terça-feira, 18 de outubro de 2022

ESPIRITUALIDADE E SAÚDE MENTAL

Por Débora Liane Rabelo Vasconcelos Martin: (*)

A espiritualidade é tema pouco explorado no âmbito profissional da área de saúde. Tal assunto associado à saúde mental, corre o risco de ser abordado unicamente no viés da teologia. Assim, faz-se necessário desvendar a importância da espiritualidade / religiosidade (E/R) como forma de enfrentamento das dores da existência humana e seu efeito na saúde mental.

O último censo do IBGE (2010) apontou que 89% da população brasileira declara ter uma religião, evidenciando o importante papel da dimensão religiosa na organização social. Esse dado aponta para a urgência de profissionais da saúde mental considerarem a cultura religiosa do paciente, não apenas como elemento de inserção social, mas como fator relevante para obtenção de saúde.

Estudos do início do século XXI revelam menor risco de mortalidade entre adultos saudáveis praticantes (E/R) comparados a não praticantes. Igualmente, pesquisas realizadas com pacientes portadores de doenças graves e terminais mostram que o conforto espiritual aumenta a esperança de vida e diminui os índices de depressão, de ideias suicidas e de desejo de morte breve.

A vivência da E/R surge da necessidade de respostas a questões existenciais como "quem sou", "qual o meu papel nesse mundo", "o que me faz verdadeiramente feliz", dentre outras. As respostas e a reflexão sobre as questões conduzem a construção de uma vida com um propósito. De acordo com o psiquiatra austríaco Viktor Frankl, uma vida com propósito contribui para o alívio de tensões e viabiliza a superação de adversidades.

Embora no passado a E/R não fosse avaliada nos parâmetros relativos à saúde mental, nas duas últimas décadas, esse tema foi alvo de atenção. Mais recentemente, no Brasil, a relação E/R versus saúde mental foi avaliada através de estudos realizados durante a pandemia de Covid-19. Notou-se que a prática de E/R foi correlacionada a índices elevados de esperança e baixos de medo, preocupação e tristeza, diante disso, faz-se necessário considerar a E/R para a avaliação do ser humano em sua integralidade, como um ser biopsicossocial e espiritual. 

(*) Psicóloga e voluntária da Associação Cruz da Vida.

Fonte: O Povo, de 25/09/2022. Opinião. p.20.

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