terça-feira, 16 de novembro de 2021

SERÁ QUE EXISTE CIÊNCIA POLÍTICA?

Meraldo Zisman (*)

Médico-Psicoterapeuta

… Entendo como ciência um conjunto de técnicas e modelos que permite organizar o conhecimento sobre uma estrutura de ocorrências objetivas. Por outro lado, entendo P(p)olítica, como uma atividade ideológica destinada à tomada de decisões de um bando/grupo/pessoas que visam alcançar objetivos e o exercício de competências para a resolução de desordens.

Fazem-se ciências com fatos, como se faz uma casa com pedras, cimento, tijolos e telhas, porém uma acumulação de fatos não é uma ciência, assim como um acúmulo de material de construção não é uma casa.  Não consigo assistir praticamente qualquer programa de debate televisivo, em particular, aqueles onde imperam os “intelectuais” que se intitulam cientistas políticos. Afirmam alguns que fatores intelectuais, morais e de justiça se entrelaçam na definição dessa classe.

Entendo como ciência um conjunto de técnicas e modelos que permite organizar o conhecimento sobre uma estrutura de ocorrências objetivas. Por outro lado, entendo P(p)olítica, como uma atividade ideológica destinada à tomada de decisões de um bando/grupo/pessoas que visam alcançar objetivos e o exercício de competências para a resolução de desordens.

Chamaria de pronto o leitor a distinguir as ciências formais (aquelas sem conteúdo concreto, como a matemática) das ciências naturais (que estudam a natureza, como a geografia) e das ciências sociais (que tratam de analisar os fenômenos da cultura e a sociedade, como a história).

Assim sendo, posso afirmar que a ciência política é uma ciência social que se dedica ao estudo da atividade política como um fenômeno universal, se considerarmos o Estado como organização social.

Para não andar muito para o passado considero o renascentista Nicolas Maquiavel (um dos fundadores desse conhecimento) que defendia que o único objetivo da política é o controle do poder. A política encarrega-se, hoje em dia, de analisar o exercício do poder político, as atividades estatais, a administração e a gestão pública, os sistemas políticos, o regime partidarista, os processos de eleições e outros assuntos correlatos. Fazer política é encontrar a melhor forma de garantir os direitos e deveres dos cidadãos, levando em conta as diferenças entre os indivíduos, bem como os interesses de cada um.

…O que precisamos, urgentemente, é empreender reformas em nossos políticos, antes de pensarmos em reformas políticas. Estas últimas, com certeza, viriam, de forma automática, como que por gravidade, se a política fosse uma ciência com fatos e aprendizados.

O estudo da política exige que se trabalhe em assessorias de políticos, partidos, sindicatos, organizações não-governamentais (ONGs), em assessorias a parlamentares, vereadores, deputados e senadores; trabalhar como analista político, produzindo dados eleitorais, atuando em institutos de pesquisa. E ainda atuar com ‘marketing’ político em campanhas eleitorais e servir como gestor do Governo, concebendo, implementando e avaliando as políticas públicas das diversas áreas da administração.

Como a Universidade de Brasília virou a nossa, Versalhes Tropical, ela seria o melhor “campus” universitário, por sua localização, para servir de polo de ensino dessa denominada ciência política.  Encontra-se ao lado das instituições representativas do Poder Federal sendo, portanto, fácil o acesso dos estudantes aos materiais relevantes de pesquisa. Em outras palavras, para se conhecer qualquer assunto relativo aos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, basta se dirigir aos Ministérios e Tribunais, que estão logo ao lado. Na UNB (Universidade Federal de Brasília), o estudante aprende a teoria política clássica, a moderna e a contemporânea, baseadas no pensamento de grandes expoentes tais como Platão, Aristóteles, Maquiavel, Rousseau, Stuart Mill, entre tantos outros, e os brasileiros Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Celso Furtado e outros. O aluno lê o regimento interno do Órgão em que vai operar, examina as leis, e estuda o perfil dos partidos políticos e de seus representantes.

“Eles vivenciam – in loco – o papel de grupos que constituem a política nacional e internacional”. Embora no Brasil se fale tanto de reformas políticas, não vejo ocorrer mudanças substantivas, na prática, e passo a crer que a localização daquela Universidade não é adequada para que os jovens alunos obtenham o poli conhecimento.

Lá se ensina e se aprende o quê? Talvez como não se deve fazer política… Na verdade, entendo, agora, uma das causas das reformas políticas não saírem do papel. O que precisamos, urgentemente, é empreender reformas em nossos políticos, antes de pensarmos em reformas políticas. Estas últimas, com certeza, viriam, de forma automática, como que por gravidade, se a política fosse uma ciência com fatos e aprendizados.

Infelizmente não o é.

(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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