segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

O BRASIL AINDA É ASSIM


Por João Soares Neto (*)
 “Mude, mas mude devagar, porque a direção é mais importante do que a velocidade”. Clarice Lispector
Não há segredo: os entes públicos são os maiores anunciantes da imprensa no Brasil. Alguns jornais, emissoras de rádio e televisão, sites e blogs, querem posar de isentos e ditadores do bem e do mal. Estão longe disso. Há extravasamento de paixões, de interesses subliminares, de queixas e principalmente, da necessidade de vender espaço, tempo publicitário ou projetos especiais. Como se diz no meio, a imprensa vive do Departamento Comercial. Tudo é fonte de receita.
Apesar disso, alguns órgãos, quase sempre, convivem com dívidas, multas e impostos em aberto. Como solucionador dos problemas, sempre aparece alguém “bem-intencionado” a procurar fórmulas, parcelamentos das dívidas, deixar prescrever atuações e assemelhados. Dar um jeito, enfim.
Pequeno detalhe: todos os anos, jornais, revistas e cadernos especiais, após a colheita do Departamento Comercial, realizam certames premiadores. As festas são opíparas, com cerimoniais longos e enfadonhos. Em poucos desses casos os premiados até pagam as festas. São os prestadores ou recebedores de favores, os engendradores de soluções aparentemente legais em situações complexas. Atraem-se pelo poder, seja ele qual for. Os agraciados até acreditam nos 15 minutos de fama referido por Andy Warhol.
Ainda há os que se descobrem recentes ‘amigos de infância’, colegas e parentes dos poderosos, dos adventícios, dos novos ricos, dos usuários de incentivos fiscais e favorecidos por juros camaradas em bancos oficiais. Dos que recebem isenções disso e daquilo. Louvam, pela frente, os políticos de todas as greis e os encastelados em Associações e Instituições de classe a bradar “ações propositivas”, meras borbulhas. Algumas dessas entidades são plenas de gente encalhada na vida, mas bem remunerada e a fazer quase nada.
O pacto nacional tão falado não pode excluir uns e privilegiar outros. Um pacto é exercício de cidadania, não é explicitação de interesses escusos acobertados por pátina de seriedade. Eu, você, nós todos, somos coniventes com tal estado de coisas. Vestimos paletós e batemos palmas para uns e outros. Chega!
Quinhentos e dezesseis anos após a nossa descoberta acidental por Pedro Álvares Cabral ainda brincamos de fazer e emendar Constituições. A moda agora é editar PECs – Proposta de Emenda Constitucional. Há PECs para todos os gostos e afinidades. À Constituição de 1988 já se agregaram cerca de 100 PECs, algumas casuísticas.
Enquanto formos bisonhos e não tivermos a coragem de denunciar as patacoadas diuturnas, em todas as esferas do poder e do mundo real, o Brasil não se manterá sequer entre os países dos BRICs. Infelizmente, nossos tijolos são feitos de argamassas não consistentes e logo se desfazem. É pena.
(*) João Soares Neto é escritor e membro da Academia Cearense de Letras.
Fonte: Publicado no jornal O Estado-CE, 11/11/16.

 

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