sexta-feira, 22 de julho de 2022

Crônica: “ ‘Prínspe Phillips’ foi batizado no Pacajus” ... e outros causos

"Prínspe Phillips" foi batizado no Pacajus

Tempo de estiagem grande demais no estado e o governo se utilizando das frentes emergenciais de serviço para garantir mínima condição de sobrevivência do homem do campo. Formada fila imensa da gente necessitada, no Sertão-Central, o amigo Antônio Luiz Monteiro explica que o apontador (responsável por cadastrar as pessoas) chama um por um, pacientemente, sentado à sombra de um cajueiro em petição e miséria. Chegada a vez do baixinho invocado todo... Servidor de poucas palavras, mas bem atento:

- Seu nome?

- Antônio de Sousa!

- Esse seu Sousa é com S ou com Z?

- Claro que com S!!! Senão seria Zouza!!!

A monarquia é aqui!

Final de tarde e papai no alpendre da fazenda, fazendo de cabeça a contabilidade do dia, estatelado na cadeira de balanço. Som de chocalho ali perto, mutuca dando o ar da graça na perna do velho, cheiro de café no mundo. De bicicleta chega o cumpade Oliveira com dois meninos na garupa - um, o fucim do outro; esse um, mal o pai parou a Monark, e ele já emburacou na casa alheia. Prosa amiga entabulada.

- Cuma-lhe vai, cumpade Zé Duarte?

- Só o beju, Oliveira! Milho pendoando, barrão cevado, água doce no cacimbão pelo mêi... E tu?

- Só a sabiá! Inverno pegado, criação chiquerada, feijão fulorando...

- E esses aí na garupa? É teus gêmeos?

- É! Ah dois minino, cumpade! Ah dois minino!!! Esse aqui, mais calmim, é o Phillips!

- Phillips?!? Beisso!?!

- Homenagem da mulher lá em casa ao "prínspe" das Inglaterra!

- Entendi... E o outro, que embioucou no rumo da cozinha?

- Esse eu não sei de onde foi a arrumação... Philco, ô Philco!!! Ande cá, meu fí!!!

Gente colaborativa

Lançada a Grande Enciclopédia da Fala Cearense, dia desses, já nos chegam colaborações para uma segunda edição - esse ano, talvez - ampliada e revisada. Entre as contribuições, as do grande Zé do Egito, pérolas por ele colhidas nas andanças pelo interior do estado, da Nova Olinda de Mestre Espedito Seleiro pruma banda, a exemplo da expressão "Da mão pra boca", que significa 'fácil, fácil!', 'mole, mole!', 'tranquil'e calmo!' A essa, acresça-se a ruma que segue.

Cadê-lo? - Cadê ele?

Cintura de ovo - Sem cintura.

Dente de trouxa - Dente intramelado

Desapreguei! - Deixei de ser o caçula da família, 'estou (fiquei) no canto'.

Eu tinha trago... - Eu tinha trazido...

Mastiga direito! Parece que tá comendo merda! - Reprimenda que leva o filho quando, comendo perto da mãe, mastiga de boca aberta, fazendo ruído característico.

Munhecar - Cair de munheca no chão.

Pau!!! - Arrocha!!! Vai lá!!! Abaica!!!

Pintor de rodapé de parede - Baixinho.

Sai do mêi que a carroça tá sem frei! - Pedido de socorro do motorista cujo veículo não tem um pingo de freio.

Só molhar o corpo! - Não tomar um banho federal (completo), apenas se assear; 'jogar uma ligeira água no couro'.

Tá-lo-ei lá!!! - Estarei lá!

PS: Na minha mente, se há coisa mais invocadamente engraçada no mundo em matéria de comunicação, passou foi longe!

Fonte: O POVO, de 15/07/2022. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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