Por Rita Paiva Pereira Honório
(*)
Precisamos
priorizar o ensino e a pesquisa próprios da enfermagem, sem perder o olhar
holístico para o indivíduo
A
história da enfermagem confunde-se com a da humanidade, e, como ela, teve seus
altos e baixos. Ator principal desse cenário, o homem buscou prioritariamente a
perpetuação da espécie. Dessa forma, dedicou-se a cuidar dos enfermos.
Nos primórdios da história, cuidar era uma atividade
essencialmente feminina, ligada à figura da mãe, da bondade e da caridade. Ao
longo do tempo, o cristianismo, as cruzadas e as guerras influenciaram
profundamente essa ação. Os conflitos humanos serviram de laboratório para o
desenvolvimento da enfermagem como ciência.
No século XIX, Henry Dunant, filantropo, fundador da Cruz
Vermelha e as enfermeiras Ana Neri e Florence Nigthingale se destacaram dentre
os precursores da enfermagem moderna. Eles priorizaram o compromisso com a
qualidade do cuidar. Nesse sentido, Florence foi a responsável por aliar a
precisão da matemática a essa assistência, conseguindo provar, por meio da
estatística, que o verdadeiro causador das mortes de soldados na Guerra da
Criméia, em que atuou, era a infecção, e não os ferimentos recebidos em
combate.
Apesar de ser alicerçada em princípios éticos, religiosos
e estratégicos aperfeiçoados ao longo do tempo, a enfermagem, ainda hoje, não
recebe o devido reconhecimento político e social.
A falta do merecido reconhecimento nos avanços
científicos na área da Saúde pode ser creditado à naturalidade do ato de cuidar
e à quantidade dos profissionais de enfermagem. Somos milhares, uma verdadeira
legião. Na sociedade moderna, centrada no lucro, a doença compensa mais que a
saúde. Como a paz, o cuidado, a construção da saúde e a prevenção da doença não
movimentam a economia.
O envelhecimento demográfico da população e a busca pela
qualidade de vida desencadearam um desenvolvimento frenético da ciência e da
tecnologia para atender a estas novas exigências. Esta demanda vem implicando
maior relevância para as categorias não médicas. Nenhum profissional isolado
consegue dar conta de todo este conhecimento. A hegemonia da medicina e a visão
hospitalocêntrica não cabem mais no padrão de assistência de hoje. É a vez de
priorizar a promoção da saúde e da prevenção da doença, objetos de estudo e principais
metas da enfermagem.
Para avançar no legado deixado por nossos antecessores,
precisamos priorizar o ensino e a pesquisa próprios da enfermagem, sem perder o
olhar holístico para o indivíduo. Esse deve ser o nosso compromisso com a
sociedade e o caminho exigido ao modelo de saúde do século XXI. Chegou a vez de
o cuidado ocupar seu merecido lugar de destaque na preservação da vida humana.
(*) Enfermeira
e chefe da Divisão de Enfermagem do Hospital Universitário Walter Cantídio.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 16/05/2017.
Opinião. p.11.
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