terça-feira, 18 de outubro de 2022

QUEM IRÁ CUSTEAR O PISO DA ENFERMAGEM?

Por Ana Paula Lemos (*)

A análise acerca do imbróglio criado em torno da lei 14.434/22 requer racionalidade para além do egocentrismo do lucro que busca contestar o incontestável. O piso salarial da Enfermagem é constitucional e economicamente viável. E quem afirma não são os trabalhadores ávidos por dignidade profissional.

Ainda quando projeto, o teor foi analisado por equipes técnicas das casas legislativas brasileiras que confirmaram a legalidade e a viabilidade econômica da matéria. Os estudos encabeçados pelo Congresso Nacional comprovaram que o custo anual para o cumprimento da lei e, consequentemente, para a erradicação dos salários miseráveis da enfermagem, representa somente 2,7% do PIB da Saúde, 4% do orçamento do SUS, 2% de acréscimo na massa salarial dos contratantes e, somente, míseros 4,8% do faturamento dos planos de saúde em 2020.

Os dados obtidos proporcionaram ao PL 2564/2020 uma aprovação por unanimidade no Senado e por 97% dos deputados. A sanção presidencial chegou no último dia 4 de agosto e com ela um movimento factoide acerca do fechamento de leitos e de uma possível onda de demissões em uma classe profissional que é indispensável na manutenção da vida.

O fato é que o desrespeito histórico mais uma vez deu às caras e a confederação que representa os bilionários da saúde ingressou com uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF).

Embora contrariados pelas assessorias jurídicas da Câmara, do Senado, da Presidência e da Advocacia-Geral da União, a maioria dos ministros do STF decidiu pela suspensão da lei por 60 dias, prazo ofertado para a apresentação da fonte de custeio que irá suprir a verba necessária para o pagamento do piso nas unidades públicas e da filantropia, o que deve acontecer muito em breve tendo em vista a preparação da Lei Orçamentária Anual para 2023.

Aos ingressantes da ação, porém, cabe um mergulho no bom senso para entender que a solicitação proferida pelo STF não os atende. O custeio do piso nas unidades privadas já se encontra ali há séculos. Quem irá pagar é o próprio suor dos trabalhadores da enfermagem.

(*) Enfermeira Presidente interina do Coren-CE.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 23/09/2022. Opinião. p.22.

Postado no Blog do Marcelo Gurgel em 12/08/2022.

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