Sejamos solidários,
é verdade, com aqueles que inocentemente, de forma pouco esperada, têm suas
vidas ceifadas. No final, o julgamento é sempre o mesmo: falta de humanismo e
de respeito com a história de centenas ou milhares de famílias.
As redes sociais se
inundaram de cores em solidariedade contra o terrorismo na Paris que nos
acostumamos a ver de várias cores. Sem privar os usuários das cores vermelho,
azul e branco, lanço, no entanto, nova proposta: um verde que remonte aos
nossos bravios mares, um amarelo do sol e da luz de nossa terra e um branco de
nossas sete estrelas que dão conta das mesorregiões do Ceará.
Nada mais justo que
se solidarizar com atentados que matam muito mais todos os dias no Ceará. As
chacinas dos últimos noticiários que mobilizaram ações imediatas são ainda
irrisórias, se formos contabilizar as mortes gratuitas no sistema de saúde
público cearense. A política de centralização das unidades complexas na Capital
mantém um ingurgitamento crônico difícil de ser contido mesmo com portas
fechadas.
As Unidades de
Pronto Atendimento se orgulham erroneamente por atender mais de 2 milhões de
casos, desvirtuando o princípio das unidades básicas de saúde, que deveriam
estar integradas nas comunidades com médicos bem formados e capazes de resolver
a quase totalidade das demandas que surgem.
Os hospitais
públicos estaduais vivem sua pior era. Precisamos de gestores que conheçam ou
vivam o que se significa prestar assistência em saúde às pessoas; dessa
contrariedade vem a tônica da falta sistemática de insumos e de fluxo
integrados. Vive-se, pois, em meio a uma contingência de recursos que jamais
poderia ter sido cogitada na saúde.
Com escassez de
recursos e ações, há a morte diária de centenas de inocentes que voltariam para
suas famílias, se não fossem as cirurgias canceladas, a falta de antibióticos e
outros medicamentos elementares, a falta de cateteres de diálise, os
funcionários em número insuficiente, a falta de leitos, a falta de exames.
Aos profissionais
que dedicam tempo e emanam esforços para cuidar de pessoas em uma verdadeira
situação de guerra, resta-nos a sensação de trabalho sem frutos, de
desrespeito, de impotência; resta-nos a angústia da morte assistida.
Juntos de nossos
pacientes, somos todos, portanto, reféns de terroristas que usam gravatas e
ocupam palácios. Eis a verdade.
(*) Médico. Residente
de Neurologia do HGF.
Fonte: Publicado
In: O Povo, de 17/11/2015. Opinião. p.9.
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