quinta-feira, 9 de setembro de 2021

A PANDEMIA E OS RISCOS ÀS GRÁVIDAS E ÀS PUÉRPERAS

Por Liduína Leite (*)

Quando pensamos em gravidez, surgem inicialmente - construção cultural e historica - ideias de felicidade e plenitude. Pouco se dialoga sobre como nós, mulheres, significamos as mudanças ou sobre as gestações não planejadas (que são cerca de 60%!). Dada a radicalidade das mudanças, essa deveria ser uma escolha consciente. Para isso são fundamentais políticas públicas que garantam o respeito aos direitos reprodutivos, incluindo espaço seguro e adequado à assistência ao pré-natal, parto e puerpério.

Gestar e parir em meio à pandemia, no Brasil das mais de 500 mil mortes por Covid-19, nos traz ansiedade, dúvidas e medo - da perda de um filho e da própria morte. Antes da pandemia pela Covid-19 no Brasil, tínhamos poucos registros de mortes maternas (na gravidez e até 42 dias após o parto).

Infelizmente a realidade brasileira, especialmente por falta de políticas públicas corretas pelo Governo Federal, trouxe respostas angustiantes.

Gestantes e puérperas com Covid-19 têm maior chance de desfechos obstétricos ruins: mais partos prematuros, quadros hipertensivos, hemorragias, eventos tromboembólicos. Mulheres infectadas pelo coronavírus têm maior risco de quadros graves, internação e morte.

A Covid-19 se tornou a principal causa de morte materna no Brasil, ultrapassando as causas diretamente relacionadas à gestação. Em 2021, responde por cerca de 59% dos óbitos no Ceará.

Em abril deste ano, a Rede Feminista de Ginecologia e Obstetrícia fez um chamado à ação por políticas públicas para grávidas e puérperas no Brasil, incluindo acesso a métodos contraceptivos, distribuição de máscaras PFF-2, afastamento das gestantes das atividades laborais presenciais, Acesso ao pré-natal com qualidade, renda mínima justa para as gestantes sem trabalho formal e ampla testagem das grávidas, com testes moleculares, na admissão em maternidade, para as grávidas sintomáticas e seus contatos. Garantia de internação em UTI com acompanhamento obstétrico de qualidade, 24h, prioridade para vacinação de gestantes e puérperas, com ou sem riscos obstétricos.

Que a gravidez seja uma escolha consciente, que o pré-natal de qualidade seja uma realidade, que o parto respeitoso seja uma cultura, que a gente não tenha que chorar tantas mortes evitáveis. Que o futuro seja a vida. 

(*) Médica ginecologista e obstetra.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 29/7/2021. Opinião. p.19.

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