Por Alexandre Sobreira Cialdini (*)
A geoeconomia é
um campo de estudo que examina a relação entre a economia e a geopolítica.
Nesse contexto, incluímos também a arquitetura e o urbanismo.
Ao analisar como
o poder econômico e os recursos naturais influenciam as relações internacionais
e a política global, observamos que as estatísticas da balança comercial do
Ceará revelam um alto grau de dependência da economia americana, com 44,87% das
exportações destinadas aos Estados Unidos. Na sequência, aparecem a Holanda
(4,36%), o México (3,94%) e a China (3,91%). No contexto brasileiro, o estado
do Ceará desponta como um exemplo notável de como fatores geoeconômicos podem
moldar o desenvolvimento regional e urbano, bem como sua inserção no novo
cenário global, marcado pelas adversidades do Governo Trump.
A integração às
cadeias globais de valor representa uma oportunidade estratégica para o Ceará
ampliar os mercados internos, a partir da Transnordestina e da expansão das
relações comerciais com a Comunidade Econômica Europeia e os Brics.
O fortalecimento
das Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs) e a melhoria da infraestrutura
logística são passos importantes nesse sentido. Além disso, a celebração de
acordos comerciais e a diversificação de mercados para os produtos locais
tendem a aumentar sua competitividade no cenário internacional.
O Governo do
Estado tem investido na atração de indústrias e na criação de polos
tecnológicos. A ZPE do Pecém é um exemplo bem-sucedido de como o Ceará tem
buscado se inserir nas cadeias globais de valor. Esse processo de integração
modal e logístico ajudará a levar o desenvolvimento para o interior cearense,
começando com a construção dos portos secos de Quixeramobim e Iguatu.
Atualmente, a
maioria dos itens do comércio global é transportada por via marítima,
representando mais de 80% do volume e mais de 70% do valor das cargas. Dezenas
de milhares de portos marítimos estão espalhados pelo mundo, mas, com o avanço
do comércio e da logística internacionais, os portos secos passaram a ganhar
relevância como alternativa estratégica.
Os investimentos
previstos para o Porto Seco de Quixeramobim somam R$ 625 milhões, com a geração
de 1,3 mil empregos diretos e indiretos. Na fase inicial, o projeto contará com
um terminal de grãos, um terminal de minério e um pátio para contêineres
interligado à ferrovia.
Um dos principais
diferenciais da iniciativa é a economia significativa nos custos de frete, que
pode chegar a 50% em comparação ao transporte rodoviário que sai do Piauí, por
exemplo. Isso trará benefícios não só para os produtores da região, mas também
para toda a cadeia produtiva.
Portos secos
possuem características intermodais, podendo ser acessados por rodovias,
ferrovias, vias aéreas e fluviais, uma vez que estão localizados em pontos
estratégicos para otimizar a logística. Além disso, podem incluir instalações
para armazenamento, consolidação e manutenção de mercadorias e transportadores.
Essa
transformação exige planejamento urbano. No caso de Quixeramobim, o arquiteto e
urbanista Fausto Nilo tem desenvolvido um projeto inovador para integrar o
porto à cidade. Temos trabalhado ao lado dele na orientação do desenvolvimento
das cadeias produtivas, considerando os impactos da reforma tributária.
Essa conexão e o
consequente adensamento urbano permitirão que o município, a região e o Ceará
absorvam os benefícios do desenvolvimento econômico, promovendo a revitalização
da cidade que já hospedou nosso poeta Manuel Bandeira – 'uma estrela da vida
inteira'.
(*) Mestre em
Economia e doutor em Administração Pública e Secretário de Finanças e
Planejamento do Eusébio-Ceará.
Fonte:
O Povo,
de 20/02/25. Opinião. p.17.
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