domingo, 4 de outubro de 2015

SÃO FRANCISCO, figura ecológica e atemporal


Por Frei Gilberto Siqueira Alves (*)
"Para São Francisco, não teria sentido cuidar dos irmãos e irmãs na fé se não fosse zeloso com a natureza"
Ecologia quer dizer o estudo ou cuidado da casa, nosso habitat. Os santos são profetas que romperam a inércia através da metanoia, ou seja, mudança de mentalidade traduzida em atitudes evangélicas, espirituais, afetivas e sociais. O chamado de Deus em seus corações foi maior do que as utopias pessoais. São Francisco pensava em ser cavaleiro, era a maior honraria de seu tempo. Ele foi lapidado à luz das transformações da cidade de Assis, na Itália, do século XIII.
Personificou com brava virtude as palavras do crucifixo de São Damião - “Francisco, não vês que minha casa está ameaçando ruir? Corre e trata de repará-la” (LARRAÑAGA, Inácio. O Irmão de Assis. Paulinas, 1989, p. 59-60). São Francisco interpretou literalmente.
Saiu restaurando prédios de igrejas em declínio. Deus queria que ele reconstruísse a Igreja a partir dos religiosos, pois havia um descompasso gritante que ia de encontro ao Evangelho que é norma normata do Divino Salvador! Não é à toa que é admirado também pelos não crentes, pois a linguagem do bem é universal. Uníssonos peçamos ao Pai Francisco que nos ajude a ressignificar nossa insensibilidade à Palavra de Deus escrita na criação!
Para São Francisco, não teria sentido cuidar dos irmãos e irmãs na fé se não fosse zeloso com a natureza; “a conversão de Francisco é bem mais do que uma simples mudança espiritual, é uma escolha de vida social” (MANSELLI, Raoul. São Francisco. Vozes, 1980, p. 68).
Francisco agradeceu ao Deus Criador a partir da composição do Cântico das Criaturas, em singular inspiração poética: “[...] Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água, que é muito útil e humilde e preciosa e casta [...]” (Fontes Franciscanas e Clariana. Vozes, 2004, p. 104-105). O referido Cântico desperta-nos o cuidado com o planeta Terra, casa de subsistência da nossa e das futuras gerações.
A exploração não tem limites: poluição dos lençóis freáticos, ganância para com as riquezas minerais e o desrespeito à dignidade e sacralidade da vida humana. Em muitos países, cresce o número das vítimas de catástrofes ambientais. Seria o planeta Terra pedindo um basta na maneira com a qual o ser humano o explora? O cuidado responsável com a mãe terra, presente de Deus, é questão de sobrevivência. Agindo de maneira inconsequente o que deixaremos para as futuras gerações?
Em nossa contemporaneidade, a Igreja nos prestigiou com a eleição do papa Francisco, cujo nome não é aleatório. Sinaliza um novo projeto de pontificado a partir de novos ares com repercussões na práxis pastoral e de rosto samaritano. Em boa hora chegou a Laudato Si sobre o cuidado da casa comum. “As previsões catastróficas já não se podem olhar com desprezo e ironia. Às próximas gerações, poderíamos deixar demasiadas ruínas, desertos e lixo. O ritmo de consumo, desperdício e alteração do meio ambiente superou de tal maneira as possibilidades do planeta [...]”.
Há esperança, “o movimento ecológico mundial já percorreu um longo caminho, enriquecido pelo esforço de muitas organizações da sociedade civil” (FRANCISCO. Laudato Si. Paulus, 2015, n. 161 e 166). Os ambientalistas agradeceram a voz do papa Francisco que chamou atenção da humanidade para ouvir os apelos do planeta Terra!
Passados oito séculos da existência de São Francisco, a causa que ele defendeu torna-se questão de sobrevivência para nós e futuras gerações.
(*) Frade capuchinho. Vigário na Paróquia São Benedito, Arquidiocese de Teresina (PI).
Fonte: O Povo, de 4/10/2015. Espiritualidade. p.31.

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