terça-feira, 13 de julho de 2021

SÉRGIO, FRANCISCO E HESSE

Por Tales de Sá Cavalcante (*)

Fim de tarde. O sol a se pôr. Ela trocava o brilho do dia pela cor dos cabelos de Iracema, mais negros que a asa da graúna, como dizia José de Alencar.

A Lagoa de Messejana me induziu a Fernando Pessoa, que, sob o heterônimo Alberto Caeiro, poetizou: "O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, / Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia / Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia…"

Sob vênia, parafraseá-lo-ia: lagoa nenhuma é mais bela que a lagoa da minha aldeia.

O visual me lembrou a mudança para Messejana em euforia, talvez por genética, uma vez que a mãe deste articulista se mudava tanto, a ponto de seu irmão Luís Alberto, em chiste, afirmar que ela deveria morar num trailer, ou porque iria residir no sítio aonde íamos na infância.

E sobre o significado de Messejana, não seguiria nem Alencar, com a expressão "lugar abandonado", nem Edmar Freitas, que interpreta como "cárcere ou prisão". Optei pelo sentido da última palavra dita por minha mãe, Hildete: "Messejana".

Rumo ao novo lar, por via antiga, cheguei ao primeiro ícone, aonde sempre vou em busca da alegria e Iracema ia quando triste: a lagoa da minha aldeia.

Despedi-me da musa de Alencar em estátua e fui à padaria Nogueira, onde, infelizmente sem o Doquinha, degustei um pão doce. Tomei uma cerveja no bar do Jaime e distribuí adesivos com a frase "Eu amo Messejana". Contornei a curva d'água até o sítio.

À tarde, os dois amigos Sérgio Almeida e Francisco Lima, a trabalho, compunham a linda imagem aquífera. Um vestia a camisa do Fortaleza; o outro, a do Ceará. E refleti: por que essa harmonia não existe no Castelão ou em qualquer estádio?

Por que não há essa união entre adeptos de adversários como Bolsonaro e Lula, por exemplo?

A radicalização arranha amizades de admiradores, que, no futuro, poderão ver seus ídolos em aliança. Sérgio e Francisco nos remetiam a Herman Hesse, ao apontar: "A nossa missão não é identificarmo-nos um com o outro, mas sim conhecermo-nos e aprender a ver e respeitar um no outro aquilo que ele de fato é: o seu oposto e complemento."

(*) Reitor do FB UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Membro da Academia Cearense de Letras.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 3/6/21. Opinião, p.18.

Nenhum comentário:

 

Free Blog Counter
Poker Blog