Nota pública de Dom Paulo Jackson, Bispo da Diocese de
Garanhuns, acerca da peça teatral “O Evangelho segundo Jesus, rainha dos céus”
1. Nesses dois últimos dias, a cidade de Garanhuns foi tomada
por uma discussão em torno de uma peça teatral que está na programação do
Festival de Inverno de Garanhuns 2018.
Trata-se da peça "O Evangelho segundo Jesus, rainha dos
céus" (IIE GOSFI according to Jesus, queen of heaven) escrita pela atriz
transexual escocesa Jo ClifTord; dirigida, no Brasil, por Natália Mallo; e
encenada pela atriz transexual Renata Carvalho.
2. Estão em jogo dois grandes valores presentes na Constituição
Federal da República do Brasil: l) a liberdade de expressão intelectual,
artística, científica e de comunicação, conteúdo do Art. 50, IX; 2) e a
inviolabilidade da fé e da crença, estabelecida no mesmo artigo quinto, inciso
VI, e ratificada no Código Penal Art. 208, quando trata dos crimes contra o
sentimento e contra o desrespeito aos mortos. O Art. 208, do Código Penal,
normatiza claramente o crime de vilipêndio público às religiões e
especificamente contra um ato religioso. Isso acontece, na peça, em relação à
imagem de Jesus Cristo e à Eucaristia. Compreendemos que a liberdade de
expressão artística não pode ferir o sentimento religioso e a identidade cristã
de uma inteira população.
3. O título da peça apresenta dois evidentes equívocos, que nem
a liberdade artística poderia permitir:
1) o Evangelho nunca é "segundo" Jesus, pois Jesus
mesmo é o Evangelho e o mensageiro dessa boa e esperançosa noticia a
humanidade;
2) apresentar Jesus como rainha dos céus. Ora, Jesus era homem.
Em nenhuma fonte bíblica ou historiográfica jamais se ousou apresentá-lo como
mulher, e muito menos como transexual. Não seria razoável, por exemplo,
apresentar a rainha Cleópatra como homem, vivendo um caso homossexual com Júlio
César ou Marco Antônio. A pergunta que se deve fazer é: até onde a arte tem a
liberdade para ressignificar papéis? Escrever palavrões em hóstias é arte? Está
ressignificando alguma coisa? Um homem nu que rala uma imagem de Nossa Senhora
Aparecida com um ralo de cozinha e recolhe os fragmentos numa gamela, isso é
arte? O que estaria ressignificando? O que seria razoável para a arte na tarefa
da ressignificação e, ao mesmo tempo, no respeito às pessoas e às suas
sensibilidades?
4. Creio que tanto o Governo do Estado de Pernambuco por meio da
Secretaria de Cultura e da Fundarpe, quanto o Governo Municipal de Garanhuns
perdem a oportunidade de impostar a discussão sobre outra perspectiva. O nosso
país é o que mais mata homossexuais, travestis e transexuais no mundo. Ao mesmo
tempo, é o país que mais consome sexo e pornografia. O Município de Garanhuns
está entre os campeões no quesito "violência contra a mulher". A
nossa terra é uma terra que covardemente mata mulheres. O que o Governo
Estadual e o Governo Municipal podem fazer pra amenizar e, em médio e longo
prazos, resolver essa triste realidade? Trazer peça teatral que fere a sensibilidade
das pessoas simples da nossa terra? É isso que vocês podem fazer? É respeitoso
pra com a Cidade de Garanhuns o discurso do Secretário de Cultura? Isso
constrói uma cultura de paz e diálogo? E respeitoso o modo como a Fundarpe
trata a preparação do Festival de Inverno e o diálogo com as instituições
parceiras, inclusive com a Diocese de Garanhuns por meio da Paróquia da
Catedral, onde o Palco de Música Clássica Instrumental?
5. Lamentamos também profundamente que essa discussão possa ser
utilizada para fins eleitoreiros. Já basta! O conflito entre o Governo Estadual
e o Governo Municipal de Garanhuns, e vice-versa, só vem diminuindo a nossa
terra, só tem nos prejudicado, só tem inviabilizado investimentos e a resolução
dos graves problemas do nosso povo que tanto sofre. É hora de serem estadistas!
Olhem para o nosso povo sofrido, humilhado, vivendo uma das piores crises
sociais, econômicas e éticas de todas as épocas. Não olhem para as situações
com os mesquinhos de uma sigla partidária e de uma campanha eleitoral. E vou
até adiante: é a hora de pensar Garanhuns. E razoável, por exemplo, que uma
cidade de 140 mil habitantes não tenha um Deputado Estadual e um Deputado
Federal? É hora de pensar o Município de Garanhuns e as redondezas. Paramos no tempo.
Temos perdido oportunidades.
6. Por tudo isso, não concordamos de nenhum modo que a peça seja
apresentada em Garanhuns no Festival de Inverno. Não é disso que necessitamos.
Ao mesmo tempo, já afirmo: não entraremos em nenhuma frente para impedir que a
peça seja apresentada. Se for, Senhor Governador, o senhor está ferindo
profundamente a nossa gente. Duas únicas coisas, eu posso fazer como bispo da
Diocese de Garanhuns: conclamar o povo católico a não tomar parte nesse acinte
e proibir que a Igreja Catedral seja utilizada como um dos palcos do Festival
de Inverno 2018.
7. Que o Espírito Santo de Deus nos ilumine para encontrarmos
soluções dialogadas e que gerem verdadeiramente uma cultura de paz.
Dom Paulo Jackson Nóbrega de Souza
Bispo da Diocese de
Garanhuns
Fonte: Internet (circulando por e-mail e i-phones).
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