quinta-feira, 4 de maio de 2017

HOMENAGEM: William Pereira Stamford

Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta

-... Dê-me o nome que você sempre me deu/ fale comigo como você sempre fez/ continuemos a rir junto/sorria; pense em mim. Você que ficou - siga em frente. A vida continua bela, como sempre foi e será”. Santo Agostinho de Hipona, (354- 430 d.C.)
Em momentos de grave crise nacional, bons exemplos de vida devem ser lembrados.
Encantou-se o médico pernambucano William Pereira Stanford. Existe gente famosa que não é importante. E outras que são apenas de sucesso, famosos. A passagem de cada um pela vida deve contribuir para que, ao final, o mundo tenha melhorado.
É o caso desse amigo meu, enlevado no dia 25.04.17. Deixou um mundo melhor do que o que encontrou. Para isso, viveu, lutou, batalhou, foi compreendido e compreendeu, foi combatido e combateu.
Episódios podem encantar a vista, porém é o mérito que conquista o coração. Seus rompantes eram como forte chuva que fazia mais frondosas as cores da vida e do lugar onde brotaram.
Pioneiro nos transplantes de rim, das hemodiálises, das novidades cirúrgicas, e de tantas outras coisas além da Medicina. Leitor de Espinosa. Seu Deus era o mesmo desse filósofo nascido em Portugal e que fugiu para Amsterdã, na Holanda. Como médico, seu curriculum era vastíssimo e dele pouco falava ou contava e menos arrazoava. Atuava. Ensinava. Acreditava no trabalho.
Fez do Real Hospital Português de Beneficência em Recife - Pernambuco, seu campo de luta, de apego, seu tudo. Nele criou, produziu e jamais mediu esforços a seu engrandecimento, apesar das dificuldades encontradas. Não se deteve como semeador da Medicina apesar de amanhar em solo pedregoso e árido neste Trópico Semiárido Nordestino. Como fiel e telúrico originário, jamais deixou, abandonou sua terra por maior aspereza que dela adviesse. Deu seu recado de vida e foi enterrado onde seu cordão umbilical foi cortado.
Poucos sabem de suas peripécias, sempre dentro da Cultura e de sua amada Medicina. Recém-graduado, foi para a Selva Amazônica para iniciar sua carreira médica, e daí guardava para os amigos, conhecidos, as histórias desse lugar. Selva. Rio. Água. Índio. Das mais fascinantes facetas. Passou a ser verdadeiro contador dos mistérios do hileano brasileiro.
Com meu irmão de sangue, Fernando Zisman, improvisou uma sociedade para “passar a mão” em livros. Desse episódio escrevi uma crônica: ‘Ladrões de Livros’. Fato inimaginável no contemporâneo. Pré-adolescentes, roubavam livros da livraria Imperatriz e outras da mesma rua.  Para quê? Para ler e emprestar depois, aos outros menininhos e menininhas da Rua da Conceição no Bairro da Boa Vista, de sua/minha Recife.
Foram os dois pegos e devidamente castigados por nossos respectivos pais. O meu e o do Bila, como nós o chamávamos na intimidade da infância comum. Para não contar mais, esse Bila seguiu à risca o clichê:
“O médico que apenas sabe medicina, nem medicina sabe" citado em "Ler história: Edições 21-24" -página 16, Centro de Estudos de História Contemporânea Portuguesa – 1993.
Como acredito que nada acontece por acaso, esse lema, cabe dentro do exemplo de vida do cirurgião William Pereira Stanford e da longínqua cidade do Porto, cidade irmã do Recife. A seus familiares, não posso oferecer minhas condolências: Serita, sua mulher e mãe de seus filhos Peter e John. E digo por que:
— Wiliam é parte de minha família afetiva, e as amizades são eternas.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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