quinta-feira, 19 de julho de 2018

FAMÍLIA DISFUNCIONAL


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Filho(a) de rico também pode ser preso!
Defino ‘família disfuncional’ como sendo aquela que não funciona de acordo com a sua realidade e com os padrões sociais.
Tanto os comportamentos socialmente positivos quanto os negativos são absorvidos na vivência da dinâmica familiar, iniciada pelos avós, que passam para os pais e estes para seus filhos, dando origem ao Padrão Trigeracional (os sentimentos/ações acumulados durante as interações entre os membros de três gerações de uma família). Tal padrão pode resultar num ciclo intergeracional de valores morais ou não (ação socialmente ruim).
A infância e a adolescência são períodos de moldagem da personalidade do adulto, por vezes tumultuadas por crianças e adolescentes difíceis, que extrapolam a simples rebeldia. Devemos compreender que o jovem é normalmente violento. Essa violência faz parte do desenvolvimento natural de nossa espécie. Quer queiramos ou não, teremos que conviver com o atributo de rebeldia da juventude.
Apesar de toda compreensão de que os mais velhos devem prover-se para enfrentar essas atitudes de ‘rebeldia da mocidade’, é mandatório estabelecer limites entre o apropriado e o marginal.
Tenho consciência de que os jovens representam de certa forma, as forças que criam as transformações sociais. Não poucas vezes essa energia transpassa para o lado destrutivo. Cabe então ao adulto ser coerente, repudiando energicamente a selvageria, sob todas as suas formas - e com autoridade.
A permissividade dos adultos que tentam ser pós-modernos ou qualquer outra designação assemelhada, leva o jovem a uma maior desorientação, sensação de abandono, aumento das dúvidas e insegurança.
Os pais, temerosos de serem taxados de quadrados, arcaicos, atrasados, são, não poucas vezes, os principais geradores dos comportamentos criminosos (em maior ou menor grau) dos seus filhos e filhas. As fronteiras entre acidentes, negligência e comportamento antissocial são tênues.
As famílias disfuncionais mais pobres e numericamente maiores são as que formarão os delinquentes juvenis, espancadores, criminosos, terroristas e também os presidiários das gerações seguintes, o que resulta em sucessivos ciclos de violência.
Será que a cor da pele é causadora de violência? Essa e tantas outras explosões opinativas e preconceituosas são apenas achismo.
O que acontece, acredito, é que a maioria da nossa população é constituída por pobres. As estatísticas apontam para o alto percentual de famílias pobres – e números percentuais dependem dos absolutos.
Chega de discutir a importância do que empurrou um jovem a atitudes antissociais. Será muito mais construtivo e preventivo estudar de que maneira aumentar a sua capacidade de adaptação, fortalecendo os fatores de proteção às adversidades e reforçando os conceitos de como atravessar a vida de maneira sadia, como cidadão, seja habitante da cidade ou do campo, sem prejulgar pelo nome/importância da família da qual se origina.
O assunto é urgente e não permite que se perca mais tempo com divagações, pesquisas e lamentações centradas exclusivamente nas adversidades socioeconômicas.
Um favelado não precisa tornar-se, obrigatoriamente, um presidiário, assim como um filho de um rico nem sempre quer ser um virtuoso na vida. Chega de diagnóstico de situação, vamos cuidar da prevenção. Ou prevenimos ou ‘corrigimos’.
Atenção: a prisão foi feita para pobre e também para os filhinhos e filhinhas do papai.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Foi um dos primeiros neonatologistas brasileiros.

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