Por José Jackson
Coelho Sampaio (*)
Precisamos de ritos, mas não aqueles que nos fazem
repetir erros ou voltar às mesmas ações como se tivéssemos perdido a memória.
Então, vamos aos ritos, à alegria de lutas e conquistas, porém, adeus às
ilusões. Neste início de 2018 impõe-se desidealizar o Ano Novo, a felicidade, o
amor, a família e a política.
Uma mudança de ano raramente
significa ruptura de ordem ou lógica. Precisa-se do rito pela marcação do
tempo, que assim pode ser domado, sem a imprevisibilidade da morte. Continuamos
desafiados a resolver os problemas ou a romper os impasses que deveríamos ter
feito no ano anterior e não nos foi possível.
A felicidade, como meta obsessiva,
totalitária e inexorável, semeia a vida de infelicidade, que, quando não
aceita, é rotulada de fracasso ou doença. Sem a adjetivação, o melhor talvez
seja pôr a dignidade como meta, pois enfrentar os desafios é melhor do que
soluções provisórias que, sem dúvida, excluem outras saídas.
O amor tornou-se panaceia
universal. O som da palavra parece tudo explicar e resolver. Mas, não há amor à
primeira vista, precisa de amadurecimento. Amor é incompatível com sua redução
à sexualidade ou à sua transferência para abstratos construtos de ideologias e
crenças. O que requer é generosidade e reconhecimento do amado como ser autônomo
perante o amador.
A família é uma instituição
histórica, ainda melhor que o Estado para a tarefa de cuidar de crianças, mas
datada e mutável. Há que atentar para a multiplicidade das formas que ela,
hoje, adquire. Contanto que possam ser praticadas as funções de acolher, cuidar
e organizar scripts de vida, sustentando a solidez das narrativas que nos
constituem.
Quanto à política? Os humanos
somos política, ética e técnica. Ela não nos salva, é só o modo de inventar,
instituir e distribuir poder, gerando critérios para a divisão de trabalho na
sociedade e na economia. Recuse quem ganha poder com a ignorância e os medos
das maiorias. Vote na liberdade, na igualdade de direitos, no respeito à
diversidade.
(*) Professor
titular em saúde pública e reitor da Uece.
Publicado. In: O
Povo, Opinião, de 13/1/18. p.10.
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