Por Paulo
Elpídio de Menezes Neto (*)
Como guardar o bom senso, o equilíbrio e a fidelidade aos bons propósitos, diante desse triste cenário, povoado por atores perdidos em seus papéis, ao improviso de falas pérfidas e hipócritas intenções? No Brasil, vimos testemunhando variadas e engenhosas práticas republicanas, ao longo dos últimos 128 anos, no feitio da reprodução de tramas gastas, representadas pelas trupes de figurantes, entre comediantes, farsantes e intérpretes trágicos. E de tanto vê-los em cena, em repetidas e solertes aparições, a eles terminamos por nos habituar. Há quem os tolere, em aceitação fatalista. Há quem os tenha em boa conta, por simples conveniência; e quantos os defendem e de seus exemplos fizeram escola.
Como guardar o bom senso, o equilíbrio e a fidelidade aos bons propósitos, diante desse triste cenário, povoado por atores perdidos em seus papéis, ao improviso de falas pérfidas e hipócritas intenções? No Brasil, vimos testemunhando variadas e engenhosas práticas republicanas, ao longo dos últimos 128 anos, no feitio da reprodução de tramas gastas, representadas pelas trupes de figurantes, entre comediantes, farsantes e intérpretes trágicos. E de tanto vê-los em cena, em repetidas e solertes aparições, a eles terminamos por nos habituar. Há quem os tolere, em aceitação fatalista. Há quem os tenha em boa conta, por simples conveniência; e quantos os defendem e de seus exemplos fizeram escola.
Não são poucos os homens públicos brasileiros que se
aplicam, em suas oficinas de leis, a produzir experimentos que lhes permitam
descobrir até onde pode levá-los a sua criatividade. É bom de vê-los a brandir
teorias repassadas por terceiros, espremidas das lições bacharelescas mal tomadas
na faculdade ou de conversas entre-amigos. Satisfeitos por terem descoberto e
aplicado com eficiência as técnicas de como destruir o Estado e dele arrancar,
em conluio patriótico, as suas conveniências, os galantes cavaleiros deixaram a
tempo o barco náufrago. E foram levar, em alegre exaltação cívica, a sua
descoberta a novos governantes que, de novos pouco têm, porém guardam a
esperteza de aliados recentes. Apressam-se, agora, em promover ampla reforma
institucional, para “limpar” o corpo do Estado dos pecados do mundo, acumulados
descuidosamente em seus veios generosos. De saída, deu-se à luz uma lei que
frustraria os “abusos de autoridade”, submetendo o judiciário às suspeitas
urdidas pelos denunciados e à vindita dos condenados, numa astuta inversão de
papéis entre acusação e acusado, juiz e réu. Para evitar novos indícios e
condenações futuras e presentes, foi anunciada a anistia ao “Caixa 2”:
livram-se, assim, por recatada prudência, os pecadores de seus pecados, em
cuidada e obsequiosa assepsia. Vem, em seguida, o desmonte das “Dez Medidas
contra a Corrupção”, encaminhadas ao Congresso sob a forma de projeto de lei de
iniciativa popular, das quais apenas duas delas escaparam à transfiguração
jeitosa dos legisladores. E, para coroar a obra fecunda e justificar o
financiamento público das campanhas eleitorais ou dele extrair argumentos para
nova sangria nas contas públicas, pescou-se na bacia das almas a proposição do
“voto em lista fechada”. As manifestações da sociedade contra o “foro privilegiado”,
recolhimento de imunidades premiadas, vão caindo no esquecimento. Sem confissão
pública, no silêncio cúmplice dos artífices, reinventa-se o Estado brasileiro.
Perdoam-se os réus, mantém-se o poder judiciário sob ameaça de criminalização,
desqualificam-se as medidas contra a corrupção. A punição dos partidos por
desvios financeiros é rejeitada, e o poder de escolha do eleitor, transferido à
cartolagem partidária, sob o pretexto de fortalecerem-se os partidos e bem
aplicar-se os recursos do Fundo Partidário…
A falta que nos fazem alguns dos atores políticos de
outros tempos. Não por serem vestais que não as tivemos nesses círculos, por
aqui, desde quando fomos inventados como Brasil. É de nossa índole política,
afinal, não as termos. Essas criaturas arcaicas eram, no entanto, figuras
consideradas: cultivavam a palavra, respeitavam a lógica, o bom senso e os bons
modos. Conheciam as regras de seu trabalho, cuidavam da boa aparência de suas
ideias — e prezavam a gramática…
(*) Cientista político. Membro da Academia Brasileira de Educação
e do Instituto do Ceará.
Fonte: O Povo, de 5/4/2017. Opinião. p.10.
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