terça-feira, 4 de outubro de 2022

UMA LONGA JORNADA

Por Eloisa Vidal (*)

No início do século XXI o Brasil começa a construir o que desejamos ser um sistema nacional de educação. Ainda sem marco legal claramente definido, está previsto na Constituição Federal de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Por vivermos num país cujo modelo federativo é tripartite, envolvendo a União, os estados e o Distrito Federal e os municípios, o desafio de construção de um sistema nacional de educação não é de fácil equacionamento. Construir consensos e envolver a sociedade na elaboração representa a possibilidade de caminharmos em direção a uma escola de qualidade, com equidade e justiça escolar.

Nos últimos seis anos a educação brasileira foi duramente afetada por medidas econômicas que reduziram recursos financeiros, a exemplo da extinção do Fundo Social do pré-sal e da reforma trabalhista; a fragilização das relações federativas, hoje cambaleantes diante da ausência da coordenação da União e do caráter predador sobre a redução do ICMS, sem critérios e sem projeção dos impactos sobre as políticas públicas, como educação e saúde.

A pandemia ainda não acabou, mas na educação já temos uma dimensão do estrago causado a uma geração de crianças e jovens que foi privada, durante quase dois anos, de aulas presenciais, do convívio e da interação social. Afora as questões relacionadas a aprendizagens do currículo escolar, o retorno está sendo marcado por grandes dificuldades de reconexão com a sociabilidade, a partir de uma convivência entre iguais de forma harmoniosa, respeitosa e pacífica.

Gestores escolares e professores estão mobilizados em duas frentes: por um lado, recuperar aprendizagens perdidas no período, empreendimento de grande complexidade; por outro lado, resgatar regras de convivência social, valores e acima de tudo, a esperança de que a vida em sociedade é, novamente, possível.

Nos próximos anos, precisamos caminhar de forma mais rápida, com mais recursos e mais compromisso de todos e todas, em busca da construção do tão necessário sistema nacional de educação, em que a qualidade precisa estar socialmente distribuída, ser inclusiva e referenciada a partir de variáveis que assegurem muito mais que bons desempenhos em avaliações. Sem isso, o caminho que se desenha é de tragédia, com a pandemia persistindo por muitos anos entre nós.

(*) Professora da Uece. Doutora em Educação.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 25/08/22. Opinião, p.19.

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