Cântico
religioso natalino composto por John Reading (1677-1746), organista em
Winchester, Inglaterra: “Vinde, fiéis”. Vinde adorar o Deus menino, a salvo dos
Herodes e demais demos, ancorado na praia. Vinde juntar-se aos refugiados a
palmilhar o chão, da Síria aos Inhamuns, buscando a salvação. É o povo
refazendo as trilhas dos missionários, hoje infestadas por mercenários e
assoldadados outros, a serviço dos anticristos.
“Adeste
Fideles”, vinde integrar esta turma de sobreviventes, orar pelos que nasceram
para não ser, e morreram de fome, de frio, no mar, ou na lama de Mariana.
Ignoremos as vozes dos algozes e ouçamos os vagidos vindos daquela manjedoura.
Fechai-lhes, Pai, os ouvidos ao ribombar das metralhadoras daqueles que fazem
da morte um meio de vida. Deploremos o que vaticinou (profetizou) o filósofo
genebrês Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) em seu “Discurso sobre Ciências e
Artes”: “quanto mais civilizados ficamos, mais corruptos nos tornamos”. E
bárbaros! Tempos insanos estes.
Dias
da ira, irônicos tempos. Assaltantes matam cardiologista com bala no coração,
alpinista morre abalroado em rodovia. Estaríamos assistindo a um ensaio de
outro apocalipse? Sonho, pesadelo ou realidade? Mas, como apregoam os
africanos, a água da chuva não é tão preta como aparentam as nuvens. Festejemos
o infante Jesus, em mais este Natal nosso, das luzes, dos sinos, nos presépios
de palha e nos berços dourados, nas senzalas e nas casas grandes.
Natal
das juras veladas, promessas não cumpridas, palavras que esquecemos de dizer,
graças obtidas sem nosso reconhecimento. Penitenciemo-nos. Nessa noite, na
consoada (ceia natalina ou de Ano Novo) recordemos quem partiu sem se despedir.
Acorram! É tempo de colher a nova safra de esperança. Natal é Cristo de novo,
um eterno templo de fé. Contrariemos o ódio e uma das “Odes” (1,1,8) do poeta e
filósofo romano Quintus Horatius Flaccus (65 – 8 a.C.) em suas “Carmina”:
“Carpe diem, quam minimum crédula postero”, i.e., aproveita o dia (ou o momento
fugaz) confiando o mínimo no futuro.
Esqueçamos
este Horácio e pensemos com confiança. O Natal está dobrando a esquina.
Exultemos, ao jeito de crianças esperando Papai Noel. O essencial é a espera. O
resto é só alegria. Acreditemos no futuro que a Deus pertence, porquanto ele é
nosso também.
Aleluia!
Feliz Natal!
(*) Professor Emérito da UFC.
Titular das Academias Cearense de Letras, de Medicina e de Médicos Escritores.
Fonte: O Povo,
Opinião, de 9/12/2015. p.8.
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