quarta-feira, 24 de maio de 2023

ESCOLAS AMEAÇADAS

Por Sofia Lerche Vieira (*)

A Constituição Federal (CF) de 1988 afirma a educação como um direito social (Art. 5), cuja finalidade é "o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho" (Art. 205). A escola é a instituição onde tais processos são desenvolvidos, mediante o acolhimento de crianças, jovens adultos para o cotidiano ato de ensinar e aprender. Este espaço de proteção social hoje se vê ameaçado. Em uma sequência de atos criminosos, que culminaram em assassinatos de estudantes e professores, a exemplo de uma escola estadual em São Paulo e uma creche em Santa Catarina, as escolas brasileiras passaram a ser lamentável alvo de tentativa de novas agressões e objeto de fake news.

O significado social e político de tais ataques merece uma reflexão. A escola é parte de um contexto mais amplo e nela se refletem os problemas mais gerais de uma sociedade. Esses atos brutais ocorrem no cenário de um país adoecido pelo ódio, exacerbado por divisões ideológicas antes menos visíveis no país. Culpa-se a pandemia pelo crescimento sem precedentes dos problemas de saúde mental. De fato, pode haver uma associação nefasta entre a vivência desse período tão difícil e a violência física e simbólica expressa nesses atos que aterrorizam e enchem de medo as famílias e a comunidade escolar. Mas há algo mais a ser compreendido nos gestos bárbaros cometidos por essas mentes doentias. Há que se compreender esse movimento no quadro mais amplo de um mundo em processo de radicalização potencializada pelas redes sociais, onde circulam conteúdos que incitam ao crime e geram inverdades.

Governos estaduais e municipais elegeram como prioridade o desenvolvimento de protocolos de proteção e segurança da comunidade escolar. O governo federal procura fazer a sua parte com aporte de 3,2 bilhões para ações diversas de prevenção a tais crimes. Ainda assim, a insegurança persiste. O debate sobre essas questões é inadiável. A ameaça às escolas, inaceitável. Que novas políticas públicas integrem esse movimento e a sociedade se dê as mãos em uma cultura de paz!

(*) Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 24/04/23. Opinião, p.18.

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