domingo, 20 de setembro de 2020

SPUTNIK EM TEMPOS DA COVID-19

A revista The Lancet publicou em 4/9/2020 um trabalho com os resultados preliminares de um estudo com uma vacina testada contra o novo coronavírus.

Denominada Sputnik V, o imunizante está sendo desenvolvido pelo Instituto Gamaleya, sob o patrocínio da Rússia, cujo governo promete iniciar em outubro vindouro a vacinação dos seus cidadãos.

A pesquisa envolveu a testagem em 76 sujeitos, acompanhados durante 42 dias, sendo metade para aferir a segurança da vacina e metade para verificar a eficácia vacinal.

O estudo anunciou que a produção de anticorpos no plasma foi maior nas amostras dos inoculados quando comparada com a de pessoas infectadas, garantindo assim a eficácia da vacina. Para eles, a segurança foi atestada porque "não houve resultados adversos" decorrentes da Sputnik V nas pessoas testadas.

Os resultados foram vistos de forma animadora por governantes e cidadãos em geral, mas despertaram ceticismo em cientistas e epidemiologistas pela celeridade na condução da investigação e por ser ainda um estudo de fase II.

A amostra estudada foi de pequeno tamanho e também padeceu de viés de seleção diante da sua predominância de jovens, com muitos militares entre os recrutados do estudo.

A Sputnik V não foi isenta de efeitos colaterais, pois entre os testados foram relatados febre alta, cefaleia, adinamia etc.

Efeitos adversos graves são, comumente, eventos de rara incidência, sendo baixa a sua probabilidade de ocorrer em amostras pequenas e, amiúde, quando existentes, somente são identificados em estudos de fase III.

Enfim, é preciso cautela em se preconizar o uso da dita vacina russa contra a Covid-19 antes dela ser validada em um protocolo de fase III.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Professor universitário e médico

* Publicado In: O Povo, de 20/09/2020. Opinião. p.26.

Nenhum comentário:

 

Free Blog Counter
Poker Blog