Por Padre Evaristo Marcos (*)
Falar do Cardeal Lorscheider, ou como gostava de ser chamado, de dom Aloísio, é uma tarefa fácil e difícil ao mesmo tempo. Fácil, porque quem o conheceu e conviveu com ele tem recordações profundas de seu jeito de ser e de agir. Difícil porque é impossível colocar em pouco espaço aquilo que ele é e representa para a Igreja e para a sociedade, particularmente nós de Fortaleza, do Ceará. Quero falar de três qualidades essenciais: o homem, o teólogo, o pastor.
Falar do Cardeal Lorscheider, ou como gostava de ser chamado, de dom Aloísio, é uma tarefa fácil e difícil ao mesmo tempo. Fácil, porque quem o conheceu e conviveu com ele tem recordações profundas de seu jeito de ser e de agir. Difícil porque é impossível colocar em pouco espaço aquilo que ele é e representa para a Igreja e para a sociedade, particularmente nós de Fortaleza, do Ceará. Quero falar de três qualidades essenciais: o homem, o teólogo, o pastor.
1. Dom Aloísio, o homem: uma pessoa humana que tinha as
características do que é verdadeiramente humano: acolhedor, simples, pobre,
dialogável. Sabia acolher a todos valorizando cada um, querendo saber o nome,
olhando nos olhos. Sabia escutar. Passava horas escutando as pessoas, falava
somente quando a pessoa já tinha dito tudo. Era sua característica fundamental:
escutar, acolher, dialogar, valorizando cada pessoa.
2. Dom Aloísio, o teólogo: tendo recebido a sua formação
teológica bebendo da teologia franciscana, era um autêntico teólogo: homem que
pensava a fé, olhava os grandes problemas da humanidade, partindo de sua
profunda experiência de Deus. A sua teologia é uma teologia encarnada na
história: pensa a pessoa humana como imagem e semelhança de Deus, e encontra em
Jesus de Nazaré, a imagem do homem perfeito. Não se intimidava em produzir
teologia. Um dia escutei de um cardeal americano em Roma: “Este sabe o que
é teologia, sabe falar de Deus e das pessoas. Fico impressionado como ele
consegue falar dos grandes temas da teologia de modo que torna compreensível a
todos”. Esse era o olhar dos que o escutavam
e o admiravam!
3. Dom Aloísio, o Pastor: esta é a fase mais conhecida e
significativa. Um pastor além do seu tempo. Quando escutamos hoje o papa
Francisco falar de “Igreja em saída”, “Igreja como hospital de campo”, quem
conheceu dom Aloísio, pensa: esta é a Igreja que dom Aloísio queria e vivia!
Uma Igreja sinodal, colegial, comunitária, de comunhão e participação. Quando
se perguntava das grandes aspirações do mundo contemporâneo, gostava de
repetir: somente quando formos capazes de sentir as aspirações da humanidade do
nosso tempo, a Igreja poderá ser aquilo que ela realmente é: servidora da
humanidade! Para ele, a Igreja tem que estar presente no mundo, sobretudo no
mundo dos empobrecidos, dos marginalizados, dos esquecidos. Como pastor, era
aquele que estava com o seu rebanho. Para ele, o autêntico pastor “é aquele que
tem disposição de dar a própria vida pelos fiéis. Pastor verdadeiro é aquele
que realmente conhece os fiéis e os problemas deles, aquele que está
familiarizado com a vida. Se vai à frente deles, não é para impor normas, mas
para servir de testemunha da profunda e corajosa confiança cristã em Deus”.
Como homem do diálogo, soube dialogar com a sociedade, com a política, com os
meios de comunicação. Era o homem da denúncia, um autêntico profeta, uma voz
que não calava. Sua principal preocupação: o bem das pessoas, a vida em
abundância!
Para a Igreja de Fortaleza, deixou o legado da unidade,
da comunhão, de uma Igreja pobre, com os pobres, para os pobres. Sem exclusão!
Único norte fundamental: o Evangelho. Assim, para ele, todos os cristãos, são
chamados a entrar na lógica do Evangelho!
(*) Padre da Arquidiocese de Fortaleza. Professor da
Faculdade Católica de Fortaleza.
Fonte: O Povo, de 27/12/2017.
Opinião. p.9.
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