segunda-feira, 13 de setembro de 2021

BRASIL X ARGENTINA

Por Tales de Sá Cavalcante (*)

"Os mexicanos saíram dos índios, os brasileiros saíram da selva, mas nós - os argentinos - chegamos de barcos. E eram barcos que vinham de lá, da Europa." Por meio dessas palavras, o presidente argentino Alberto Fernández errou no conteúdo e no continente.

O primeiro equívoco se deu porque a afirmação é inverídica, arrogante, preconceituosa e infeliz. O segundo, uma vez que a citação é trecho da música "Llegamos de los barcos", de Litto Nebbia, mas Fernández afirmou ser do poeta Octavio Paz.

Em dupla falta, o político revela desconhecimento histórico e expõe o preconceito contra o diferente, como inferior.

A meu juízo, os portenhos, em maioria e sem simultaneidade com um Brasil x Argentina no futebol, discordam de seu líder. Este e a maior parte de seus pares da América do Sul não possuem os predicados de estadista.

Para o grande Sócrates, os "governantes não deveriam ser os que por conduzirem um cetro dito divino eram reis, os eleitos por sorteio, os que por violência ou fraude usurparam o poder, nem os eleitos pela multidão, senão os que sabem governar".

Em pleno século V a.C., dizia ele que "na arte de fiar, as mulheres dirigem os homens, pois a conhecem e disso os homens nada entendem".

O filósofo condenava a democracia por eleger o mais popular, e não o mais sábio. Este, em sincronia com Sócrates, diria: "Só sei que nada sei."

Se Fernández seguisse Montaigne em "Dos canibais", talvez abandonasse o etnocentrismo e não mais considerasse sua cultura um padrão e superior às demais.

Ele saberia que os indígenas e a Natureza viviam em harmonia, e em seus costumes não havia mentira, traição, avareza e outros vícios, não tinham escravos, nem distinção entre ricos e pobres, e silvícolas que foram a Paris revoltaram-se com o contraste do luxo da corte perante a miséria da plebe.

Honra-nos sermos índios, europeus, pretos, brancos, pardos ou amarelos e cidadãos do mundo que, de bem com a vida, amam o Brasil.

Mas almejamos que doravante o argentino observe a máxima utilizada por qualquer índio Cheyenne: "Não julgue seu vizinho até que você ande duas luas em seus sapatos." 

(*) Reitor do FB UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Membro da Academia Cearense de Letras.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 1/7/21. Opinião, p.18.

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