quinta-feira, 10 de abril de 2025

Na Bienal do Livro, professor da Uece lança nova obra que preserva a memória de cearenses



Laudamus Vos: homenagens a amigos e colegas” é o título do livro que será lançado pelo professor do curso de Medicina da Uece, Marcelo Gurgel, na Bienal Internacional do Livro do Ceará. O evento acontecerá nesta quinta-feira (10/04/25), às 17h, no Centro de Eventos do Ceará, no estande 8.

Na busca de cooperar para a preservação da memória da gente cearense, o livro é composto por 30 crônicas e biografias. Elas estão distribuídas em cinco partes, cada uma com seis registros biográficos: I – Homenagens Femininas in Pectore; II – Homenagens Pessoais; III – Homenagens Póstumas Acadêmicas; IV – Homenagens in Memoriam; e V – Reverências Póstumas.

As 30 pessoas retratadas, apresentadas na ordem em que aparecem na edição, são: Elsie Studart Gurgel de Oliveira, 2. Heloisa Ferreira Juaçaba, 3. Suzana Dias da Costa Ribeiro, 4. Inês Tavares Vale e Melo, 5. Maria Helena Lima Sousa, 6. Mônica Cardoso Façanha, 7. José Rosemberg, 8. José Eloy da Costa Filho, 9. Luiz Gonzaga Porto Pinheiro, 10. José Adão Lopes, 11. Rafael Dias Marques Nogueira, 12. José Dilson Vasconcelos de Menezes, 13. José Telles da Silva, 14. Pedro Henrique Saraiva Leão, 15. Francisco José Pessoa de Andrade Reis, 16. Thomaz de Araújo Correa, 17. Francisco Sérgio Menescal de Macedo, 18. José Maria Chaves, 19. Antônio Wilson Vasconcelos, 20. Edyla Maria Porto Camelo, 21. Francisco Valdeci de Almeida Ferreira, 22. Roberto Misici, 23. João Batista Evangelista Junior, 24. José Eduilton Girão, 25. Oziel de Souza Lima, 26. Ruy Laurenti, 27. Celina Côrte Pinheiro, 28. Lusmar Veras Rodrigues, 29. Attila Nogueira Queiroz e 30. César Augusto de Lima e Forti. Dos listados, 24 são médicos, sendo oito pertencentes à Academia Cearense de Médicos Escritores e três integrantes da Academia Cearense de Medicina.

Fonte: Assessoria de Comunicação da Uece em 9/04/25.


DOENÇAS CARDÍACAS: sinais que exigem atenção

Por Roger Carneiro (*)

As doenças cardíacas que se desenvolvem de forma silenciosa são perigosas justamente por se desenvolverem sem sintomas aparentes, dificultando o diagnóstico e aumentando, portanto, o risco de complicações graves, como infarto ou insuficiência cardíaca.

Por isso, é fundamental reconhecer alguns sinais que podem parecer inofensivos, mas que requerem nossa atenção. Um dos sintomas que muitas vezes passa despercebido é a falta de ar sem razão aparente, especialmente ao fazer pequenos esforços, como subir escadas ou caminhar. Outro sinal importante é o cansaço extremo e frequente, mesmo em repouso. Esse cansaço pode ser resultado de um coração que está tendo dificuldades para bombear sangue adequadamente.

Dores no peito, ainda que leves, também não devem ser ignoradas, principalmente quando sentidas como um peso, aperto ou desconforto que irradia para braços, pescoço, costas ou mandíbula. Muitas vezes, essa dor surge em momentos de estresse ou durante um esforço físico e melhora com o repouso. Outro sinal de alerta é o inchaço nas pernas, tornozelos e pés, pois pode indicar problemas como a insuficiência cardíaca ou alterações na circulação.

Também é importante observar a sensação de batimentos cardíacos irregulares ou acelerados, conhecidos como palpitações, principalmente quando associado as outros sintomas como tontura mal-estar ou sensações de desmaio, que podem sinalizar uma arritmia, outra condição que requer atenção, pois pode comprometer o fluxo sanguíneo e aumentar o risco de complicações. Ao perceber qualquer um desses sintomas, é importante procurar um médico.

Quanto mais cedo for diagnosticada uma doença cardíaca, maiores são as chances de tratamento eficaz. Mesmo que os sinais sejam leves ou passem rapidamente, não devem ser ignorados, pois podem indicar que algo não está funcionando bem. Priorizar a saúde cardíaca é uma medida essencial para garantir qualidade de vida e prevenir complicações graves. Ter atenção aos sinais do corpo e buscar acompanhamento médico regularmente são atitudes fundamentais para manter o coração saudável e evitar riscos desnecessários.

(*) Cardiologista e presidente do Hospital Prontocárdio em Fortaleza.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 19/03/25. Opinião. p.21.

quarta-feira, 9 de abril de 2025

AS DEFINIÇÕES DE PODER E O CASO DO BRASIL

Por Pedro Jorge Ramos Vianna (*)

Sabemos que a Igreja Católica já passou por um processo de poder que se caracterizava por uma pentarquia, lá pelo século VI, onde existiam cinco Patriarcas. Hoje existe uma Biarquia: O Papa, líder da Igreja Católica Apostólica Romana e o Patriarca da Igreja Ortodoxa.

Em termos civis, nos tempos de hoje, devido aos trabalhos de Platão, Aristóteles, Charles-Louis de Secondat (mais conhecido como Barão de Montesquieu) e de John Locke, os poderes civis são divididos em três: Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário.

No Brasil, temos, oficialmente, esta última divisão. Portanto, temos uma triarquia. Mas às vezes me surpreendo pensando que o que temos é uma tetrarquia: executivo, legislativo, judiciário e Centrão. Ou não será uma Pentarquia: executivo, legislativo, judiciário, centrão e o Poder Alexandrino? Mas, por que às vezes penso nisso? Porque não sabemos quem realmente manda neste País. Não é verdade que através das famosas "emendas legislativas", deputados se transformam em poder executivo?

Não é verdade que, em algumas vezes, Ministros do STF se transmudam em poder legislativo? E qual o efeito de toda essa confusão? Primeiro, boa parcela do povo brasileiro não obedece às leis; segundo, essa confusão cívico-política tem efeito deletério sobre o sistema econômico.

Não é por acaso que que nos últimos 25 anos o Brasil perdeu posição frente a outros países. Vejam que desde os anos sessenta do século passado, em muitos anos, o crescimento do Brasil tem sido sempre menor que o crescimento médio de todos os países.

Não é por acaso, então, que o Brasil tem perdido posição entre os países mais desenvolvidos. O País já fez parte do G10. Mas, agora, ocupa uma posição em torno do 12º lugar. Por outro lado, ao analisar o comportamento do PIB no período 1997-2024, constatei que nesse período, por cinco vezes, o País apresentou variação negativa do PIB; em somente dois anos o crescimento atingiu valores acima de 6,0%; um comportamento oscilante foi a tônica do crescimento econômico brasileiro. Será que isso ocorreu por conta de crises econômicas mundiais?

É verdade que em 1997, quando o crescimento do PIB brasileiro foi negativo, houve uma crise econômica mundial, com a diminuição acentuada no mercado de investimentos e empréstimos; ou em 2001, com a recessão nos EUA e a crise financeira naquele País. A recessão econômica no mundo, com a COVID, também explica o decréscimo do PIB nacional de 2020.

Entretanto, o declínio do PIB no triênio 2014-2016 não pode ser explicado por crise econômica mundial. Tal crise se originou de erros do governo brasileiro, ao adotar políticas econômicas inadequadas para o momento. E aí começou a segunda "década perdida¨ da economia brasileira.

(*) Economista e professor titular aposentado da UFC,

Fonte: O Povo, de 9/03/25. Opinião. p.18.

A SAÚDE DAS CRIANÇAS NA ESTAÇÃO CHUVOSA

Por Fernanda Colares (*)

A estação chuvosa em Fortaleza sempre traz um aumento significativo de doenças respiratórias e infecciosas, especialmente entre as crianças. A combinação de alta umidade, temperaturas mais baixas e ambientes fechados cria um cenário propício para a proliferação de vírus e bactérias. Como médica pediatra e diretora de Recursos Próprios da Unimed Fortaleza, reforço a importância de medidas preventivas para garantir o bem-estar dos pequenos durante esse período.

Doenças como gripes, resfriados, bronquiolites e pneumonias tornam-se mais comuns nessa época do ano. Além disso, a exposição a águas contaminadas pode levar a infecções gastrointestinais, dentre outros problemas. Para prevenir contaminações, é fundamental adotar bons hábitos de higiene, como lavar as mãos regularmente com água e sabão e manter os ambientes domésticos limpos e arejados.

A alimentação equilibrada desempenha um papel importante no fortalecimento do sistema imunológico das crianças. Uma dieta rica em frutas, verduras e proteínas fornece os nutrientes necessários para combater infecções. Manter a hidratação adequada também é essencial, pois auxilia na manutenção das funções corporais e na defesa contra agentes patogênicos.

A imunização é uma ferramenta poderosa na prevenção de doenças. Certifique-se de que a caderneta do seu filho esteja atualizada com vacinas contra rotavírus, pneumonia, gripe, covid-19 e dengue. A vacinação reduz significativamente o risco de complicações e hospitalizações.

Em situações em que sintomas como febre alta persistente por mais de 48 horas, tosse intensa acompanhada de dificuldade para respirar, vômitos ou diarreia com sinais de desidratação estejam presentes, é fundamental procurar atendimento médico imediato. Esses sinais podem indicar quadros que exigem avaliação profissional para um diagnóstico preciso e a adoção das medidas adequadas de tratamento.

Com a adoção de medidas preventivas simples e o acesso a serviços de saúde é possível atravessar esse período com segurança e tranquilidade.

(*) Médica pediatra e diretora de Recursos Próprios da Unimed Fortaleza.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 14/03/25. Opinião. p.16.


terça-feira, 8 de abril de 2025

Pesquisas genéticas são destaque no tratamento de câncer

Por Gabriele Félix, jornalista de O Povo

Sediado em Fortaleza, o ICC Next Legacy reúne, entre os dias 7 e 9 de abril, pesquisadores para discutir os avanços em tratamento, pesquisa e gestão oncológica

O termo câncer abrange mais de 100 tipos de doenças, que têm em comum o crescimento desordenado de células e a capacidade de invadir tecidos localmente ou migrar para órgãos não adjacentes. Os dados são do Ministério da Saúde.

Conforme o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), divulgado em 10 de fevereiro de 2025, um levantamento realizado pelo Instituto Nacional do Câncer José de Alencar Gomes da Silva (Inca) mostrou que, para cada ano do triênio 2023 a 2025, foram previstos 704 mil casos novos de câncer no Brasil, sendo 21.020 no Estado.

Uma das iniciativas que procura chamar a atenção para a doença é a campanha Abril Lilás, que marca o mês de conscientização sobre o câncer de testículo, doença que corresponde mundialmente a 1% dos tumores masculinos e 5% das malignidades urológicas.

Apesar de raro, o urologista do Instituto do Câncer do Ceará (ICC), Marconi Tavares, alerta sobre a maior incidência da doença em homens em idade produtiva, entre 20 e 40 anos: “É uma doença de homem jovem, que existe um padrão genético, hereditário. E os fatores de risco que a gente considera para o paciente é que se ele tiver esse histórico, ele tem que ter um cuidado redobrado”.

O autoexame, de acordo com o médico, é essencial para garantir um diagnóstico precoce. “O grande nuance do câncer do câncer de testículo é por uma doença plenamente tratável. Mesmo que você se apresente com câncer de testículo localizado, mas que tem alguma metástase para o próprio pulmão, por exemplo, essa doença ainda é curável, porque é uma doença extremamente quimiossensível, ela tem uma sensibilidade à quimioterapia de forma curativa. Isso nos dá uma segurança enorme de tratar esses pacientes”, alerta.

Entre os principais sintomas da doença, o mais comum é o aparecimento de um nódulo duro, geralmente indolor, aproximadamente do tamanho de uma ervilha. Outras alterações, como aumento ou diminuição no tamanho dos testículos, endurecimentos, dor imprecisa na parte baixa do abdômen e aumento ou sensibilidade dos mamilos também podem ser indicativos do câncer de testículo.

Os dados foram alguns dos abordados durante o primeiro dia do Congresso de Oncologia do Norte e Nordeste, o ICC Next Legacy, que teve início nesta segunda-feira, 7, e prossegue até quarta-feira, dia 9, reunindo centenas de profissionais, nacionais e internacionais, para discutir os principais avanços em tratamento, pesquisa e gestão oncológica do mundo.

O evento, sediado em Fortaleza, debate novas tendências, abordagens e tecnologias no cuidado oncológico, incluindo a oncogenética, além de pesquisa e gestão em saúde.

O mastologista e diretor clínico da Rede ICC, Leandro Lacerda, destacou que o ICC Next Legacy é um congresso que abre um novo conceito em evento nacional e internacional.

A ideia foi trazer para este evento toda a área da saúde envolvida e não focar apenas na linha de tratamento com o médico direto ao paciente. Então, nós iremos abordar todas as áreas da oncologia e suas diversas modalidades e linhas de tratamento, visando sempre aquela linha de cuidado ao paciente”, ressalta.

Sequenciamento genético, cirurgia robótica e vacinas estão entre as novidades apresentadas no congresso

Segundo a coordenadora do ICC Genômica do Instituto do Câncer do Ceará (ICC), Maria Júlia, a detecção de alterações genéticas em pacientes é um grande marco na Medicina a nível mundial e promete aumentar a eficiência dos tratamentos e a sobrevida dos pacientes.

O médico vai saber direcionar melhor o tratamento daquele paciente. Já tem drogas, por exemplo, que são dadas a partir de alvos terapêuticos, então o paciente faz o teste molecular, é detectado a mutação e o médico escolhe uma droga que vai ter menos efeito colateral, o paciente vai ficar menos tempo no hospital. Então, isso dá uma sobrevida maior para o paciente e um sucesso maior para o tratamento”, detalha.

Além do sequenciamento genético preventivo, o oncologista clínico do ICC, Fábio Chaves, destaca que há uma força tarefa mundial focada no desenvolvimento de vacinas para o combate à doença.

A gente tem as vacinas que hoje em dia estão chegando cada vez mais fortes. Identificar subpopulações de indivíduos com alto risco que possam receber aquelas vacinas ou então pacientes que já tenham algum diagnóstico que possam receber aquelas vacinas como tratamento”, conta.

Apesar da expectativa pelo tratamento, ele ressalta que a novidade ainda está em fase de pesquisa. “A gente sabe que o câncer de colo do útero está muito relacionado ao HPV e que, hoje em dia, a gente tem essa vacina para receber. Muito provavelmente nos próximos anos a gente vai ter gerações de meninas que não terão esse tipo de doença, mas outras vacinas nas quais eu me referi agora há pouco, não, pois ainda estão em fase de pesquisa”, explica.

A cirurgia robótica também foi destaque no evento. De acordo com Leandro Lacerda, no Ceará, a Rede ICC Saúde já atua com essa prática, considerada mais rápida, menos dolorida e menos mórbida. “Hoje no grupo da Rede ICC Saúde temos a cirurgia robótica já sendo beneficiada, já atuando desde o ano passado. Então assim, sempre estamos tentando nos atualizar para a gente proporcionar o melhor paciente”, explica.

Genética, cirurgia robótica e vacinas

Segundo a coordenadora do ICC Genômica do Instituto do Câncer do Ceará (ICC), Maria Júlia, a detecção de alterações genéticas em pacientes é um grande marco na Medicina a nível mundial e promete aumentar a eficiência dos tratamentos e a sobrevida dos pacientes: "O médico vai saber direcionar melhor o tratamento daquele paciente. Já tem drogas, por exemplo, que são dadas a partir de alvos terapêuticos, então o paciente faz o teste molecular, é detectado a mutação e o médico escolhe uma droga que vai ter menos efeito colateral, o paciente vai ficar menos tempo no hospital. Então, isso dá uma sobrevida maior para o paciente e sucesso para o tratamento".

Além do sequenciamento genético preventivo, o oncologista clínico do ICC, Fábio Chaves, destaca que há uma força tarefa mundial focada no desenvolvimento de vacinas para o combate à doença: "A gente tem as vacinas que hoje em dia estão chegando cada vez mais fortes. O importante é identificar subpopulações de indivíduos com alto risco ou pacientes que já tenham algum diagnóstico que possam receber vacinas como tratamento".

Apesar da expectativa, ele ressalta que a novidade está em fase de pesquisa: "A gente sabe que o câncer de colo do útero está muito relacionado ao HPV e que, hoje em dia, a gente tem essa vacina para receber. Muito provavelmente nos próximos anos a gente vai ter gerações de meninas que não terão esse tipo de doença".

Fonte: Publicado In: O Povo, de 8/04/2025. Cidades. p.12.

A LUTA CONTRA A INVISIBILIDADE

Por Kathiane Lustosa (*)

A endometriose é uma das doenças ginecológicas mais complexas e desafiadoras, afetando cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva. Apesar de sua alta prevalência, o diagnóstico tardio e as dificuldades no acesso ao tratamento continuam sendo desafios significativos. O movimento Março Amarelo desempenha um papel essencial na conscientização sobre essa condição, ressaltando a importância do reconhecimento precoce dos sintomas e da assistência médica adequada.

Nos últimos anos, avanços significativos foram alcançados na compreensão dos mecanismos inflamatórios e imunológicos envolvidos na endometriose, abrindo caminho para novas abordagens terapêuticas. Estudos recentes indicam que biomarcadores plasmáticos podem viabilizar um diagnóstico menos invasivo, reduzindo a necessidade de procedimentos cirúrgicos exploratórios. Além disso, inovações tecnológicas, como a cirurgia robótica, estão aprimorando os resultados cirúrgicos, oferecendo maior precisão e recuperação mais rápida para as pacientes. Outro aspecto promissor é a investigação da relação entre a microbiota intestinal e a endometriose, que pode representar um novo alvo terapêutico no futuro.

Os impactos da endometriose vão muito além dos sintomas físicos. A dor crônica, as dificuldades para engravidar e a falta de compreensão sobre a doença geram desafios emocionais e profissionais para as pacientes. Muitas mulheres enfrentam preconceito e desinformação, o que pode dificultar ainda mais o diagnóstico e o tratamento adequado. Por isso, iniciativas como o Salvata Experience, evento sobre saúde feminina voltado para profissionais da área, que ocorrerá nos dias 28 e 29 de março, em Fortaleza, são fundamentais para fomentar o debate e disseminar informação qualificada.

Discutir a endometriose é um compromisso com o avanço da medicina e com o bem-estar feminino. A conscientização e a disseminação de informação de qualidade são essenciais para que mais mulheres tenham acesso ao diagnóstico precoce e a tratamentos eficazes. Somente com educação e investimento em pesquisa será possível garantir um futuro com mais qualidade de vida para aquelas que convivem com essa condição.

(*) Médica ginecologista e diretora da Clínica Salvate.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 10/03/25. Opinião. p.20.

segunda-feira, 7 de abril de 2025

GEOECONOMIA E LOGÍSTICA NO CEARÁ

Por Alexandre Sobreira Cialdini (*)

A geoeconomia é um campo de estudo que examina a relação entre a economia e a geopolítica. Nesse contexto, incluímos também a arquitetura e o urbanismo.

Ao analisar como o poder econômico e os recursos naturais influenciam as relações internacionais e a política global, observamos que as estatísticas da balança comercial do Ceará revelam um alto grau de dependência da economia americana, com 44,87% das exportações destinadas aos Estados Unidos. Na sequência, aparecem a Holanda (4,36%), o México (3,94%) e a China (3,91%). No contexto brasileiro, o estado do Ceará desponta como um exemplo notável de como fatores geoeconômicos podem moldar o desenvolvimento regional e urbano, bem como sua inserção no novo cenário global, marcado pelas adversidades do Governo Trump.

A integração às cadeias globais de valor representa uma oportunidade estratégica para o Ceará ampliar os mercados internos, a partir da Transnordestina e da expansão das relações comerciais com a Comunidade Econômica Europeia e os Brics.

O fortalecimento das Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs) e a melhoria da infraestrutura logística são passos importantes nesse sentido. Além disso, a celebração de acordos comerciais e a diversificação de mercados para os produtos locais tendem a aumentar sua competitividade no cenário internacional.

O Governo do Estado tem investido na atração de indústrias e na criação de polos tecnológicos. A ZPE do Pecém é um exemplo bem-sucedido de como o Ceará tem buscado se inserir nas cadeias globais de valor. Esse processo de integração modal e logístico ajudará a levar o desenvolvimento para o interior cearense, começando com a construção dos portos secos de Quixeramobim e Iguatu.

Atualmente, a maioria dos itens do comércio global é transportada por via marítima, representando mais de 80% do volume e mais de 70% do valor das cargas. Dezenas de milhares de portos marítimos estão espalhados pelo mundo, mas, com o avanço do comércio e da logística internacionais, os portos secos passaram a ganhar relevância como alternativa estratégica.

Os investimentos previstos para o Porto Seco de Quixeramobim somam R$ 625 milhões, com a geração de 1,3 mil empregos diretos e indiretos. Na fase inicial, o projeto contará com um terminal de grãos, um terminal de minério e um pátio para contêineres interligado à ferrovia.

Um dos principais diferenciais da iniciativa é a economia significativa nos custos de frete, que pode chegar a 50% em comparação ao transporte rodoviário que sai do Piauí, por exemplo. Isso trará benefícios não só para os produtores da região, mas também para toda a cadeia produtiva.

Portos secos possuem características intermodais, podendo ser acessados por rodovias, ferrovias, vias aéreas e fluviais, uma vez que estão localizados em pontos estratégicos para otimizar a logística. Além disso, podem incluir instalações para armazenamento, consolidação e manutenção de mercadorias e transportadores.

Essa transformação exige planejamento urbano. No caso de Quixeramobim, o arquiteto e urbanista Fausto Nilo tem desenvolvido um projeto inovador para integrar o porto à cidade. Temos trabalhado ao lado dele na orientação do desenvolvimento das cadeias produtivas, considerando os impactos da reforma tributária.

Essa conexão e o consequente adensamento urbano permitirão que o município, a região e o Ceará absorvam os benefícios do desenvolvimento econômico, promovendo a revitalização da cidade que já hospedou nosso poeta Manuel Bandeira – 'uma estrela da vida inteira'.

(*) Mestre em Economia e doutor em Administração Pública e Secretário de Finanças e Planejamento do Eusébio-Ceará.

Fonte: O Povo, de 20/02/25. Opinião. p.17.


O MUNDO DE CABEÇA PARA BAIXO

Por Heitor Férrer (*)

Cheguei a Fortaleza em março de 1968. Vivíamos em plena ditadura militar, comandados pelo segundo marechal à frente do país e sob forte influência dos Estados Unidos. O mundo encontrava-se em uma falsa paz, dominada pelo medo da Guerra Fria, com suas ogivas nucleares apontadas de ambos os lados — soviéticas e norte-americanas. Durante décadas, apesar das diferenças entre republicanos e democratas, o Ocidente manteve-se unido. A Europa, fortalecida, seguia como um pilar fundamental no embate geopolítico contra a União Soviética.

Essa estabilidade relativa sustentou-se até a ascensão de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Com sua chegada ao poder, as estruturas geopolíticas estão abaladas e o Ocidente se vê subitamente enfraquecido. Trump vira as costas para os aliados históricos e, de maneira alarmante, parece se alinhar a regimes autoritários, legitimando posturas expansionistas como a da Rússia. A ucrânia foi invadida e está, diariamente, sendo destruída aos olhos do mundo.

O que antes era impensável tornou-se realidade. A política externa dos Estados Unidos, outrora guardiã da liberdade e da estabilidade global, deu uma guinada que fragilizou alianças estratégicas e colocou a Europa em situação de vulnerabilidade. Trump chegou ao ponto de ameaçar a OTAN, um pilar da segurança ocidental, colocando em xeque a força do bloco que, por décadas, serviu como barreira contra o expansionismo de regimes autoritários. Mais recentemente, um de seus principais aliados, o empresário Elon Musk, chocou o mundo ao fazer um gesto que remete ao genocida Adolf Hitler.

O mais espantoso foi a reação do público presente: aplausos. Esse episódio, que deveria gerar indignação e repúdio unânime, revela o quanto a normalização de discursos extremistas e antidemocráticos avançou. Seu vice-presidente, em visita à Europa, critica uma suposta censura no continente e omite-se diante das brutalidades cometidas por ditaduras como Rússia, China, Turquia e Coreia do Norte. Só faltou acenar para Cuba e Nicarágua. O silêncio seletivo diz muito sobre a inversão de valores que estamos vivendo.

O mundo, outrora dividido entre forças democráticas e regimes autoritários, encontra-se em uma confusão sem precedentes. O líder da maior potência ocidental tornou-se um fator de desestabilização, não de união. A ascensão de Trump trouxe consigo um questionamento profundo sobre o futuro da democracia e da ordem internacional. O que antes parecia sólido agora está por um fio. O Ocidente, outrora coeso e forte, precisa reagir antes que seja tarde demais.

(*) Médico e deputado estadual (Solidariedade).

Fonte: Publicado In: O Povo, de 7/03/2025. Opinião. p.23.


domingo, 6 de abril de 2025

MÉDICAS NAS ACADEMIAS DE MEDICINA DO CEARÁ

Como evento ápice das comemorações dos 30 anos da fundação da Faculdade de Medicina do Ceará, a Academia Cearense de Medicina (ACM) foi instalada, oficialmente, a 12 de maio de 1978, em solenidade que empossou os seus 26 membros fundadores, todos eles homens, conformando um fato até condizente para a época.

Ao contrário de outras academias literárias, que levaram décadas para acolher o segmento feminino, a ACM foi mais rápida nesse tocante da busca equânime de gênero, porquanto o acesso feminino aos seus quadros acadêmicos ocorreu em seu décimo-primeiro ano de funcionamento, quando a Dra. Glaura Ferrer Dias Martins, empossada em 15/09/1989, foi a primeira mulher admitida nesse sodalício.

Ao todo, já foram 14 mulheres eleitas e empossadas como membros titulares da ACM, das quais doze seguem vivas, sendo duas dessas, as acadêmicas Glaura Ferrer Dias Martins (cardiologista) e Márcia Alcântara Holanda (pneumologista), integrantes do quadro de membros honoráveis. As duas que voltaram ao Pai foram as acadêmicas Maria Gonzaga Pinheiro (anestesiologista) e Lise Mary Alves de Lima (hemoterapeuta).

As atuais dez confreiras: Adriana Costa e Forti (endocrinologista), Ana Margarida Arruda Rosemberg (pneumologista), Elizabeth De Francesco Daher (nefrologista), Lúcia Maria Alcântara de Albuquerque (radioterapeuta), Marta Maria das Chagas Medeiros (reumatologista), Maria (Helena) da Silva Pitombeira (hematologista), Maria dos Prazeres Ferreira Rabelo (pediatra), Maria Zélia Petrola Jorge Bezerra (patologista clínica), Sara Lúcia Ferreira Cavalcante (anestesiologista) e Sílvia Maria Meira Magalhães (hematologista) conferem brilho a arcádia médica cearense com suas presenças, propiciando um toque muito especial, mercê das boas qualidades técnicas e morais que possuem.

Com efeito, quando convocadas para funções diretivas ou mesmo designadas para tarefas específicas de interesse da ACM, elas as realizam com diligência, precisão e notável competência.

Fundada em 29 de outubro de 2015, em Fortaleza, a Academia Cearense de Médicos Escritores (ACEMES) reúne médicos cearenses que, além de sua atuação na área da saúde, contribuem com produções literárias. O seu quadro de fundadores foi constituído, originalmente, de 32 homens e nenhuma mulher.

Atualmente, há apenas duas mulheres na ACEMES: a pediatra Maria Dione Mota Rola, que foi a primeira confreira, tendo sido empossada em 1º de junho de 2017, e Christiane Chaves Leite, também pediatra, que tomou posse em 30 de janeiro de 2025. No entanto, diante do surgimento de novas vagas na sequência da reforma estatutária, ora em andamento, por certo, a ACEMES dará acolhida a mais médicas escritoras radicadas no Ceará, cujos méritos literários são plenamente reconhecidos, alçando-as aos umbrais acadêmicos.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Da ACM (Cad. 18) e da ACEMES (Cad. 24)

* Publicado In: Revista AMC (Associação Médica Cearense). Março de 2025 - Edição n.42. p.22 (online).


FAMÍLIA CRISTÃ: um refúgio de amor, graça e discipulado

Por Pe. Reginaldo Manzotti (*)

No mês de fevereiro, a Igreja Católica traz como temática a Sagrada Família, pois foi nela que Jesus viveu antes de começar a sua vida pública, o modelo e o ideal de toda família humana.

Aproveito para refletir sobre os valores que devem nortear a vida familiar, com destaque para a figura do casal, que é o elo fundamental de toda a estrutura familiar. O casamento, como sacramento, representa o compromisso de amor, respeito e fidelidade, que serve de base para o fortalecimento das relações entre os membros da família.

Assim como a Sagrada Família, a família cristã católica é chamada a ser um testemunho de vida, vivendo de acordo com os ensinamentos da Palavra de Deus. Não são necessárias grandes coisas para ser discípulo de Jesus, na família. Quando o marido é um bom esposo e pai, a esposa é uma boa mãe, e os filhos formam um elo de unidade e cumplicidade, a família se torna uma verdadeira expressão do amor divino. O mundo precisa disso.

Nas Sagradas Escrituras, desde o livro do Gênesis, somos chamados a compreender o papel do homem e da mulher como complementares. Ambos devem estar preparados, curados e equilibrados para um relacionamento saudável. Claro, ninguém é perfeito! Não devemos esperar a perfeição para nos entregarmos ao matrimônio. Precisamos pedir a Deus: "Senhor, quero estar curado para entrar em um relacionamento."

Deus tirou a carne da carne, não devemos cair na teoria de que a mulher é inferior, porque foi criada posteriormente. O Gênesis revela a igualdade entre Adão e Eva, mostrando que, na criação, nada era completo até que ambos se unissem, sendo imagem e semelhança de Deus. Parece que isso se perdeu ao longo do tempo.

Muitas pessoas têm medo de casar-se por carregar o estigma de que o casamento será infeliz. Elas já não acreditam mais na felicidade a dois e pensam que é melhor ser solteiro, "ficante", ter relacionamentos passageiros, namoros aqui e ali, do que assumir um compromisso. Contudo, casamento dá trabalho, família dá trabalho, ser padre dá trabalho, ser celibatário também exige esforço. Mas a grande questão é: o que queremos para nossa vida? Lembremos de uma coisa: está na essência do ser humano o desejo de amar. A solidão não faz parte da nossa natureza.

Quando tentam pegar Jesus de forma sorrateira, como é descrito no Evangelho (cf. Mc 10, 2-12), perguntando sobre o casamento, ele explica: "No começo, não era assim". Moisés já havia dado um passo importante em defesa do casamento, pois, antes dele, as pessoas se divorciavam por qualquer motivo. Se o marido não gostasse da expressão 'azeda' de sua esposa ao acordar, ele se divorciava.

Moisés então deu um passo, protegendo as mulheres, dizendo que não seria aceitável o divórcio por qualquer razão. Era necessário, então, escrever uma carta explicando o motivo. Mas Jesus vai além e diz: "no início, Deus não queria o divórcio". Ele remonta à essência do Gênesis, quando o homem e a mulher se tornam uma só carne. Por isso, a preservação da família é tão importante.

A Igreja tem como missão dar suporte emocional aos casais, para que não cheguem ao extremo do divórcio. Não se trata de insistir em um discurso de condenação ("é pecado, é pecado"), mas sim de incentivar os casais a se nutrirem de Deus, do perdão e dos valores cristãos, pois assim a família permanecerá unida. Porém, quando os casais se afastam de Deus, se fecham ao diálogo e não praticam o perdão, a separação se torna inevitável.

Deus, desde o início, criou o homem e a mulher para a felicidade. É possível ser feliz no matrimônio. O casamento é uma bênção, e os filhos são dons de Deus. Envelhecer juntos não é apenas romantismo, mas uma decisão diária de amar, de ser resiliente nas dificuldades, de perdoar os erros do cônjuge e de valorizar mais as qualidades do que os defeitos. Também é essencial abandonar a comparação com os estereótipos de beleza.

Cada pessoa tem sua própria beleza. A comparação nunca traz benefícios. Decidir amar todos os dias, vendo as rugas aparecerem e as fragilidades surgirem, é escolher amar verdadeiramente aquele com quem você decidiu envelhecer lado a lado.

Que a Sagrada Família de Nazaré, abençoe todas as famílias!

(*) Fundador e presidente da Associação Evangelizar é Preciso e pároco reitor do Santuário Nossa Senhora de Guadalupe, em Curitiba (PR).

Fonte: O Povo, de 22/02/2025. Opinião. p.18.

Manda prender a IA

Por Rev. Munguba Jr. (*)

Em 1956, surge o embrião do conceito de Inteligência Artificial, mas foi apenas em 2022 que essa tecnologia começou a se popularizar, especialmente com o ChatGPT, uma das mais reconhecidas aplicações da Inteligência Artificial na atualidade.

Questionando o ChatGPT sobre a influência da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) nas ações humanitárias, recebemos como resposta uma sentença de morte cultural e geracional. Ele destaca diversos aspectos da atuação da Usaid em diferentes nações, visando a implantação da Agenda Woke, com o desígnio de destruir os valores conservadores da sociedade.

Revistas e jornais destacam ONGs como Sleeping Giants, Checagem de Fatos, o Centro Internacional de Jornalismo (ICFJ) e várias outras organizações progressistas, como beneficiárias de recursos para disseminar valores incompatíveis com os princípios judaico-cristãos.

O ministro Alexandre de Moraes tem imposto restrições à liberdade de todos os que possuem pensamentos dissidentes aos seus, especialmente quando essas pessoas exercem alguma influência. No entanto, ele ultrapassou os limites ao aplicar um poder desproporcional, condenando a 17 anos de prisão em regime fechado mulheres de sacristia, tias do WhatsApp com a Bíblia nas mãos, figuras anônimas e politicamente ingênuas.

Após o dia 20 de janeiro deste ano, a narrativa saiu do controle do "deep state". Donald Trump se tornou o primeiro presidente em exercício dos EUA a participar de uma final do Super Bowl, e foi incrível. No último domingo, 9 de fevereiro, ele foi ovacionado pela multidão no estádio. Israel celebra as notícias de um novo tempo para o Oriente Médio, enquanto a paz acena para várias partes do mundo.

A onda conservadora está sendo surfada por uma significativa maioria em todo o mundo, tendo como base o "Estado Mínimo" e, essencialmente, a defesa da liberdade para a iniciativa privada. Embora a pauta de costumes permaneça em segundo plano, o que realmente une aqueles que valorizam a liberdade é a pauta financeira: menos impostos, menos burocracia, menos regulamentação e menor interferência governamental.

Se uma democracia precisa de alguém para defendê-la, já não é uma verdadeira democracia. A democracia pressupõe a existência de leis claras que devem ser seguidas por todos, indistintamente. Ela não necessita de um defensor; se existe, é porque esse 'defensor' se tornou, na verdade, um ditador, suprimindo qualquer vestígio de caráter democrático.

A Bíblia nos diz: "Aquele que não trabalha, também não coma." E nos lembra: "A benção do Senhor é que enriquece e não acrescenta dores."

Acho que "alguém" precisa mandar prender a IA.

(*) Pastor Munguba Jr. Embaixador Cristão da Oração da Madrugada e Erradicação da Pobreza no Brasil e presidente da Igreja Batista Seven Church.

Fonte: O Povo, 15/02/2025. Opinião. p.18.


sábado, 5 de abril de 2025

JACKSON SAMPAIO: o professor e médico que transita entre a ciência e a sensibilidade IV

Por Lara Vieira, texto Fabio Lima, foto

O POVO - No pós-Covid, qual foi a Uece e a reitoria que o senhor encontrou?

Jackson Sampaio - Observei uma convivência muito boa entre alunos e professores, especialmente na pesquisa. A universidade, mesmo com dificuldades, sobrevive, muitas vezes, apesar da gestão. Houve uma reitoria interina, porque eu não pude mais participar do processo eleitoral de um novo reitor. Quando chegou o momento da eleição, o novo reitor foi o meu vice por oito anos. Então, eu me senti muito à vontade na universidade em geral.

Era um ambiente que recuperou muito do que eu estava fazendo, também muito da herança deixada pelos ex-reitores Manassés (Fonteles) e (Assis) Araripe. Mas havia dois candidatos que queriam justamente essa ruptura. Eles sabiam que, se o Hidelbrando [atual reitor] ganhasse, ele levaria essa herança consigo.

Então, eles entraram com uma manifestação no Tribunal de Contas do Estado (TCE), alegando corrupção. Se houvesse algum problema nas minhas contas, tanto eu quanto meu vice, que era o Hidelbrando, seríamos responsabilizados, o que ajudaria na vitória deles.

Eu, mesmo debilitado me recuperando em casa, entrei em ação. Contatei o TCE e conseguimos agilizar a análise das minhas contas. Hoje tenho seis anos de contas analisadas. Até o momento, a denúncia não resultou em nada. O ambiente também tem seus lados tóxicos, suas pontas negativas. Isso foi uma ação absolutamente antidemocrática.

O POVO - Muitos jovens hoje questionam o valor do ensino superior, principalmente pela dificuldade de conseguir emprego após a graduação. Como você enxerga essa situação?

Jackson Sampaio - Um ponto a se entender é que a universidade é um local de produção de conhecimento, não apenas como um passaporte para conseguir um emprego. Quando a universidade é vista apenas como uma preparação para o emprego e o aluno não consegue entrar nesse mercado, isso não é um fracasso da universidade, mas sim de um modelo econômico que não valoriza a formação acadêmica.

Na sociedade capitalista, o trabalho muitas vezes exige três coisas: dinheiro, satisfação pessoal e segurança. Porém, poucos setores oferecem essas três coisas. O mercado fragmenta isso para evitar que as pessoas sejam autossuficientes, criando uma individualidade que dificulta a luta coletiva, como a sindicalista.

A universidade é um lugar de produção de conhecimento, amadurecimento intelectual e cidadania plena, que, por acaso, também pode proporcionar entrar no mercado de trabalho. No entanto, se o mercado não valoriza a educação superior e prefere pagar mais barato para profissionais com formação técnica, a universidade enfrenta um desafio. Mesmo assim, ela deve manter seu compromisso com a formação acadêmica e cidadã.

SBPC/ Expansão

Em 2005, Jackson Sampaio, na época diretor do Centro de Ciências da Saúde (CCS), foi responsável por trazer para a Uece a 57ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A realização do evento impulsionou a expansão do campus Itaperi, com construções como da Reitoria e novos blocos

Covid

Vítima da Covid, o professor Jackson Sampaio enfrentou o período dramático. Chegou a ter alucinações, experiência que ele transformou em estudo científico. Foi uma forma de ressignificar o sofrimento, inclusive através da poesia. “Mas eu disse a mim mesmo que não queria que minha poesia fosse um canto fúnebre”, conta

Atuante/ Pós-graduação

Mesmo aposentado, Jackson Sampaio segue atuando no Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva (PPSAC) e Grupo de Pesquisa Vida e Trabalho (GPVT) da Universidade Estadual do Ceará (Uece)

Literatura

Também foi um dos escritores que integravam o grupo Siriará, movimento levantado na década de 1970 e que reuniu alguns dos grandes nomes da Literatura Cearense da década de 1980.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 24/03/25. Páginas Azuis. p.4-5.

JACKSON SAMPAIO: o professor e médico que transita entre a ciência e a sensibilidade III

Por Lara Vieira, texto Fabio Lima, foto

O POVO - A respeito de seu período como gestor na Uece, há algum projeto que o senhor considere um "filho favorito"?

Jackson Sampaio - Eu sempre tive a consciência de que boa parte do que realizei foi dar continuidade a projetos iniciados por outros. A produção no serviço público é contínua. Claro, tenho projetos que considero especiais, como o Mestrado em Saúde Pública. Ele foi o quarto mestrado da Uece e, com um ano de criado, foi o primeiro a ser recomendado pela Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior].

Como Pró-Reitor, também iniciamos uma política de formação de professores e decidimos criar um doutorado em Saúde Pública. Para isso, fizemos uma parceria com o Unifor e a UFC, que também tinham mestrados na área. Como nenhum dos três mestrados alcançava a nota 4 individualmente, optamos por uma colaboração para viabilizar o doutorado de forma mais rápida.

O doutorado tinha dois objetivos principais: antecipar em pelo menos oito anos a formação de doutores em Saúde Coletiva no Ceará e fortalecer os mestrados para que cada instituição pudesse, no futuro, criar seu próprio programa. E a estratégia foi bem-sucedida, acelerando a formação de doutores e permitindo que as três universidades desenvolvessem seus próprios doutorados.

O POVO - Durante a pandemia de Covid-19, o senhor enfrentou uma experiência pessoal grave com a doença. Como foi isso?

Jackson Sampaio - Em 2020, eu estava na gestão da universidade e iria terminar meu mandato em 22 de maio. O governo do Ceará emitiu um decreto com o isolamento social e a adoção do trabalho remoto em 16 de março. Eu precisei suspender o processo eleitoral que já estava em andamento.

No dia 22 de abril, fui internado. O tempo de UTI foi de 30 dias, dos quais 20 dias intubado. Após mais uma semana sem intubação na UTI, fui transferido para um leito hospitalar, onde permaneci por três semanas. Ao todo, fiquei 76 dias alimentado por sonda nasal enteral, o que "aposentou" meu estômago nesses dias. A intubação também afetou a traqueoplastia, porque eu respirava artificialmente.

O capacete Elmo ainda não havia sido criado. Afinal, fui um paciente da “primeira leva” da Covid. Quando voltei para casa, precisei de dois meses e meio de atendimento domiciliar. Foi quando iniciei a batalha para ganhar peso, algo sempre difícil para mim, especialmente com a idade e as condições impostas pela pandemia. Até hoje, consegui recuperar 19 dos 25 quilos perdidos.

Após a internação, pedi meu prontuário médico, que tinha mais de 2.800 páginas. Nele, vi que tomei mais de 20 remédios diferentes, incluindo três psiquiátricos, pois os sensores indicavam que eu estava alucinando ou delirando. Fiquei irritado por terem me dado esses medicamentos, pois eu queria ter alucinado de maneira mais livre.

O POVO - Em algum momento do pós-doença o senhor ressignificou o que passou?

Jackson Sampaio - Durante o atendimento domiciliar, vi uma psicóloga algumas vezes e comecei a falar sobre as alucinações, anotando tudo. Sem perceber, estava criando um estudo de caso sobre mim mesmo e decidi escrevê-lo como um estudo científico.

Esse já foi um processo de ressignificação. Pensei: "A Covid vai me dar, pelo menos, um ponto no currículo." Hoje eu fico muito feliz com ele.

Recentemente, reli e fiquei emocionado, porque fui eu quem viveu essa história. Eu estou o tempo todo ressignificando essa história também na poesia. Mas eu disse a mim mesmo que não queria que minha poesia fosse um canto fúnebre.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 24/03/25. Páginas Azuis. p.4-5.


JACKSON SAMPAIO: o professor e médico que transita entre a ciência e a sensibilidade II

Por Lara Vieira, texto Fabio Lima, foto

O POVO - O senhor morou um tempo no Rio de Janeiro, quando ingressou na militância do Movimento Brasileiro de Reforma Psiquiátrica e também de Reforma Sanitária. Como foi isso?

Jackson Sampaio - Eu já estava formado há quase 10 anos quando eu percebi que não queria mais continuar apenas no serviço hospitalar. Era o momento de voltar ao que mais gostava: estudar.

Minha esposa e eu pegamos nossos três filhos e decidimos: "Vamos para o Rio de Janeiro fazer mestrado!" Na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), participei do Movimento Brasileiro de Reforma Sanitária e também fui convidado a presidir a Sociedade Brasileira de Neurologia e Psiquiatria.

Atuei pelo Instituto de Medicina Social da Uerj e no Hospital Psiquiátrico Pedro II, onde fui diretor de uma unidade e integrei o hospital a um projeto da Organização Pan-Americana de Saúde, focado em testar modelos de reforma psiquiátrica. Então, eu fui para a 8ª Conferência Nacional de Saúde como delegado, onde trabalhamos na modelagem do Sistema Único de Saúde. Depois, seguimos para a luta para incluir o SUS na Constituição de 1988.

No entanto, a Constituição não estabeleceu o SUS diretamente como lei autoaplicável; era necessário criar uma lei orgânica para regulamentá-lo. A batalha para aprovar essa lei foi intensa, e ela acabou sendo aprovada em 1990. No entanto, quando a lei foi sancionada, o então presidente Fernando Collor de Mello impôs uma série de vetos, principalmente nos mecanismos de controle social e participação popular.

Quando Collor foi afastado, Itamar Franco assumiu a presidência e, por meio de negociações, grande parte dos vetos de Collor foi revertida. A Lei Orgânica da Saúde foi aprovada em dezembro de 1990, mas como o orçamento da União para 1991 já havia sido aprovado sem a inclusão do SUS, não foi possível implementá-lo imediatamente. Começou, então, uma nova luta para incluir o SUS no orçamento da União, o que só foi conquistado em 1992.

"A universidade é um lugar de produção de conhecimento, amadurecimento intelectual e cidadania plena, que, por acaso, também pode proporcionar entrar no mercado de trabalho".

O POVO - O SUS que o senhor sonhava naquela época corresponde ao que temos hoje?

Jackson Sampaio - O SUS que temos hoje é um grande avanço, mas ainda distante do que sonhávamos na 8ª Conferência Nacional de Saúde. Naquele momento, queríamos revolucionar o modelo vigente e inverter a lógica existente, colocando a atenção primária como ponto de partida e não como algo secundário ou marginal. A ideia era que a atenção primária fosse capaz de resolver pelo menos 70% dos problemas de saúde da população, enquanto os demais 30% seriam encaminhados para a atenção secundária [ambulatórios especializados] ou terciária [hospitais].

No entanto, no meio do caminho, o avanço do neoliberalismo se manifesta na terceirização e precarização dos contratos de trabalho. O poder público passou a contratar cooperativas médicas, empresas terceirizadas e profissionais como pessoa jurídica (PJ), com contratos temporários de seis meses a um ano. Esse modelo compromete a qualidade da assistência e fragiliza os trabalhadores do setor.

Além disso, um dos desafios que enfrentamos é a judicialização da saúde. Muitas pessoas, especialmente das classes médias urbanas, começaram a contratar advogados para garantir na Justiça o acesso a medicamentos caros, muitas vezes recém-lançados e com eficácia questionável. O problema é que, em cidades pequenas, um único tratamento judicializado pode consumir grande parte do orçamento da saúde pública. Ainda assim, hoje o SUS é fundamental para o Brasil. Se ele não existisse, o que teria sido de nós durante a pandemia da Covid-19?

O POVO - E quais os impactos desse modelo atual nos tratamentos da saúde mental?

Jackson Sampaio - É extremamente prejudicial. A elaboração de um projeto terapêutico para um grupo de pacientes pode levar, no mínimo, um ano e meio. Mas como liderar um projeto terapêutico com profissionais com contratos de trabalho de apenas um ano, sem garantia de renovação, comprometendo a continuidade do tratamento?

Desde 1985, com mais de 40 ministros da saúde, a descontinuidade das políticas públicas tem sido um grande desafio. O SUS foi projetado de forma progressiva, mas na prática, a implantação foi desorganizada. Em Fortaleza, por exemplo, a cidade, com 2,5 milhões de habitantes, deveria ter 25 Caps, mas conta com apenas 16, sobrecarregando as equipes e com estruturas inadequadas.

Em grandes metrópoles como Fortaleza, o SUS enfrenta sérias dificuldades, enquanto em cidades médias o sistema até funciona melhor. Além disso, a realidade demográfica exige soluções regionais diferenciadas, como no Amazonas, onde o acesso ao SUS é muito mais difícil.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 24/03/25. Páginas Azuis. p.4-5.


 

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