, confortar a família, pactuar plano terapêutico, saber renunciar, tomar decisões, agir com ética, liderar e ser liderado, atualizar-se sempre e, principalmente, saber lidar com a morte ou com o erro. As duas últimas questões, talvez, sejam as mais difíceis ao apenas bom aluno.
No jogo de forças que nos inclina a escolher o mais aplicado nas ciências exatas ou biológicas, há de se querer também o mais ético, mais responsável, mais humano e mais competente com o paciente. E como selecionar? Certamente essa questão extrapola o vestibular e o Enem. Não há como medir, se não ao longo do curso em processo tutorial e quase artesanal, com currículos formatados para lapidar na melhor concepção técnica e, principalmente, humana o que é ser médico. Para isso, portanto, não há obrigatoriamente a melhor nota ou a idade.
(*) Médico residente de Neurologia – Hospital Geral de Fortaleza
Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 23/2/2015. p.8.

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