quarta-feira, 12 de julho de 2023

O PRÍNCIPE DE OZ

Por Eduardo Jucá (*)

"O Pequeno Príncipe" de Saint-Exupéry, foi meu primeiro clássico, aos 8 anos. Antes que cheguem as pedras de quem coloca a obra em um patamar inferior, certifico que ela preenche os critérios de um clássico. Com inúmeros leitores ao redor do mundo, aborda temas universais como amor e amizade, com personagens memoráveis. Influenciou gerações, gerando filmes e perpetuando frases na cultura geral.

Com o amor pela literatura sendo central em minha vida introvertida e ao reconhecer o mesmo amor pelos livros em minha filha, surgiu a expectativa de que ela crescesse conhecendo o príncipe, a rosa e a raposa. Comprei uma edição especial, com ilustrações originais, o aguardado passaporte para sua introdução aos clássicos.

O presente foi dado com a cerimônia de quem transfere um tesouro. No entanto, para surpresa e decepção do pai, a empolgação dela ao receber não foi tão grande quanto a minha ao oferecer. O livro ficou fechado na mesa de cabeceira, lentamente migrando intocado para uma prateleira alta. Parecia que o sonho de ter uma companheira de leitura tinha acabado.

Com as esperanças já acinzentadas, a menina apareceu com "O Mágico de Oz" em suas mãos. Foi espontaneamente atraída a acompanhar Dorothy pela estrada de tijolos amarelos e ajudar o Espantalho em busca de um cérebro, o Leão em busca de coragem, e o Homem de Lata em busca de um coração. No caminho, reacendeu o encantamento do pai por essa obra fantástica de Frank Baum, que também é um clássico e continua abrindo as portas da literatura para tantos novos leitores.

Eu queria ensinar minha filha a ler os clássicos. Na verdade, foi ela quem me ensinou. Que não há um caminho único. Que não podemos controlar cada passo de nossos filhos, mas podemos nos encantar com os caminhos que eles escolhem e aprender com suas decisões, participar e crescer juntos. Que cada cérebro é único. E que o amor pela literatura pode nascer no Planeta B612 ou em Oz. E que o amor entre pai e filha pode florescer em qualquer página.

(*) Médico neurocirurgião pediátrico, professor, pesquisador e palestrante.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 4/06/2023. Opinião. p.19.

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