quarta-feira, 20 de julho de 2022

PATATIVA, vinte anos de poesia ausente

Por Cândido B. C. Neto (*)

Dia 8 de julho de 2022, muitos amigos lembrarão da morte do nosso estimado poeta Patativa do Assaré, exatamente, há 20 anos. Ao longo de sua trajetória de vida, Antônio Gonçalves da Silva tem-se comportado como um testemunho vivo do povo nordestino, laboriosamente fazendo do seu verso uma grande construção, com marcas memoráveis de nossa História.

Fastidioso seria descrever as significativas opiniões sobre Patativa. Muitos já fizeram em diversas publicações, mas gostaria de ler parte do texto de minha lavra, proferido no Conselho Universitário, por ocasião da outorga do Título de Doutor Honoris Causa da Uece, para explanar o poeta.

Na paisagem deste Nordeste marcado pela aridez de uma natureza hostil, o poeta nele subside e denuncia a persistência de nossas herança sócio culturais improdutivas e se torna a própria ruptura na qual criação e tradição se combinam para fazer história.

Patativa, com sua poesia fecundada no ventre fertil da terra, geminada no solo libertino do povo, com sua expressão simples ultrapassa os limites e atinge a força totalizadora da compreensão humana.

O poeta não se contenta com a existência individual e faz dos seus versos hinos coletivos, os personagens do seu cotidiano se universalizam, os feitos do sul são cantados no norte e o norte nos ventos do sul, e este é o ciclo longo como a lavoura dos seus poemas.

Atravessando as gerações, sem os hábitos estéticos da civilização urbana, Patativa permanece com uma produção rural, universalizada, na escola itinerante da vida, onde ele é esta paixão capaz de traçar longos destinos nos seus sonhos humildes, cantados entre veredas, pradarias, rios, tabuleiros do sertão, ou mesmo amontoados nas metrópoles do país.

O Patativa é um desafio do século ou do milênio, um repente da natureza com o homem, para mostrar seus instrumentos de afago e luta. Por isso, não adianta disfarçar o cenário, pois o verso é obra subjetiva desse sentimento nordestino, enquanto as cercas de arame farpado continuam traçando o destino dos homens.

Somente uma abordagem abrangente do sertão nordestino, capaz de contribuir para o desvelamento da verdade, faria desde poeta de aguda percepção da existência e por tudo quanto representa para a literatura nacional e nordestina e em particular para o Ceará, para a geração da nossa época, um dos símbolos do último século. 

(*) Professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) Coordenador da Educação Superior na Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 8/07/22. Opinião, p.16.

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