sexta-feira, 9 de outubro de 2015

RACIONALIDADE DICIONARIZADA


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
O verbete 'racionalidade' significa particularidade ou característica do que é racional; qualidade daquilo que se baseia na razão; que se encontra em conformidade com a razão; compreensível logicamente; capacidade de raciocinar ou de praticar a própria razão. Tendência para entender (compreender) os fatos ou ideias tendo em conta a razão.
Esse tipo de racionalidade, não poucas vezes, rouba do Homem a sua Humanidade. Basta olhar a queima do piloto jordaniano executado pelo estado islâmico para constatar o quanto permanece do legado nazista e stalinista, para ficar apenas nesses dois, nesta tal de pós-modernidade. Como rabinos, padres, sacerdotes e ideólogos, sem falar nos teólogos, jamais conseguiram transmitir a mim o tesouro da natureza bíblica, socorro-me do filósofo Zigmund Baumman, o tal do Mundo Líquido. Conta ele, no livro ainda muito atual ‘Modernidade e Holocausto’:
Um santo sábio topou com um mendigo quando viajava com um jumento carregado de sacos de comida. O mendigo pediu algo para comer. Espere, exclamou o sábio.  Primeiro tenho que desamarrar os sacos... O mendigo morreu de fome.  Então o sábio começou a rezar ou orar: “Castigue-me Senhor por não ter salvado a vida do meu próximo”.
Isso me lembra do que está acontecendo com o tal de combate ao terrorismo. Não será pela excelência de serviços secretos, forças de segurança ou armadas, movimentos midiáticos, marchas parisienses, que iremos combatê-lo. O problema não está no islamismo ou em qualquer vingança ou luta por territórios ou nacionalismo. Nem (muito menos) no preconceito anti-judaico ou no outro, que leva em consideração a concentração de melanina cutânea. Melanina, para lembrar, é a proteína responsável pela cor da pele. Todas essas mobilizações serão inúteis ou de efeito contrário.
Governantes e regimes, por mais cruéis que sejam, são defensores dessa racionalidade dicionarizada – e através dela induzem a população ou boa parte dela a desrespeitar a “lei e a ordem”, enquanto apelam à razão, louvam as virtudes dos cálculos de custos e resultados, defendem a lógica e o conceito de que o Homem é bom. Essa é a racionalidade... oficial.
Dentro dos padrões atuais, a razão passa a ser inimiga da moralidade e tende a reduzir a vida humana à simples autopreservação.
Somos dominados pelas necessidades da nossa espécie; o que vale é a sobrevivência própria e da espécie.  O resto, a solução efetivamente racional, cada um que aquilate por si. As razões não são individuais? Em jargão jornalístico o teor desta croniqueta/opinião a faz ser apelidada de “chutar o balde”.
Para terminar, juro que não sei qual seria a solução.
Quem souber, por favor, me diga.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

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