Por
Vladimir Spinelli Chagas (*)
Dentre as muitas riquezas do Ceará, a
literatura oral tem uma enorme relevância, pela tradição rica em mestres do
improviso e da narrativa, como os nossos contadores de história, cordelistas,
repentistas e as benzedeiras e parteiras.
Para além de artistas, esses personagens
são os guardiões do nosso patrimônio imaterial, da memória coletiva e da
identidade regional, em contraste a um mundo cada vez mais voltado para as
telas dos computadores e dos celulares.
Quando se perde um desses guardiões, parte
dessas riquezas também é perdida, com exceção daquelas que tenham sido
gravadas, escritas, ensinadas. Mesmo nessas, há uma perda com relação à
performance, pois o tom de voz, os gestos e o contato direto nunca podem ser
repostos.
Os nossos repentistas, têm uma habilidade
rara de criar versos sob pressão, totalmente conectados com temas atuais ou do
passado e a responder a motes complexos, mesmo assim respeitando a métrica e as
rimas e criando um ambiente único.
Já nossos cordelistas fazem o elo entre o
oral e o escrito, popularizando a literatura e a história contada, com temas
que despertem a atenção do povo, levando à venda dos respectivos cordéis, impressos
de forma artesanal e comercializados normalmente em feiras do interior.
Quanto às benzedeiras e parteiras, estas
carregam também saberes dos seus ancestrais, que são repassados por gerações, incluindo
rezas, orações e curas, em rituais carregados de fé e tradição.
O Ceará tem buscado preservar esses
saberes, como é exemplo o projeto que instituiu o Programa de Mestres da
Cultura, que além do incentivo à difusão e fortalecimento das tradições, apoia
financeiramente esses guardiões, para que possam melhor se dedicar à sua arte.
As instituições cearenses, de uma forma
geral, devem juntar esforços no sentido de ampliar essas iniciativas, para que
nomes como o poeta Patativa do Assaré, o cordelista Arievaldo Viana, o
repentista Geraldo Amâncio, a contadora de histórias, Mestra Zulene Galdino e a
benzedeira, Mestra Margarida Guerreira permaneçam vivos, mostrando que a
literatura oral cearense é um manancial de poesia, fé e memória.
(*) Professor aposentado
da Uece, membro da Academia Cearense de Administração (Acad) e conselheiro do
CRA-CE. Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 3/11/25. Opinião. p.22.

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