quinta-feira, 14 de julho de 2022

DONALD WOODS WINNICOTT (pediatra e psicanalista)

Meraldo Zisman (*)

Médico-Psicoterapeuta

Caçula e filho único masculino do casal John Frederick Winnicott e Elizabeth Martha Woods nascido em 7 de abril de 1896, recebeu o nome de Donald, que significa poderoso, vigoroso. Winnicott pai dedicava tanto tempo aos negócios que parece ter passado muito poucas horas em casa, deixando seu filho rodeado por esse verdadeiro exército de mulheres: mãe, irmãs, tias, babá, governantas, cozinheira, copeiras e as diversas parentes. O menino Donald sentia-se tão confortável entre as mulheres que passava horas a fio na cozinha. Elizabeth Winnicott costumava reclamar que o jovem Donald desperdiçava muito tempo com a cozinheira. “Referia-se às mulheres parentas e serventes como suas múltiplas mães”.

Em particular, as empregadas exerceram um papel vital no desenvolvimento de Donald Winnicott. “Anos mais tarde, ele recomendaria a alguns de seus pacientes que passassem mais tempo no andar de baixo”, com a equipe doméstica, como parte do tratamento. Presumivelmente, ele sabia que os empregados muitas vezes têm mais tempo e sensibilidade para com crianças que os pais biológicos. Era menino totalmente envolvido por mães e virtualmente privado de um pai. Parece ter marcado de forma indelével o desenvolvimento psicológico de Winnicott, nele gerando uma forte identificação feminina. Sentia-se protegido e seguro, e essa estabilidade emocional propiciou-lhe uma fundação solida para uma vida adulta firme, produtiva e criativa. A infância de Winnicott estimulou nele um grande fascínio pelo mundo interno feminino - interesse que acabou se tornando o trabalho ao qual dedicaria a sua vida. Como profissional, passou mais de quarenta anos explorando e pesquisando a essência da maternidade e a relação entre a criança e a mãe. De fato, de um modo ou de outro o jovem Donald Winnicott estava sempre se confrontando com a natureza feminina.

Apesar de que Winnicott tenha desenvolvido um senso de masculinidade relativamente firme, falava com uma voz aguda e levemente estridente. Detestava o som de sua própria voz - o legado de uma infância repleta de um número excessivo de mulheres. Em seu livro Clinica Notes on Disorders of Childhood, Winnicott (1931a, p. 119) ressalta que "Às vezes, um menino na puberdade não consegue utilizar o novo poder de sua fala masculina, falando em falsete ou imitando, inconscientemente, a voz de uma menina ou mulher que conhece".

A teoria psicanalítica clássica concentrou-se sempre na psicanalítica clássica concentrou-se sempre na posição da criança com relação a ambos os pais. O drama de Édipo da teoria freudiana requer três participantes: mãe, pai e filho.  Winnicott, no entanto, escreveu muito pouco sobre a figura paterna; a maior parte de seu trabalho é centrada apenas na mãe e no bebê. Sem dúvida, a ênfase que ele dedicou à figura materna - sua contribuição vital para a pesquisa psicanalítica - derivou dos fortes laços entre Winnicott e as mulheres que cuidavam dele. Escreve sobre mães e bebês com tamanha intimidade que as, pessoa s imaginam que ele pessoalmente amamentou várias crianças. (fragmento biográfico baseado no Capítulo do livro “D. W. Winnicott - Um Retrato Biográfico”, de Brett).

(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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