terça-feira, 22 de setembro de 2020

Uma Escola de Saúde, uma pandemia e um novo futuro

Por Marcelo Alcântara Holanda (*)

Enquanto escrevo, o Brasil alcança a triste marca de 100.000 mortos pela Covid-19. Oficialmente, cerca de três milhões de brasileiros desenvolveram a doença em pouco mais de cinco meses. Um número significativo segue subnotificado, outro tanto com sequelas. Os primeiros casos foram confirmados em Fortaleza ainda em março deste ano. Nossa capital, hub aéreo internacional e com uma das mais altas densidades demográficas da nação, sofreu impacto mais precoce e intenso da pandemia do que outras capitais do Nordeste, segundo análise do Centro de Inteligência da Escola de Saúde Pública (ESP), autarquia vinculada à Secretaria da Saúde.Três anos mais nova que o SUS (Sistema Único de Saúde), esse trintão, a ESP, segue numa mobilização ininterrupta há pelo menos seis meses nessa grave crise sanitária, que aponta a conscientização da importância do SUS para a saúde dos brasileiros como o seu principal legado. Para tanto, é preciso narrar o processo de enfrentamento permitindo reflexões e análises pertinentes. A ESP se alinhou prontamente às ações governamentais. Poucos dias após os primeiros casos, pôs no ar site dedicado ao enfrentamento da pandemia alcançando mais de 600 mil usuários. Protocolos clínicos, vídeos e notas técnicas sobre o manejo da Covid-19 foram elaborados e publicados. Webconferências com mais de 20 mil pessoas envolveram o Estado. Mais de mil profissionais de saúde foram capacitados de forma presencial e o dobro em cursos EAD (Ensino a Distância).

A escola participou ativamente das plataformas de telessaúde fundamentais na orientação aos cidadãos. Nasceu na ESP a ideia do Elmo, capacete de auxílio à respiração para prevenção à necessidade de intubação para pacientes com insuficiência respiratória, numa força-tarefa com Funcap, UFC, Unifor e Fiec. Com o Senai, a ESP trabalhou na idealização e viabilização da Central de Ventiladores, que recuperou mais de 100 respiradores. O app iSUS pôs na palma da mão dos profissionais recursos necessários ao melhor cuidado dos pacientes. Uma rede de pesquisas clínicas apoiada pela ESP e com o programa Cientista Chefe da Funcap se delineou em tempo recorde.

Desenhar o futuro enfrentando o presente nos motiva a buscar o fortalecimento da ESP como instituto de ciência e tecnologia e órgão de inteligência em saúde, não como uma ação de governo, mas de Estado, cujos resultados podem transcender gerações e beneficiar a todos. 

(*) Médico. Professor da UFC. Superintendente da Escola de Saúde Pública do Ceará Paulo Marcelo Martins Rodrigues.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 12/08/2020. Opinião. p.17.

Nenhum comentário:

 

Free Blog Counter
Poker Blog