quinta-feira, 4 de maio de 2023

FOME E AQUECIMENTO GLOBAL

Meraldo Zisman (*)

Médico-Psicoterapeuta

… Nossa hipótese é que o investimento na educação primária e secundária em todo o mundo é a estratégia mais eficaz para nos prepararmos para enfrentar os perigos ainda incertos, associados ao clima futuro.

Tá difícil. O aquecimento global é outra campanha de terror que não tem fundamentos e que se espraiou de maneira pandêmica. O planeta se aquece e se esfria a seu bel-prazer, com nossa participação ou não. E, apesar das muitas explicações, calmarias não acontecem.  Leia o que dizem determinadas pesquisas na moda, perigosíssimas nesta era cibernética em que, diante da fome crônica que assola o mundo desde que existimos, são usadas certas palavras, designações, acusações não explicadas corretamente e aumentando o medo e a ansiedades de todos.

Existem diferentes categorias de poluição, como a atmosférica, a hídrica, a dos solos, a sonora e a visual. Qualquer delas pode ser bastante nociva para os seres vivos, incluindo o ser humano, que tem potencial para desenvolver problemas de saúde, criados também pelo idiotismo desequilibrado que acusa a mente humana de ser responsável pela destruição da ecologia. Sem dúvida, sob certos aspectos, estamos agravando a poluição causada pelo avanço técnico-cientifico. Juntar o aquecimento global à educação me parece um tanto esdrúxulo.

A variação da temperatura do planeta, que torna o clima imprevisível, trouxe uma infinidade de problemas, desde enchentes e deslizamentos de terra, aumento de precipitações pluviométricas, novas doenças pandêmicas das mais variadas espécimes, como malária e dengue. A recente pandemia da covid-19 piorou as coisas, fechando salas de aula para 1,6 bilhão de crianças em todo o mundo.

Antes da pandemia, 53% das crianças de dez anos em países de baixa e média renda não sabiam ler um texto simples. Esse número pode ter subido para 70%, estima o Banco Mundial. Considerando que as populações das regiões mais carentes tendem a ser conservadoras, muitas vezes elas se apegam obstinadamente aos métodos agrícolas que alimentaram seus antepassados. Tentar algo novo, para eles, pode ser fatal se não houver uma alternativa econômica ou uma rede de segurança.

Um agricultor de subsistência que arrisca uma nova técnica de plantio, e que esta falha, pode morrer de fome, ele e a sua família. A fome afeta as crianças e jovens em seu desenvolvimento, sendo que as variações biotípicas como o nanismo também afetam o cérebro. Essas crianças certamente terão um desempenho pior na escola.

Um estudo de Erich Striessnig, Wolfgang Lutz e Anthony Patt, do Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicado de Luxemburgo trata da relação entre os efeitos na área educacional e a vulnerabilidade criada pelo risco climático. (Conferir em Ecologia e Sociedade http://dx.doi.org/10.5751/ES-05252-180116). Ali se sugere maneiras pelas quais a educação pode reduzir tais efeitos e garantir a sobrevivência. No contexto de efeitos específicos ainda incertos das mudanças climáticas em alguns locais, esse artigo examina se a educação aumenta significativamente a capacidade de enfrentamento em relação às mudanças climáticas e se melhora a resiliência das pessoas aos riscos climáticos, em geral.

Nossa hipótese é que o investimento na educação primária e secundária em todo o mundo é a estratégia mais eficaz para nos prepararmos para enfrentar os perigos ainda incertos, associados ao clima futuro.

A evidência empírica apresentada por uma série temporal de fatores associados a desastres naturais acontecidos a partir de 1980 em 125 países confirma a importância primordial da instrução na redução dos impactos causados pelas variações climáticas. O estudo apresenta também novas projeções de populações por idade, sexo e nível de escolaridade até 2050. Os pesquisadores descobriram ainda que, se a mãe foi educada, seu filho(a) tem muito menos probabilidade de ser atrofiado. De fato, crianças nascidas em famílias pobres, mas filhos de mães instruídas, enfrentaram aproximadamente o mesmo risco de atraso no crescimento devido a enchentes que as crianças nascidas em famílias ricas, mas filhos de mães sem instrução.

A realização educacional mais básica — a alfabetização — mostrou como ela pode ajudar as pessoas a se adaptarem às mudanças climáticas, criando a base para aprender novas habilidades. A educação, sobretudo, dá às pessoas a confiança para se libertar das tradições, a curiosidade para buscar nova informação e a habilidade cognitiva para processá-la e agir sobre ela.

Existem várias razões prováveis para isso. Mães com mais escolaridade normalmente entendem mais sobre nutrição; são mais escrupulosas em relação à higiene e mais inclinadas a buscar a medicina convencional e a avaliar riscos antes ignorados, respondendo de maneira mais avisada às imprevisíveis mudanças climáticas sem diminuir a importância da educação, que passa de uma geração para outra.

A pior fome é a fome ancestral a qual defino como a que passa de uma geração para as seguintes. Pouco tem a ver com as mudanças climáticas. Devemos ter cuidado e buscar confirmar as bases das notícias falsamente cientificas. O cientismo ainda é uma arma perigosa e assustadora.

(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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