Meraldo
Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
O verbete
'racionalidade' significa particularidade ou característica do que é racional;
qualidade daquilo que se baseia na razão; que se encontra em conformidade com a
razão; compreensível logicamente; capacidade de raciocinar ou de praticar a
própria razão. Tendência para entender (compreender) os fatos ou ideias tendo
em conta a razão.
Esse tipo
de racionalidade, não poucas vezes, rouba do Homem a sua Humanidade. Basta
olhar a queima do piloto jordaniano executado pelo estado islâmico para
constatar o quanto permanece do legado nazista e stalinista, para ficar apenas
nesses dois, nesta tal de pós-modernidade. Como rabinos, padres, sacerdotes e
ideólogos, sem falar nos teólogos, jamais conseguiram transmitir a mim o
tesouro da natureza bíblica, socorro-me do filósofo Zigmund Baumman, o tal do
Mundo Líquido. Conta ele, no livro ainda muito atual ‘Modernidade e
Holocausto’:
Um santo sábio topou com um
mendigo quando viajava com um jumento carregado de sacos de comida. O mendigo
pediu algo para comer. Espere, exclamou o sábio. Primeiro tenho que desamarrar os sacos... O
mendigo morreu de fome. Então o sábio
começou a rezar ou orar: “Castigue-me Senhor por não ter salvado a vida do meu
próximo”.
Isso me
lembra do que está acontecendo com o tal de combate ao terrorismo. Não será
pela excelência de serviços secretos, forças de segurança ou armadas,
movimentos midiáticos, marchas parisienses, que iremos combatê-lo. O problema
não está no islamismo ou em qualquer vingança ou luta por territórios ou
nacionalismo. Nem (muito menos) no preconceito anti-judaico ou no outro, que
leva em consideração a concentração de melanina cutânea. Melanina, para
lembrar, é a proteína responsável pela cor da pele. Todas essas mobilizações
serão inúteis ou de efeito contrário.
Governantes
e regimes, por mais cruéis que sejam, são defensores dessa racionalidade
dicionarizada – e através dela induzem a população ou boa parte dela a desrespeitar
a “lei e a ordem”, enquanto apelam à razão, louvam as virtudes dos cálculos de
custos e resultados, defendem a lógica e o conceito de que o Homem é bom. Essa
é a racionalidade... oficial.
Dentro dos
padrões atuais, a razão passa a ser inimiga da moralidade e tende a reduzir a
vida humana à simples autopreservação.
Somos
dominados pelas necessidades da nossa espécie; o que vale é a sobrevivência
própria e da espécie. O resto, a solução
efetivamente racional, cada um que aquilate por si. As razões não são
individuais? Em jargão jornalístico o teor desta croniqueta/opinião a faz ser
apelidada de “chutar o balde”.
Para
terminar, juro que não sei qual seria a solução.
Quem
souber, por favor, me diga.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
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