domingo, 26 de janeiro de 2020

AFINAL, QUEM FOI MARIA MADALENA?


Por Pe. Eugênio Pacelli SJ (*)
É impressionante a quantidade de filmes e livros lançados sobre Maria Madalena. Alguns valem a pena pelo rigor teológico e histórico inquestionáveis, outros para ver até onde chega a falsificação histórica e a imaginação criativa de muitos.
Em tempos de abertura e valorização do papel da Mulher na Igreja vale a pena a reconstrução histórica, teológica e espiritual desta mulher, que marcou a história cristã e em alguns momentos foi esquecida e desvalorizada. Chamava-se Maria, e era de Magdala. Já no próprio nome está explícito seu perfil de mulher independente, à frente de sua época. É nomeada pelo povoado de onde veio, e não em relação a um parente do sexo masculino, isso indica que era mulher de recursos, não submetida a outros e com autonomia para fazer parte do grupo de Jesus. É a mais citada nos Evangelhos, 17 vezes, mais inclusive que a mãe de Jesus. Acompanha Jesus no início de seu ministério, é a testemunha privilegiada da morte e Ressurreição.
Durante os primeiros séculos existiram duas tradições sobre Maria Madalena: em comunidades cristãs, nas quais as mulheres exerciam um ministério oficial, Maria era reverenciada como primeira testemunha da Ressurreição. Irineu, Orígenes e João Crisóstomos a nomearam como "Apóstola dos Apóstolos". No terceiro século, Agostinho a confundia e identificava como a pecadora, porém foi o papa Gregório Magno, em uma de suas homilias declarou "Maria Madalena, Maria de Betânia e a pecadora citada por Lucas a mesma pessoa" a levando ao ostracismo e discriminações, no qual a Igreja terá sido vítima de um patriarcalismo secular, ao assimilar Madalena à prostituta, para a desonrar e recusar às mulheres o seu pleno lugar. A verdadeira Maria de Madalena representaria muito mais: a solidariedade, a lealdade mesmo perante a morte, a coragem, a criatividade, a perseverança.
O papa Francisco, em tempos de renovação, ao declarar o dia de Maria Madalena (22 de julho) uma festa à altura dos apóstolos, destaca o papel da mulher e desafia a Igreja a converter à participação das mulheres como discípulas, em pé de igualdade no século XXI. Como a Igreja ganharia com isso!!!
(*) Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia.
Fonte: O Povo, de 14/9/2019. Opinião. p.16.

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