sábado, 13 de janeiro de 2018

DOM ALOÍSIO: o homem, o teólogo, o Pastor


Por Padre Evaristo Marcos (*)
Falar do Cardeal Lorscheider, ou como gostava de ser chamado, de dom Aloísio, é uma tarefa fácil e difícil ao mesmo tempo. Fácil, porque quem o conheceu e conviveu com ele tem recordações profundas de seu jeito de ser e de agir. Difícil porque é impossível colocar em pouco espaço aquilo que ele é e representa para a Igreja e para a sociedade, particularmente nós de Fortaleza, do Ceará. Quero falar de três qualidades essenciais: o homem, o teólogo, o pastor.

1. Dom Aloísio, o homem: uma pessoa humana que tinha as características do que é verdadeiramente humano: acolhedor, simples, pobre, dialogável. Sabia acolher a todos valorizando cada um, querendo saber o nome, olhando nos olhos. Sabia escutar. Passava horas escutando as pessoas, falava somente quando a pessoa já tinha dito tudo. Era sua característica fundamental: escutar, acolher, dialogar, valorizando cada pessoa.
2. Dom Aloísio, o teólogo: tendo recebido a sua formação teológica bebendo da teologia franciscana, era um autêntico teólogo: homem que pensava a fé, olhava os grandes problemas da humanidade, partindo de sua profunda experiência de Deus. A sua teologia é uma teologia encarnada na história: pensa a pessoa humana como imagem e semelhança de Deus, e encontra em Jesus de Nazaré, a imagem do homem perfeito. Não se intimidava em produzir teologia. Um dia escutei de um cardeal americano em Roma: “Este sabe o que é teologia, sabe falar de Deus e das pessoas. Fico impressionado como ele consegue falar dos grandes temas da teologia de modo que torna compreensível a todos”. Esse era o olhar dos que o escutavam e o admiravam!
3. Dom Aloísio, o Pastor: esta é a fase mais conhecida e significativa. Um pastor além do seu tempo. Quando escutamos hoje o papa Francisco falar de “Igreja em saída”, “Igreja como hospital de campo”, quem conheceu dom Aloísio, pensa: esta é a Igreja que dom Aloísio queria e vivia! Uma Igreja sinodal, colegial, comunitária, de comunhão e participação. Quando se perguntava das grandes aspirações do mundo contemporâneo, gostava de repetir: somente quando formos capazes de sentir as aspirações da humanidade do nosso tempo, a Igreja poderá ser aquilo que ela realmente é: servidora da humanidade! Para ele, a Igreja tem que estar presente no mundo, sobretudo no mundo dos empobrecidos, dos marginalizados, dos esquecidos. Como pastor, era aquele que estava com o seu rebanho. Para ele, o autêntico pastor “é aquele que tem disposição de dar a própria vida pelos fiéis. Pastor verdadeiro é aquele que realmente conhece os fiéis e os problemas deles, aquele que está familiarizado com a vida. Se vai à frente deles, não é para impor normas, mas para servir de testemunha da profunda e corajosa confiança cristã em Deus”. Como homem do diálogo, soube dialogar com a sociedade, com a política, com os meios de comunicação. Era o homem da denúncia, um autêntico profeta, uma voz que não calava. Sua principal preocupação: o bem das pessoas, a vida em abundância!
Para a Igreja de Fortaleza, deixou o legado da unidade, da comunhão, de uma Igreja pobre, com os pobres, para os pobres. Sem exclusão! Único norte fundamental: o Evangelho. Assim, para ele, todos os cristãos, são chamados a entrar na lógica do Evangelho!
(*) Padre da Arquidiocese de Fortaleza. Professor da Faculdade Católica de Fortaleza.
Fonte: O Povo, de 27/12/2017. Opinião. p.9.

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