sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

ANO NOVO: as necessárias desidealizações


Por José Jackson Coelho Sampaio (*)
Precisamos de ritos, mas não aqueles que nos fazem repetir erros ou voltar às mesmas ações como se tivéssemos perdido a memória. Então, vamos aos ritos, à alegria de lutas e conquistas, porém, adeus às ilusões. Neste início de 2018 impõe-se desidealizar o Ano Novo, a felicidade, o amor, a família e a política.
Uma mudança de ano raramente significa ruptura de ordem ou lógica. Precisa-se do rito pela marcação do tempo, que assim pode ser domado, sem a imprevisibilidade da morte. Continuamos desafiados a resolver os problemas ou a romper os impasses que deveríamos ter feito no ano anterior e não nos foi possível.
A felicidade, como meta obsessiva, totalitária e inexorável, semeia a vida de infelicidade, que, quando não aceita, é rotulada de fracasso ou doença. Sem a adjetivação, o melhor talvez seja pôr a dignidade como meta, pois enfrentar os desafios é melhor do que soluções provisórias que, sem dúvida, excluem outras saídas.
O amor tornou-se panaceia universal. O som da palavra parece tudo explicar e resolver. Mas, não há amor à primeira vista, precisa de amadurecimento. Amor é incompatível com sua redução à sexualidade ou à sua transferência para abstratos construtos de ideologias e crenças. O que requer é generosidade e reconhecimento do amado como ser autônomo perante o amador.
A família é uma instituição histórica, ainda melhor que o Estado para a tarefa de cuidar de crianças, mas datada e mutável. Há que atentar para a multiplicidade das formas que ela, hoje, adquire. Contanto que possam ser praticadas as funções de acolher, cuidar e organizar scripts de vida, sustentando a solidez das narrativas que nos constituem.
Quanto à política? Os humanos somos política, ética e técnica. Ela não nos salva, é só o modo de inventar, instituir e distribuir poder, gerando critérios para a divisão de trabalho na sociedade e na economia. Recuse quem ganha poder com a ignorância e os medos das maiorias. Vote na liberdade, na igualdade de direitos, no respeito à diversidade.
(*) Professor titular em saúde pública e reitor da Uece.
Publicado. In: O Povo, Opinião, de 13/1/18. p.10.

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