Por Pedro Jorge Ramos Vianna (*)
Em artigo
anterior sugeri que o Brasil poderia adotar a política da moeda nacional
subvalorizada para os negócios de exportação e importação com os Estados
Unidos. Chamo a atenção que o Brasil já adotou essa política, com o uso de
taxas cambiais diferenciadas em seu comércio internacional. Assim, isto não
seria novidade.
Mas, qual a
justificativa para o emprego de tal política? Primeiro é o apelo dos
empresários para o uso de política tarifária. O problema é que o Tesouro
Brasileiro está deficitário. Assim, qualquer benefício nessa área, acarretaria
maior pressão sobre ele. Da mesma forma o cancelamento de dívidas, se existirem,
das empresas prejudicadas, também pressionaria o Tesouro. E a compra por parte
do governo dos produtos não exportados só se aplica para determinados bens,
principalmente os de primeira necessidade.
Dadas estas
considerações é que advogo o uso da política cambial como uma alternativa menos
danosa aos cofres federais. A minha ideia é a adoção do real subvalorizado,
tanto para as exportações das empresas brasileiras, como para as suas
importações. Mas, somente para os negócios com os Estados Unidos.
Quais as
consequências dessa política? No que diz respeito às importações ela funciona
como um encarecimento dos preços e, portanto, tende a diminuir essas
transações. Assim, ela funciona como um “tarifaço” contra os bens importados
daquele país.
E quanto às
exportações? Neste caso, ela funciona como um adicional de preços, um ganho
"extra". Outra consequência é que não haveria pressão sobre o
Tesouro. Chamo a atenção que em relação aos outros países a taxa cambial seria
uma só, sem a característica da subvalorização do real.
Também faço a
ressalva que o Bacen poderia ter perdas cambiais nos negócios com os EUA, a
depender do saldo do Balanço de Pagamentos com aquele País.
Veja-se que
quando há exportação, o Bacen recebe divisas e entrega Reais aos exportadores.
Quando há importação ele recebe Reais e entrega divisas. Como, normalmente, o
saldo do balanço comercial Brasil/EUA é negativo, o resultado seria um “ganho”
em Reais e uma “perda” em divisas. Se o resultado do balanço comercial for
positivo, o resultado seria o inverso.
Entretanto, o
efeito sobre a política monetária no Brasil, mesmo na primeira hipótese, não
seria de grande monta, haja vista que, conforme as últimas estatísticas
publicadas pelo Bacen, em 2025, o Papel Moeda em Circulação no Brasil situa-se
em torno de R$347,3 bilhões, o que equivale a, aproximadamente, 3,13% do PIB.
Desta forma a
política de câmbio diferenciado, neste caso, não será danosa nem para a
política tarifária, haja vista que não afeta o Tesouro, nem para a política
monetária, pois não há pressão inflacionária.
(*)
Economista e professor titular aposentado da UFC,
Fonte:
O Povo,
de 16/11/25. Opinião. p.20.

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