quinta-feira, 3 de outubro de 2019

UTI, LUGAR DE VIDA


Por Weiber Xavier (*)
Quando se está gravemente enfermo espera-se que a UTI seja um recurso que nos ajude a voltar ao "normal" e que seja um lugar de vida. Hoje, quando se entra na maioria das nossas UTIs o que se vê infelizmente é uma triste realidade. Uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) se caracteriza como "unidade complexa dotada de sistema de monitorização contínua que admite pacientes potencialmente graves ou com descompensação de um ou mais sistemas orgânicos e que com o suporte e tratamento intensivos tenham possibilidade de se recuperar." Essa última parte da frase tem sido frequentemente esquecida. Ao contrário do que muitos pensam e vêem na tv muitos pacientes de UTI têm doenças crônicas ou incuráveis; frequentemente em fase terminal. Na nossa sociedade não apenas não se quer morrer, mas não se está disposto a aceitar a realidade da morte. O fato é que todos nós somos terminais. Infelizmente, muitos dos profissionais de saúde têm medo de enfrentar a morte e, particularmente, os médicos muitas vezes a prolongam e mantem vivas falsas esperanças. Felizmente, preocupações éticas e decisões difíceis de serem tomadas tem um norte através da bioética e dos cuidados paliativos. A bioética é o estudo filosófico das controvérsias éticas trazidas pelos avanços da biologia e da medicina e nos ajuda a preencher a lacuna entre famílias e médicos e, assim, aliviar os encargos morais e legais das delicadas decisões enfrentadas durante esses momentos críticos. Os cuidados paliativos gerenciando a dor entre outros sintomas angustiantes de doenças graves podem fornecer apoio emocional e físico para pacientes e famílias, ajudando-os a ter um processo de morte mais natural e digno. Precisa-se entender que existe um direito amoral, ético e legal de permitir a morte natural e evitar mais sofrimento desnecessário. Os objetivos do tratamento no final da vida devem se concentrar em fornecer apoio emocional e clínico, mantendo a qualidade de vida, tornando o resultado final uma experiência mais agradável e menos dolorosa para as famílias e, mais importante, para o paciente. Afinal, a UTI é um lugar de vida. 
(*) Médico e professor de Medicina da UniChristus.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 9/09/2019. Opinião. p.22.

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