Crônica: “Quando o porco não é um suíno...” ... e
outros causos
Quando o porco não é um suíno...
O
célebre pensamento de Ariano Suassuna - "tudo o que é ruim de passar é bom
de contar e tudo o que é bom de passar é ruim de contar" - cabe
perfeitamente aqui, deveras. Nonato, cunhado dileto, passando uns dias aqui em
casa - reside há anos na Veneza Brasileira, decidiu ir à casa do amigo Ribamar,
que não via desde 1999.
O
irmão de minha mulher ouvira por conhecidos, na capital cearense, que
"Ribinha" trazia consigo já os primeiros sinais do mal que tem
afetado por demais os que viramos a quilometragem dos 70 - dificuldade de
encontrar palavras para completar uma frase e, sobremodo, de ir buscar na
memória fatos recentes ou não (ficamos "inesquecíveis").
Tinha
urgência o irmão de minha mulher em ver o contemporâneo de Colégio Cearense,
até porque o obrigava a viagem de retorno a Recife, dia seguinte. Nonato, sem a
menor intenção de querer magoar, falou-me sincera e ingenuamente, lembrando
Suassuna:
-
Preciso visitar meu amigo Ribamar enquanto ele se lembra de mim!
Viva a Linguagem Simples!
Essa
eu também testemunhei. Levei ao Alicate (no Monte Castelo) o Zé Felismino,
vaqueiro de papai, para que o valente sertanejo se fartasse do prato principal
da casa, há décadas: bisteca com baião de dois e batata inglesa na maionese. E
farofa com vinagrete.
Mas,
Zé tinha intenção gastronômica diversa - culpa minha, que deveria ter-lhe
perguntado o que queria traçar. Cheio de moral, decidido a pagar a conta
(vendera saca de castanha de caju no preço), chamou o garçom e, desejando comer
uma costelinha de porco assada, indagou educado:
-
Além da bisteca de gado, do carneiro, do frango e da tilápia, que outra mistura
tem aí?
-
Também suíno! - respondeu o garçom, olho grelado na mesa ao lado.
-
E porco, vocês não têm???
Chora, cão!
Maria,
criaturinha birrenta, cometera danação substantiva e a mãe não deixou por
menos. Cinturão em mão, aplica-lhe corretivo exemplar: dez lapadas no
espinhaço. Primeira, segunda e terceira chibatadas e Maria, nem aí - como se
assistisse à sessão da tarde. Quarta, quinta, sexta, sétima e oitava sabugada e
nada de a menina chorar. Demais relhadas, a mão da mãe já nem pesava de
cansaço, e nada de a garota pedir penico.
Assustada
com a reação da filha - magra e abusada, a senhora pensa que aquilo "não é
coisa de Deus". Benze-se com o cinto, toda tremendo, e conversa em voz
alta com o Alto:
-
Senhor, essa Menina tá é com o cão nos couros! - E haja a velha a rezar: -
Creio em Deus Pai todo poderoso...
O verdadeiro pão de açúcar
Consultório
do clínico geral Dr. João, entendedor de nutrição como poucos. O caso do
paciente - Jair Moraes - requer prudência no consumo de açúcar. Pré-diabético
na risca, terá que abdicar dos doces que tanto dá valor. E não só:
-
As massas e o arroz têm muito carboidrato, convertidos em açúcar no organismo.
-
Doce de leite, rapadura, bombom, tudo bem, doutor! Mas, o arroz?!?
-
Sim! Carboidratos simples como o arroz, digeridos e absorvidos rapidamente,
causam um aumento acelerado nos níveis de açúcar no sangue, dando pico de
glicose.
E
o Poeta dos Cachorros deixa o consultório com a informação de que arroz tem
muito açúcar a lhe martelar o juízo, coisa que não entrava na cabeça. Chegando
em casa, a mulher Doriana fala que se acabou o açúcar pra botar no suco do
almoço. E Jair...
-
Bota duas colheradas de arroz!
Fonte: O POVO, de 21/11/2025. Coluna
“Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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