segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

A MENTIRA ACIMA DE TUDO E DE TODOS


Por Márcia Alcântara Holanda (*)
Quando fui fazer minha primeira comunhão, ao me confessar pela primeira vez, o pecado apresentado ao pé do confessionário, foi o de que eu havia mentido para minha avó, quando ela perguntara certo dia quem havia comido a última fatia dourada que sobrara do café das três da tarde, e que guardara para uma amiga que iria visitá-la, pelas cinco. Foi a mim e inquiriu se havia sido eu quem a comera. Respondi que não, mas comera. Pronto: instalou-se em mim o medo de ser descoberta e a vergonha por ter cometido esse deplorável ato, que de acordo com os preceitos dela, mentir prejudica o outro, leva a se fazer atos ilícitos e a ficar-se desacreditada. Calei-me, carregando comigo o peso do arrependimento e da vergonha daquela atitude que prejudicara minha avó. Só no escuro do confessionário consegui revelar minha mentira, e pedir perdão a ela, em seguida.
Hoje, deparo-me diariamente com um turbilhão de mentiras postadas na imprensa e redes sociais. Não escapa nenhum veículo de comunicação que não albergue um número deplorável de declarações mentirosas, que terminam às vezes sendo assimiladas por seus autores e interlocutores como verdadeiras. A mentira é a ilusão da verdade, dizem os psicólogos. Essa estratégia de enganar o outro, anda sendo muito usada ultimamente. Mente-se por tudo. Não consegui localizar, por exemplo, entre centenas de corruptos condenados pela Lava Jato, sequer um, que tivesse confessado seus delitos, muito menos pedido perdão ao povo por atos criminosos, provados por mecanismos judiciais. A polarização do contrário na política tem sido um berço para o manancial de mentiras que se geram diariamente, promovendo o engano, levando a esperanças vãs, desmoronando as atitudes lícitas que desejamos para atuais e futuros governantes. A mentira parece ser o mote dos polarizadores políticos. Estar ou alcançar o poder, passa pela mentira contumaz nos dias de hoje.
Resta-nos usar e abusar de nosso poder de reflexão e discernimento para não cedermos ao ímpeto tão falso dos poderes constituídos, que ora se digladiam embasados na mentira acima de tudo e de todos. 
(*) Médica pneumologista; coordenadora do Pulmocenter; membro da Academia Cearense de Medicina.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 2/12/2019. Opinião. p.20.

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