sexta-feira, 12 de maio de 2023

Crônica: “No lugar da dipirona, (um prato) de pirão!” ... e outros causos

No lugar da dipirona, (um prato) de pirão!

- Pai! Corra na farmácia de mestre Janu e pergunte a ele se eu posso dar dipirona pra Neném (menino de colo dela)! Se posso, traga umas quatro! Cuide!

- Sim, Mocinha! Vô vexado!

- Diga a ele que meu bichim acordou com dores musculares, nas juntas, dor de cabeça, fraqueza, apatia, irritabilidade, indisposição, perda de apetite, boca seca, desidratação...

Dedé Cololó, dos seus 78 anos, já meio broco, mete o pé na carreira em busca do Arraial. No estabelecimento sortido de Janu, pela pressa por ali estar, ante o "avexame" da filha Laurinha com seu menino febril, está de todo confuso. Despacha o que lhe vem à cabeça:

- A Laura pediu que eu viesse aqui pegar uma... quer dizer, comprar o remédio da...

- Cuma, seu Dedé?

- Neném, o bichim dela, tá daquele jeitão! É num sei quê, num sei que mais que ele tem...

- Laurinha quer exatamente o quê, homem?

- Um remédio, que o menino dela tá naquela base. É o.... Começa com di!...

- Diacqua, Diad, Diaformin, Diafuran, Dialudon, Diamox, Diane 35, Diclin?...

- Diabo! É não! Eu se esqueci!

- Pois vá em casa, pergunte a ela e revolte aqui!

E o veim, tadinho, volta pra trás contrariado. Que dizer à filha aperreada se esquecera o que foi pegar na farmácia? Mas, ante a possibilidade de receber um cagaço de Laurinha pelo esquecimento, não deu o braço a torcer e ele mesmo receitou, algo no rumo:

- Laura! Janu disse que tu desse um prato de pirão pra Neném! De pirão!

Certeza, certeza mesmo...

E o saudoso Paulo Romeu, conversando na calçada de Kaitinha com o sobrinho Davi, falava insistente nos "meninos de Tânia pra cá, meninos de Tânia lá". Davi se invoca:

- Paulo, se Tânia é sua mulher, por que dizer 'os filhos de Tânia'?

- Seguinte, Davizim...

- Já sei! Quando tu casou, ela já veio com os meninos! Eles não são seus filhos biológicos!

- Não!!! É que eu vi os meninos saindo dela, mas, da minha parte, terei sido eu o autor?

Os véi... Sou um deles!

De repente chego aos 65 e nem dei fé de que tô véi. Foi a sensação que me dominou no banco, no dia em que fui receber meu primeiro pagamento da aposentadoria. Agência fria e eu ali, pensando em quão rápido foi tudo; ontem, jogando bola no campo do João Maia; ôi grelado na aula de OSPB do professor Sebastião Carlos no Colégio Júlia Jorge; pegando camarão sossego de choque no rio do Cauípe; namorando sem malícia... Hoje, encostado pelo "INPS", alvo de prioridades.

E a confusão de filas no dito banco - a ruma gente para o saque e pagamentos, misturada ao povo "dos aposentos". E aí?

Senhora dos seus 80 e lá vai cacetada pede ao segurança bote moral na esculhambação. Ele explica que não pode sair do posto, ela que trate de organizar o fuá. A mulher, agora com poderes, posta-se à frente do grupo de clientes. Enchendo o peito de disciplina, aponta pro corredor e dispara, olhando pra minha cara de papangu:

- Os véi, é tudo pra cá!!! Tu também, bonitão!!!

Como se o público não tivesse entendido o recado, a senhora realça o pedido, redirecionando os gritos à minha modesta pessoa:

- Só os véi pra cá! Viu, bonitão?

Véi por véi...

- Tô igual a menino: às 5 horas eu mijo, às 6 eu obro e às 7 horas eu acordo!

Fonte: O POVO, de 21/04/2023. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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