sexta-feira, 7 de julho de 2023

Crônica: “Afinal, de onde veio a sopa?” ... e outros causos

Afinal, de onde veio a sopa?

Juízo 'friviando de poblema' (modernidade, pandemia, política enviesada, liseira e caé estão arrombando), o amigo Mainha Monteiro buscou o concurso das terapias alternativas para resistir bravamente aos achaques depressivos - e se deu bem. A ferramenta terapêutica? Meditação. Foi onde se reencontrou consigo.

Devidamente orientado sobre o que e como fazer, começou a prática há dois anos e hoje cremos curado, logrando muitíssimo bom êxito em todas as empreitadas mergulhativas interiores que faz, ao contatar seu eu profundo em altas buscas interiores. Mas há algo que o encabula Mainha.

Ele relata que quando se encontra em plena viagem astral, embalado por mantras hindus dos mais catárticos, ao ver-se aproximando-se de si, fala com relativa tristeza para ele mesmo:

- Arre égua! Lá vem eu de novo!

A emenda...

Sábado lembra o quê? Feijoada, respondemos todos que amamos um feijãozinho no gabarito. E lá eu fui com uma 'réca' de gente pro restaurante recém-inaugurado. 'Éramos em 12'; seis porções dariam - uma pra cada dois bichos de urêa. Após longa espera, pratos chegam, e começamos a matar quem nos matava.

Ocorre que na travessa de Raimundo Nonato havia um cabelo de tamanho médico - três centímetros, digamos, e o desconforto na mesa foi generalizado. Raimundo, uma fome medonha, grita pela garçonete e verbera já meio esverdeado:

- Olhe aqui, dona Maria! Um cabelo! Arre ema!

- Bem, senhor... É! Peço desculpas... - falou a moça, sem saber onde botar a cabeça.

- E agora? Hein? E agora?

- Bem, senhor... É! Peço desculpas... - reforçou a moça

Que sai do salão com o prato de feijoada na mão em busca da cozinha. Daqui a pouco ela está de volta. Mas, ao tentar explicar o fato pouco higiênico de há pouco, piora ainda mais a situação do restaurante, em matéria de fama.

- Senhor, não sei o que aconteceu, sinceramente!

- Pois é - disse mais calmo Raimundo. Nem eu!

- Fui à cozinha reclamar e posso lhe garantir: nosso cozinheiro é careca!...

Enciclopédia da Fala Cearense

O livro de nossa autoria com tudo da fala cearense (após 44 anos de fuçando a paciência do povo) tá saindo por esses dias. Enquanto engomo a calça, vamos - a pedidos - adiantando duas ou três coisinhas para o conhecimento de vocês:

- Camisa com medo de peido - Camisa que fica lá em cima dos quartos do usuário.

- Falso que só tábua de fojo - Pessoa que não é das mais autênticas. [Fojo é a armadilha de pegar preá; na abertura da geringonça, à pisada leve do roedor, a tala de madeira se desloca facilmente pra baixo, e o bicho cai lá dentro.]

- Fazer ouvido de sentina de trem - É a conversa da pessoa lá, entrando por um ouvido e saindo pelo outro do interlocutor; não estar nem aí, não dar a mínima.

- Idade de bater bosta - Idade avançada, senilidade.

- Igual à mãe de São Pedro pra entrar no Credo - Quando a pessoa quer entrar à força no quer que seja, de modo forçado.

- Madrinha de apresentar - A que sustenta a criança (e segura a vela) no ato do batismo.

Fonte: O POVO, de 16/06/2023. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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